Hoje é o Dia Internacional do Burro. Como quem
diz, do meu Silvano. Nem sei bem o que lhe hei-de dar como prenda. Ou melhor,
até sei mas estou com grandes dificuldades. Ele quer uma namorada, mas as
dificuldades são mais que muitas. Desde que o país se tornou inteligente os
burros, e as burras, partiram para longe. Tanto quanto sabemos, eu e o meu
jumento, já só restam cerca de 800 cá na terra à beira-mar plantada. Ora isto
de só haver gente esperta em Portugal pode ser uma tragédia de dimensão
assustadora. É simplesmente dramático. Se só os asnos trabalham, se só os
burros pagam impostos, se só os sem inteligência cá permanecem e aceitam o
cabresto do Governo para serem escravizados como é que o Estado pode
progredir? Porque, convenhamos, é muito mais difícil de manipular os sagazes.
Como é que se intruja um gajo de olho-vivo? Pois! Aí é que o meu asnático bate
uma! Perante este desastre existencial é mais que evidente que o meu Silvano é
o primeiro a amargar. E se sofre, coitado! Ó égua! Salvo seja! Ó burra! Como é
que ele se safa lá com as suas hormonas? Desgraçado sem graça! Até já lhe
comprei um computador e tenho andado a ensinar-lhe a mexer na coisa para ver
se, através de um site de encontros, consegue arranjar uma companheira no
estrangeiro. Mas ele, mesmo assim, anda ensimesmado. Diz, ou melhor urra, que
não sabe inglês. E eu, que por acaso sinto a sua dor como se fosse minha, lá
lhe vou dizendo que tenha calma que ensino, mas ele remata logo que “burro velho não aprende línguas”. Às
vezes, palavra de honra, até me apetece partir com ele para Miranda do Douro,
que é onde existe uma colónia dos menos dotados. Até já lhe falei nisso mas o
meu asinino é um sentimental, diz logo que os seus amigos, outrora burros e
agora espertalhaços, estão cá, na cidade. Apesar de eu lhe dizer que eles agora
já não lhe ligam porque enfiaram uma fatiota de burros-espertos, o meu Silvano
não liga às minhas teorias migratórias. O que me custa mesmo é que o meu burro
não ri. Sei lá, se calhar anda deprimido. Bem, nem me admira, se os humanos cá
no rectângulo sofrem de angústia permanente tão como o inverno leva com a
chuva, como é que ele pode estar e andar de cabeça fresca e arejada?
O meu Silvano, apesar de ser burro,
é muito inteligente. Até já lhe tenho dito para se candidatar, nas próximas
eleições a Belém, a Presidente da República. Tenho para mim que um burro numa
Nação de inteligentes, para além da marca diferencial na raça, tem largas
hipóteses de ganhar o pleito de sufrágio. Mas ele, olhando para mim com olhos
de burro em vias de extinção, parece fazer de mim parvo e eu, que até confesso
ser, fico sem argumentação.
A vida de burro está mesmo muito difícil!
A vida de burro está mesmo muito difícil!
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