(Imagem da Web)
Passa pouco das 23h00 nesta quinta-feira, dia
da serenata no Largo da Sé Velha e que marca o tiro de partida para a semana da
Queima das Fitas. A Praça 8 de Maio e ruas largas, da calçada, estão forradas a
negro pelas centenas de estudantes trajados de capa e batina e parecem nem dar
conta da chuva miudinha que os borrifa e tenta, a alguns, dar-lhe uma sobriedade
perdida no meio dos vapores etílicos. Volta e meia um “tinoni” de uma ambulância vai recolher um rapaz ou rapariga
porque nesta coisa do “emborcar” umas “bejecas”
as mulheres não se podem queixar de discriminação.
Ao cimo
das Escadas de Santiago e em frente ao Museu Municipal do Chiado, um atrelado
da Superbook em cada uma das
esquinas, a cerveja corre a rodos por entre goelas sequiosas. Uma jovem
estudante, num desequilíbrio precário a desafiar a lei da gravidade, cai e fica
com as suas cuecas de fio dental à mostra e para deleite de certos velhos como
eu.
Confesso, já escrevi tanto sobre
esta contradição que até já me aborreço a mim mesmo. Por um lado, as leis, como
diarreia somática, tentam afastar os jovens do álcool, aumentando a idade de acesso,
e, por outro, nestas festas académicas, de ano para ano, cada vez mais se
desenvolve o costume de aumentar a venda de bebidas alcoólicas nas ruas. Parece
que nestas alturas desaparecem as mais elementares normas que nos conduzem,
quer de conduta, quer da moral, quer de ética. Vale tudo. Começa logo, por
exemplo, por um lado, no licenciamento destes barracos de venda de cerveja e a
fazer concorrência directa aos estabelecimentos de hotelaria. Parece que, como
doutrina, há uma sujeição plena ao deus Baco e, como costume económico, o que
conta é fazer disparar os índices de cerveja vendida. Não importa por quem,
desde que se consumam milhares de litros. Por outro, a colocação dos carrinhos vermelhos
de venda de cerveja a copo junto a monumentos Nacionais classificados deveria
merecer um refrear no deixa-correr –a idiotice maior, parece-me, foi a colocação
de uma tenda em frente à catedral românica da Sé Velha. Até parece que os
estudantes de hoje são mais vulneráveis e não podem apanhar uma boa molha. Nas
décadas anteriores, quando chovia, como é que fazia? Alguém arredava pé? Há
modernices numa cidade recentemente classificada como Património Mundial, pela
Unesco, que só alguns entendem.
Como já é normal, e nem deveria causar
surpresa, a Baixa, nas ruas, ruelas e becos, hoje de manhã acordou com o chão
coberto de copos plásticos. É certo, e para contrabalançar, que, pelo menos
nesta primeira noite, não houve notícias de estragos, o que pode indiciar um
maior cuidado com os bens privados e públicos. Mas, calma, que ainda a
procissão vai no adro.
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