sexta-feira, 8 de maio de 2015

INOVAÇÕES À LA GARDERE

(Imagem da Web)


Passa pouco das 23h00 nesta quinta-feira, dia da serenata no Largo da Sé Velha e que marca o tiro de partida para a semana da Queima das Fitas. A Praça 8 de Maio e ruas largas, da calçada, estão forradas a negro pelas centenas de estudantes trajados de capa e batina e parecem nem dar conta da chuva miudinha que os borrifa e tenta, a alguns, dar-lhe uma sobriedade perdida no meio dos vapores etílicos. Volta e meia um “tinoni” de uma ambulância vai recolher um rapaz ou rapariga porque nesta coisa do “emborcar” umas “bejecas” as mulheres não se podem queixar de discriminação.
 Ao cimo das Escadas de Santiago e em frente ao Museu Municipal do Chiado, um atrelado da Superbook em cada uma das esquinas, a cerveja corre a rodos por entre goelas sequiosas. Uma jovem estudante, num desequilíbrio precário a desafiar a lei da gravidade, cai e fica com as suas cuecas de fio dental à mostra e para deleite de certos velhos como eu.
Confesso, já escrevi tanto sobre esta contradição que até já me aborreço a mim mesmo. Por um lado, as leis, como diarreia somática, tentam afastar os jovens do álcool, aumentando a idade de acesso, e, por outro, nestas festas académicas, de ano para ano, cada vez mais se desenvolve o costume de aumentar a venda de bebidas alcoólicas nas ruas. Parece que nestas alturas desaparecem as mais elementares normas que nos conduzem, quer de conduta, quer da moral, quer de ética. Vale tudo. Começa logo, por exemplo, por um lado, no licenciamento destes barracos de venda de cerveja e a fazer concorrência directa aos estabelecimentos de hotelaria. Parece que, como doutrina, há uma sujeição plena ao deus Baco e, como costume económico, o que conta é fazer disparar os índices de cerveja vendida. Não importa por quem, desde que se consumam milhares de litros. Por outro, a colocação dos carrinhos vermelhos de venda de cerveja a copo junto a monumentos Nacionais classificados deveria merecer um refrear no deixa-correr –a idiotice maior, parece-me, foi a colocação de uma tenda em frente à catedral românica da Sé Velha. Até parece que os estudantes de hoje são mais vulneráveis e não podem apanhar uma boa molha. Nas décadas anteriores, quando chovia, como é que fazia? Alguém arredava pé? Há modernices numa cidade recentemente classificada como Património Mundial, pela Unesco, que só alguns entendem.
Como já é normal, e nem deveria causar surpresa, a Baixa, nas ruas, ruelas e becos, hoje de manhã acordou com o chão coberto de copos plásticos. É certo, e para contrabalançar, que, pelo menos nesta primeira noite, não houve notícias de estragos, o que pode indiciar um maior cuidado com os bens privados e públicos. Mas, calma, que ainda a procissão vai no adro.



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