Passos Coelho, Primeiro-ministro de Portugal,
inaugurou nesta última quinta-feira uma queijaria em Aguiar da Beira. Na assistência
um homem demasiadamente conhecido pelos portugueses, Manuel Dias Loureiro,
natural da terra onde discursava Passos, agora empresário de sucesso. Anteriormente advogado em Coimbra desde 1978 e durante
muitos anos, ministro da República nos dois últimos governos de Cavaco Silva,
enquanto primeiro-ministro do país. Mas o ser conhecido
pelos portugueses não vêm do facto de ser um empresário bem-sucedido em
Portugal e Cabo Verde, advém de, alegadamente e segundo a Esquerda.Net ligada ao Bloco de Esquerda, ser um dos
principais responsáveis do BPN, que teria causado aos portugueses um prejuízo
acima dos 4.700 milhões de euros e, pelo menos até agora e tanto quanto se sabe,
não indiciado pela justiça. Segundo os jornais, Passos Coelho, dando pelo
ex-ministro à sua frente, desatou a elogiar a sua capacidade e disse o
seguinte: “Conheceu mundo, é um
empresário bem-sucedido, viu muitas coisas por este mundo fora e sabe, como
algumas pessoas em Portugal sabem também, que se nós queremos vencer na vida,
se queremos ter uma economia desenvolvida, pujante, temos de ser exigentes, metódicos.
Concluiu ainda, “cada dinheiro que é
aplicado tem de render o suficiente para pagar a quem investiu, a quem forneceu
esse financiamento, a todos aqueles que participam no processo produtivo”.
Ora, fazendo perguntas, comecemos pelos
portugueses. Devido ao escândalo BPN-BPP, o Governo chamou ao Estado as
chamadas imparidades daquele banco privado e, subindo desmesuradamente os
impostos, indirectamente fê-las repercutir nos cidadãos. Como teriam percebido
os nacionais que, nos últimos anos, em resultado de um esbulho fiscal para
compensar o crédito mal-parado dos bancos levou à perda de emprego e consequente
diminuição de rendimentos, viram as suas vidas viradas de avesso? Lembro que
milhares de nacionais perderam as suas casas, os seus carros, as suas famílias –é
preciso dizer que, provavelmente, muitas das mortes ocasionadas em cenário de
violência doméstica resultam da desagregação das famílias por causa da falta de
meios mínimos de sobrevivência. Nestes últimos oito anos, centenas, senão
milhares, de suicídios tiveram a sua razão directa na austeridade imposta pelo
anterior governo de Sócrates e este agora de Passos Coelho.
Perante o encómio do chefe do
governo ao ex-ministro, como se teriam sentido? Petrificadas? Com ódio a este sistema sem
vergonha e que, pelo que se viu ali, representa o modelo contrário, a falência
total dos valores tal como os mais velhos os reconhecem? Sentiram-se vítimas de
estupro?
Do ponto de vista de análise, como é que se
pode entender este discurso do Primeiro-ministro? Bajulação ao homem-forte e
grande capitalista? Reconhecimento de alguém que anteriormente, a seu tempo, o
ajudou a tomar o poder? Inabilidade política e falta de estaleca do líder
governamental?
São perguntas que por agora ficam
sem resposta, mas os portugueses desta década não esquecem o que aconteceu e o
que, aos seus olhos, continua.
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