1-A noite passada, na Rua Ferreira Borges foram furtadas
duas grelhas rectangulares em ferro que servem de escoamento às águas pluviais.
Segundo um comerciante da mesma artéria que pediu o anonimato, “alegadamente isto foi obra da estudantada
que, nesta altura das festas académicas, faz o que lhe dá na real gana e
ninguém lhe põe cobro”.
Quem visitar e percorrer o Jardim da Sereia
corre o risco de se assustar com o grau de destruição patente em todo o
recinto. São estátuas em pedra amputadas com selvajaria, sem cabeça, sem braços,
sem pernas, sem pés; são vasos enormes cerceados completamente pela base e
outros pela metade que desapareceram; são azulejos, presumivelmente do século
XVIII, arrancados a esmo e manifestamente com recurso a martelo e a ponteiro.
Depois de ser todo restaurado durante um ano
por Victor Eliseu, o presépio de Cabral Antunes foi exposto em 2005, do lado de
fora da Câmara Municipal e a vinte metros da esquadra da Polícia de Segurança
Pública (PSP), em período de eleições e por ordem de Carlos Encarnação, na
altura, o pretor urbano da cidade. Nos meses de Dezembro dos anos seguintes, raro foi o Natal em
que não foi rebentada a caixa de esmolas e escassa foi a quadra em que as imagens
não foram vandalizadas. Em 2008, como que a provar que a pedofilia é muito mais
do que atracção física entre adultos e crianças e que também pode ser por uma figura
de bebé em barro, furtaram a imagem do Menino Jesus. Salienta-se que media
cerca de oitenta centímetros. Nunca apareceu. Quando se deveria combater esta
anormalidade com eficácia, cedeu-se ao vândalo costume criminoso e, fugindo,
colocaram-se as imagens gigantes dentro do hall
de entrada da autarquia. Em 2013, num gosto duvidoso e mais uma vez falta de
afirmação na luta contra o crime, o presépio passou a ser mostrado numa montra
do Museu do Chiado, na Rua Ferreira Borges. A sorte destes decisores é Cabral
Antunes estar impossibilitado por morte do próprio, caso contrário, ainda
atirava com os bonecos à cabeça desta gente.
Todos os anos, por altura da festa da Queima
das Fitas, são destruídos na cidade diversos bens económicos e furtados sinais
de trânsito e outros valores que custam aos privados e ao erário público
milhares de euros. A libertinagem veio para ficar. Perante esta devassidão social
a Universidade –que, indirectamente, é corresponsável- continua a fazer de
conta que não vê. O executivo actual da Câmara Municipal faz que não enxerga e pactua com o ridículo. Mais, para mostrar que é melhor
que os anteriores e para manietar uma certa esquerda alinhada pela manifestação
artística, esta semana, abriu o saco das moedas de ouro e distribui verbas “à la garder” para a cultura, mas não se
conhecem medidas para combater e remediar o vandalismo crescente na urbe.
Entretanto, por que a cultura é considerada erudita e só para alguns, a cidade
continua a assobiar para o ar e assiste sem um queixume. Que adultos esperamos destas crianças?
2- Ontem, com pompa e circunstância, a PSP comemorou 137 anos,
na Praça do Comércio, e recebeu no Salão Nobre a Medalha de Ouro da Cidade.
Segundo o Diário de Coimbra (DC), “O comandante distrital da PSP aproveitou as
comemorações do 137º aniversário do comando para destacar a “extrema necessidade de sensibilizar os
vários níveis de poder para as exigências que se colocam ao serviço policial e
para a necessidade de dotar este comando com condições para poder responder bem
aos desafios. Pedro Teles salientou que as condições passam pelo “reforço e
qualidade dos equipamentos” mas também “pela motivação do pessoal e a sua
valorização e por conferir uma maior “funcionalidade e dignidade” às
instalações de Coimbra (2ª Esquadra e Esquadra de Trânsito) e Figueira da Foz,
que “apresentam deficiências extremas, caracterizadas por uma profunda falta de
condições a todos os níveis”, alertou.”
Na mesma cerimónia Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal, e continuando a citar o DC, sublinhou a “conduta
cívica” que os agentes de autoridade manifestam sempre que são chamados a
actuar. A PSP tem contribuído para que Coimbra seja uma “cidade de paz”, o que estimula a visita e serve de impulso à
actividade económica.”
Com todo o respeito pelas declarações dos dois intervenientes,
cada um afirmou o que mais lhe convém e pode ser dito publicamente. Já há muito
tempo e sobretudo nos últimos anos, a meu ver, os sucessivos comandantes
distritais da PSP de Coimbra declaram apenas o que podem. Ou seja, não sendo políticos,
pela inerência do cargo, não são livres de dizer o que pensam e, por essa limitação,
acabam a fazer o jogo do poder. Talvez por isto mesmo perdoe a Pedro Teles a omissão
de não ter declarado que, passados quase um século e meio, a PSP, aos olhos dos
cidadãos, é uma corporação que tem vindo intencionalmente a ser ultrapassada
por outras forças e desvalorizada pelos sucessivos governos das últimas décadas.
A desmotivação desta polícia é uma evidência –isto foi aflorado por Pedro
Teles-, em completo prejuízo para as populações citadinas. Orientada por um
sistema judicial, enviesado e desequilibrado onde as leis são doutrinadas para
a poupança do Estado, mais preocupado com os direitos dos detidos do que das
vítimas e de quem arrisca a vida para salvaguardar pessoas e bens, o futuro
apresenta-se pouco risonho. Talvez se entenda porque liguei o aniversário desta
ordem policial ao vandalismo da cidade. Muitos parabéns à PSP e, sobretudo, a
todos os agentes que, colocando em risco a sua integridade, se esforçam por
manter a segurança.
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