O homem, em sentido lato, nasce com
necessidades. Mal dá o primeiro sopro, normalmente, este é acompanhado de um
berro, que simboliza o grito de vida e a vontade de viver mas também o
reivindicar carinho da mãe para se sentir seguro. Se por um lado o choro é
essencial para colocar em funcionamento os pulmões –já que este órgão é o único
que só começa a funcionar após o nascimento- por outro serve para o arranque do
sistema respiratório.
Desde cedo, e à medida que vai crescendo, as
precisões vão-se manifestando. Segundo Abraham Maslow, um psicólogo que estudou
as carências humanas, “o homem é motivado
segundo suas necessidades que se manifestam em graus de importância onde as
fisiológicas são as necessidades iniciais e as de realização pessoal são as
necessidades finais. Cada necessidade humana influencia na motivação e na
realização do indivíduo que o faz prosseguir para outras necessidades que
marcam uma pirâmide hierárquica”. As básicas serão então as Fisiológicas, como, por exemplo, comida,
sexo, excreção e respiração. Seguidas de Segurança,
constituída pela necessidade de estabilidade, protecção, contra a violência e
saúde, recursos financeiros. Depois vem as Sociais,
que, segundo Maslow, só surgirão após as necessidades de segurança serem
supridas. Como o nome indica, são necessidades sociais: amizades, socialização,
incluindo as redes sociais, aceitação em novos grupos, intimidade sexual e
outros. Seguindo a pirâmide de baixo para cima. Vem agora as necessidades de Estatuto e Estima. São formadas pelo lugar na sociedade, estima,
autoconfiança, reconhecimento e respeito pelos outros. E vem então, no vértice
da pirâmide hierárquica, a Auto-realização,
que não é mais do que o prestígio, a moralidade, a criatividade o sucesso, a
espontaneidade e o auto-desenvolvimento.
É com base nas necessidades Sociais, de Estatuto e Estima e Auto-realização,
que o homem –sendo o motor do desenvolvimento- perde a liberdade e se torna
escravo de si mesmo, da sua ambição. Numa nova escalada, entre o nascimento e a
morte, o humano, pela experiência empírica e desenvolvimento escolar, adquire
conhecimento formativo, que lhe vai permitir prepará-lo para vida, escolher uma
profissão e aceder ao social. Não sendo herdeiro abastado e não vivendo de
rendas, entra no mundo do trabalho e é com este rendimento que vai ser mais um
entre iguais, intermédio, ou diferente entre todos. Se pertencer ao mundo da
maioria o valor da sua prestação laboral é nivelado por baixo, pela oferta e
procura dos seus serviços –para exemplificar, uma empregada de limpeza, a
trabalhar por conta de uma empresa, ganha 2,80 € por hora. Se estiver nos
intermédios pode sonhar. Se fizer parte dos especiais, será remunerado em, pelo
menos, dois grupos: os talentosos de reconhecido mérito e os de ascensão
política meteórica por via familiar, de cunha e partidária. No primeiro grupo,
dos talentosos, por exemplo, para o futebol, estarão pessoas como Cristiano
Ronaldo, a auferir vários milhões por mês, e Cristina Ferreira e Manuel Goucha,
para a comunicação, com um salário de mais de 40 mil euros, na TVI. Neste grupo
de talentosos, pela raridade e porque são geradores de riqueza para quem os
contrata, a procura excede em muito a oferta. Se, em princípio e por uma
questão de moralidade e ética humanas, deveria haver um limite para a
assimetria entre o mínimo e o máximo é também certo que será difícil conter
esta diferença. Embora, parece-me que este cada vez maior descalabro não augura
nada de bom para o futuro da humanidade.
Por um lado, está de ver que uma
empregada de limpeza, que é remunerada com 2,80€ por hora, dificilmente poderá
almejar passar do segundo nível, de Segurança,
para os seguintes. Por outro, naturalmente, os intermédios, que auferem salário
médio, podem alcançar o pico do sucesso. O que quer dizer que o salário pode
constituir a alavancagem para a realização humana. Por aqui já se vê que, com a
desvalorização do trabalho para o operariado menos classificado, exercida na
última década, não só está a manietar a sociedade, mantendo-a presa, como a
evitar o avanço e o progresso do país. Segundo a OIT, Organização Internacional
do Trabalho, os trabalhadores precários recebem menos 40 por cento. Cerca de 35
por cento dos jovens, entre os 15 e 24 anos, não encontram trabalho.
Há um outro ponto que gostava de abordar: a
carência humana é sempre a mesma, independentemente das épocas, ou varia
consoante o nível de desenvolvimento societário? Ou seja, a pirâmide de Maslow,
no subir das necessidades, aplica-se sempre e do mesmo modo ao longo da
história moderna? Penso que não. Só se manterá inalterável o primeiro patamar,
o das necessidades físicas. Todos os outros entram no campo da psicologia e estarão
tão propensos à sua realização quanto à alteração dos hábitos e costumes
sociais. Curiosamente a entrega ao esforço laboral também varia de época para
época. Isto é, nem sempre será a necessidade que obriga a trabalhar mais para
alcançar um determinado estádio. Tudo depende dos factores. Veja-se, por
exemplo, o que acontecia no Estado Novo -1933-1974- em que se trabalhava muito
mais, de sol-a-sol, sem direito a férias, somente para preenchimento de necessidade
de sobrevivência, pessoal e familiar. Hoje, basta olhar à volta, verificamos a
mesma necessidade de sobrevivência mas, no entanto, não vemos a mesma
disponibilidade para o esforço do trabalho. E por quê? Poderemos interrogar.
Porque, por um lado, o Estado Social, através de subsídios públicos e apoios de
entidades particulares de solidariedade, veio garantir que, mesmo sem esforço,
qualquer um, pelo facto de ser cidadão, tem direito à sua existência. Claro que,
no reverso, é este mesmo Estado que, para compensar quem nada faz, castiga quem
trabalha ou tem algo de seu com impostos e taxas abusivas, de confisco, e que, como é lógico,
levam à desmotivação da criação de riqueza.
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