(Foto do Diária as Beiras -com a devida gentileza)
Segundo o Diário de Coimbra (DC) de hoje, “A Feira Cultural de Coimbra, que este ano
contará com 158 expositores, decorre entre 30 de Maio e 7 de junho, no Parque
Dr. Manuel Braga. Ao longo de nove dias a cidade terá um evento destinado a dar
a conhecer ao público as potencialidades do sector cultural e recreativo,
estimulando, por um lado, o trabalho individual dos produtores e promovendo,
por outro, o trabalho concertado daqueles promotores, por forma a complementar
e enriquecer a produção cultural e criativa, não só ao nível local como também
a nível regional e nacional.
A nova aposta na área da cultura e criatividade caracteriza-se por
abrir a feira à participação de empresas e associações ligadas à criação
cultural e oferta de conteúdos, como sublinhou o presidente da Câmara Municipal
de Coimbra na apresentação do evento. Manuel Machado explicou que a área do
livro contará com 47 expositores, sendo que sete alfarrabistas enriquecerão com
a sua presença o evento. (…) Também a área do artesanato conta com a presença
de 73 artesãos de todo o país (…). O orçamento deste ano, para o evento, anda à
volta dos 113 mil euros (…).”
Vamos por partes. A primeira crítica que faço
a esta realização já vem de há vários anos e desde o tempo da outra senhora, como quem diz do tempo de Encarnação, ex-presidente
da edilidade conimbricense. Por que se continua a realizar este certame no meio
do deserto quando deveria ser feito no centro da Baixa e aproveitado para
revitalizar esta zona? Porque não se faz na Praça do Comércio, ruas estreitas e
largas, becos e ruelas? Ou, por exemplo, dentro Mercado Municipal D. Pedro V? Ocupava
totalmente o espaço do Peixe, que é uma zona lindíssima para eventos. Para além
de não ser preciso montar bancas, servia também para recuperar aquela popular
praça. Os executivos camarários, mais propriamente o pelouro da Cultura, devem sofrer
de miopia e ter um problema mal resolvido contra o centro histórico –escrevo no
plural por que este problema já vem de longe. Se não sabem fazer, porque lhes
faltam ideias, juntem vários comerciantes numa mesa e ouçam o que estas pessoas
experienciadas têm para dizer.
Antes de outros reparos vou contar um pouco da
história da organização da Feira do Livro. Desde 2001, creio, desde o primeiro
mandato de Carlos Encarnação e com o falecido Mário Nunes como vereador da
Cultura, que a edilidade tinha um acordo com a Associação Arcádia para que esta
entidade organizasse o evento – a seguir, para aproveitar o espaço, dava lugar
ao artesanato. Começou a ser feito na Praça da República numa tenda gigante que
custava aos cofres do município cerca de 20 mil euros. Esta localização nunca
gerou unanimidade, nem para vendedores nem para compradores.
Em janeiro de 2012, já com a nova vereadora da Cultura, Maria José Azevedo, sem grandes explicações, a
Câmara Municipal denunciou a parceria com a Associação Arcádia –aventou-se que este
acordo custava aos cofres da Praça 8 de Maio uns milhares de euros. Por sua
vez, constava-se, a Arcádia cobrava 600 euros aos livreiros, por cada stande.
Sobre esta zanga pouco se soube a não ser as declarações de Mateus Barreirinhas,
que afirmava que o rasganço da parceria “se
deveu a críticas nos jornais à localização e ao programa cultural e ainda
intenção de desenvolver um novo paradigma para o evento”.
Em 2013 o executivo da Coligação por Coimbra,
liderado por Barbosa de Melo, chamou a si a realização da Feira do Livro e do
artesanato e mudou a localização para o Parque Verde. Os standes cedidos aos
livreiros passaram a custar cerca de 300 euros. Segundo os jornais da época,
foi cabimentada uma verba de cerca de 70,500 euros para a sua realização.
Em Março de 2014, já Com Manuel Machado no
poder, este edil dizia à Lusa que “nos moldes
em que tem sido realizada, a feira do livro em Coimbra, à semelhança daquilo
que sucede noutras localidades, tem vindo a perder frequentadores e a revelar cada
vez mais dificuldades". A possibilidade de o certame regressar ao
Parque Dr. Manuel Braga estava a ser estudada, “reconhecendo que o piso daquela zona, em terra batida, é susceptível de
provocar muito pó e/ou lama, circunstância que não agrada a livreiros e
visitantes.”
Entre 23 de maio e 5 de Junho,
juntando o livro, as artes plásticas, a gastronomia e animação cultural, este
certame de vários em um, realizou-se no Parque Dr. Manuel Braga. Tanto quanto
julgo saber nenhum expositor pagou para expor. Penso que o modo de atribuição
era que cada editora poderia ter um stande. O que quer dizer que houve empresas,
que concentravam várias editoras, com cinco espaços, por quanto que, por exemplo,
um interessado que viesse de Leiria, porque só trabalhava com uma representante
livreira, só tinha direito a um.
Em 2015, tomando em conta as notícias do DC em
cima, seguindo a mesma linha do ano anterior -embora não seja referido no jornal-, alegadamente, ninguém paga seja o que for para expor e
vender neste evento que congrega vários ramos de negócio. Lembro que o
orçamentado foi “à volta de 113 mil euros”.
Ou seja, os contribuintes no geral vão pagar para a edilidade coimbrã montar
standes, contratar grupos musicais e para que alguns expositores vendam os seus
produtos sem gastar um cêntimo.
UMA PERGUNTA TOLA
A feira de velharias, que se realiza uma vez
por mês, é gratuita para os expositores desde o seu início nos anos de 1990. Na
Feira sem Regras, em Santa Clara, que se realiza mensalmente, ninguém paga nada
para vender todo o género de artigos, incluindo alimentares. A Feira da Flor,
até ao ano passado, mostrava-se nas ruas largas uma vez por ano. Agora, a
partir de há pouco tempo, englobando uma miscelânea de produtos até ao
alimentar, passou a ser mensal. Nenhum dos vendedores paga para lá vender.
Uma pergunta estúpida: mas a
venda neste tipo de feiras não colide com os estabelecimentos implantados? Estará
certo este tipo de concorrência desbragada promovida pela Câmara sabendo-se
que o comércio tradicional fixo está a atravessar uma crise sem precedentes?
CRITÉRIOS (DUVIDOSOS)
João Braga é um comerciante que tenta resistir
neste oceano de decisões controversas. Dono da Retrosaria Zig-Zag, por que o negócio esteja fraco e difícil de aguentar, sabe-se
lá com que sacrifícios, adquiriu a Toca do Gato, nas Escadas do Gato, e reabriu-a há um mês e pouco.
Esta noite, por estar a decorrer a semana da Queima das Fitas, para tentar
fazer mais uns cobres, tinha a máquina da cerveja fora da porta. Foi visitado
pela fiscalização camarária e obrigado hoje –que estamos no fim da festa
estudantil- a tirar uma licença de ocupação de espaço público que lhe vai
custar 60 euros. Está certo este procedimento? Está para quem não conhece a
sensibilidade e a dificuldade de quem luta para se aguentar de pé. Vale alguma
coisa eu dizer que encontrei hoje o meu amigo João desanimado e, pareceu-me,
com lágrimas nos olhos? Respeito o trabalho de cada um, mas –já o escrevi
várias vezes- é preciso ter atenção a quem começa de novo. Basta um sopro para
o iniciado cair. Ainda faço uma pergunta: os tantos comerciantes que colocaram
mesas na rua pagaram licença? Não é que tenha nada a ver com isso, o que
provoca irritação é o critério não ser igual para todos. É certo que em muitos
casos como este são funcionários sem coração que estragam tudo e até denigrem
alguns bons vereadores que tentam fazer o que podem. Mas se não têm capacidade
para se transcenderem e colocarem no lugar do infrator devem ser transferidos
para uma secretária. Precisamos de gente humanista, não precisamos de máquinas
fiscalizadoras. Como são eles que dão a cara pela autarquia, interrogo: por que
é que esta Câmara não gosta dos pequenos empresários com loja? Mas deveria gostar! É
socialista, não é?
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