Como quase todos os dias, ontem, quarta-feira, à hora do
almoço, encontrei o Marco a tocar acordéon na esquina da Coimbra Editora, junto ao Arco da
Barbacã. Cumprimentos, palavras de
circunstância para aqui e como é que está o saldo para a compra de um acordéon novo
para acolá –o Marco, oriundo da Polónia, é músico. Em Março. Último, veio
ter comigo para ver se escrevia a sua história e lograva arranjar um acordéon
para tocar na rua e conseguir sobreviver. Por um lado, poder ganhar umas moedas
para pagar o quarto, por outro, para tentar juntar para comprar um instrumento
novo. Escrevi a sua história n’O Despertar, em 23 de Março. Em 3 de Abril um
leitor do jornal, e meu amigo, o José João Cardoso, num gesto ímpar,
emprestou-lhe um acordéon que tinha em casa e era pertença da família.
Dizia-me então o Marco que, por parte dos
transeuntes que contribuem, está correr muito bem. Se continuar assim, de aqui
a alguns meses, avança para a compra de um instrumento novinho, a estrear.
Porém, estava a ter um problema: no dia anterior, por volta das 16h00, estando
acompanhado, levou com uma quantidade de água em cima, que o molhou e salpicou
o instrumento musical. Disse que já era a terceira vez que acontecia o mesmo
naquele local. O amigo acompanhante, José Manuel Rocha Lopes, corroborou a
história. Ambos, apontando para cima, disseram: “a água foi jogada dali, da varanda do edifício da Coimbra Editora. Isto
não se faz! Vimos água a escorrer do varandim. Ora, como se vê, lá não há plantas.
Isto foi de propósito”. Diz o Marco, "já falei com os funcionários e não me
ligaram nada! Estou a tentar ganhar a vida, não faço mal a ninguém! Por que me
fazem isto?”
Tomei nota das suas declarações e entrei na loja
da Coimbra Editora. Lá dentro uma senhora
na caixa e outro fora –que disse ser também funcionário. Expliquei ao que ia e contei a história do Marco. Que o músico de
rua estava a tentar safar-se, como eu, como qualquer outro. Que qualquer um de
nós, de um momento para o outro, pode cair na miséria. Que sendo uma
brincadeira de mau gosto não estava certo o que, alegadamente, estavam a fazer
ao homem. Invoquei o facto de escrever num blogue, mas que não era minha
intenção usar a escrita de qualquer maneira. Só o faria em último recurso. Preferia
não ter de escrever e falar com alguém que assumisse que não se repetia.
A menina da caixa retorquiu que não
era nada com ela. E com que é? Estaria alguém da gerência? Interroguei. “Pode vir depois das 14h00. Apontando, “desce aquelas escadas, para a cave, e fala
com um colega”. Cerca das 15h00 lá fui. Pedindo licença para ir expor o
assunto, desci as escadas mas não estava ninguém. Subi e perguntei porque me
mandou descender se não estava ninguém? A resposta foi vaga. Repeti que não
pretendia prejudicar fosse quem fosse e muito menos a empresa. Depois de
solicitado, deu-me então o número telefónico, geral, da Coimbra Editora, para
contactar a administração. Liguei e fui atendido por uma funcionária –que a seu
pedido não identifico. Expliquei o que se estava a passar e, mais uma vez,
ratifiquei que pretendia somente evitar a repetição e absolutamente mais nada! Por
isso mesmo, roguei se me poderia passar a chamada para a alguém da gerência. Do
outro lado da linha, foi-me dito pela telefonista que iria apresentar o caso ao
administrador e para eu ligar amanhã (hoje).
Hoje, cerca das 15h00, voltei a ligar.
Respondeu a funcionária: “o senhor (…), o
administrador, não quer falar sobre esse assunto. Portanto, o senhor é que
sabe. Faça o que entender!”
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