O branco imaculado do rés-do-chão distingue-se
na fachada do prédio decrépito no Largo da Maracha e com frente para a Rua da Louça. Em
metáfora, é como se, ali, a loja Daline modas fosse a espiritualidade viva de um
edifício morto. As montras, cheias de luz e cor, são os raios solares que
invadem um domingo de verão em toda a cidade e fazem resplandecer a alma de
tantos quantos se aventuram na calçada da vida.
Transpomos a porta. Lá dentro está a Cátia
Pimentel a mostrar um vestido da colecção de verão da marca Daline, para 2015,
a duas senhoras, provavelmente, mãe e filha. Pela conversa, deduzo, vão ter um
casamento proximamente e foram convidadas. Entram na sala de provas com dois
modelos para experimentar. Passados minutos a Cátia atira o tradicional: “se puder ajudar em alguma coisa, façam o
favor de chamar, como subir ou apertar um bocadinho, sim?”. Do outro lado
da cortina vieram duas vozes em coro: “Muito
obrigada, menina! Estão óptimos, está tudo bem! Nem sabe a nossa satisfação!”. A
sorrir, entregaram os vestidos na caixa, pagaram e fizeram-se ao dia. Agora sim
tenho a Cátia só para mim, para podermos conversar. Vamos lá! Começo por
perguntar como é que surgiu esta ideia de abrir este estabelecimento com a
marca Daline depois de a casa-mãe, a cinquenta metros desta, ter encerrado?
“Como
sabe, porque o conhece há décadas, o meu pai, o Pimentel, como funcionário fiel,
acompanhou sempre a Daline, no Largo do Poço, desde o seu nascimento, em 1994, no
período áureo do comércio da Baixa e até agora, ao fecho da loja. A marca
Daline, com fábrica em Leiria e com várias lojas nesta cidade do Liz, na
Figueira da foz e em Gaia, é um património adquirido, sobejamente conhecida e
com provas dadas, que não se poderia esbanjar de qualquer maneira. Então
fizemos um acordo que vai ao encontro dos interesses de ambos. A marca Daline fornece-nos
a colecção à consignação e eu, com a orientação e ajuda experiencial do meu
pai, comprometo-me a trabalhar para manter a chama viva na cidade. É uma
parceria que assenta essencialmente na confiança e, sem dúvida, também no
reconhecimento do esforço e seriedade do meu pai. Tenho de lhe confessar, se
não fosse assim jamais conseguiria abrir uma loja. Como o senhor tão bem sabe,
hoje, manter um estabelecimento é uma iniciativa de alto risco. Quem trabalha
nos moldes tradicionais, de comprar no ano anterior para vender no ano
seguinte, arrisca a não conseguir pagar. O comércio, com a Lei dos Saldos e
promoções, está a ser destruído. Não é possível ganhar dinheiro desta maneira.
Já devia ter feito isto há mais tempo mas, a continuar a correr assim, ainda
estou a tempo e vejo o futuro com muita esperança.”
3 comentários:
Será que este Sr. Pimentel é a mesma pessoa que trabalhou com António Gomes António?
sim é o mesmo Pimentel!
Bom dia!
Para o meu amigo Pimentel (amizade de 30 anos), pessoa de bem e homem bom, um grande abraço: por certo um destes dias nos reencontraremos, numa dessas ruas estreitas...
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