“Precisamos de um homem honesto
como Salazar. Portugal precisa de um homem com inteligência e a honestidade do
ponto de vista do Salazar para resolver a crise que atravessa” –Otelo Saraiva
de Carvalho, em entrevista ao Jornal de Negócios.
Eu já desconfiava que andava a escrever para o
boneco, mas agora, depois das declarações do camarada Otelo, está visto que
ninguém me liga! Já dizia a minha mãezinha -que Deus tenha em boa guarda- que,
com esta gente, nem que Jesus Cristo voltasse à Terra jamais seria reconhecido.
Foi uma vez e foi de vez! Porque dava jeito para reunir os fiéis, criar
doutrina e fundar a igreja.
Parece impossível o ex-camarada e agora
convertido ao liberalismo não se aperceber facilmente que eu –passando a minha
naturalíssima e sempre presente incomensurável modéstia- pelas minhas
excepcionais qualidades, sou o homem indicado para o lugar (in)certo que ele
procura. Como diria o outro Judas, “Ecce
Homo”, eis o homem! Não é para me gabar mas, tal como o “botas”, sou filho do povo –salvo seja,
quero dizer que sou filho de um homem do povo. Nada de confusões. Prosseguindo,
nasci numa aldeia de combas santas. Juro que é verdade! Nasci na linda aldeia
de Várzeas que é um vale que se alonga entre as montanhas que o rodeiam. Sou
originário de gente humilde –tal como Salazar. Sou senhor de uma inteligência
assim assim –também nunca se provou que a do senhor António fosse assim assado.
Para aguentar esta gente durante quatro décadas –de 1928 a 1968-, não deveria
ter um discernimento por aí além. Nunca fui comunista –embora tenha um enorme
respeito por quem é –talqualzinho como o fundador do Estado Novo. Sou mais para
o comodista. E digo mais: nunca comi meninos ao pequeno-almoço. Bom, meninas,
já lá vai o tempo! Agora, como pescador cansado, limito-me a lançar as redes e
a apanhar o que vem. Costumo dizer que sou liberal assumido, já que assim posso
ter um pé na Direita, o olho no Centro e outra perna na Esquerda. Até me custa escrever isto,
muito, muito mesmo, mas sou de uma honestidade a toda a prova. Embora começasse
por furtar uma frutita lá na aldeia –quando era miúdo para consolar o estômago-
e ao longo da vida fosse fazendo umas patifarias sem grande monta, é preciso
dizer: nunca assaltei qualquer banco nem lesei o Estado nuns quaisquer milhões,
como uma minoria fez por aí. Para além disso, até hoje, o meu registo de
velhacarias está imaculado –poderia não estar já que ser “velhaco” é de família e, como o vento, já vem de longe.
Para além de tudo isto, e que até já chegava,
tal como o desaparecido Presidente do Conselho e que Deus tenha na paz dos
anjos e esteja lá muito tempo sem o Saraiva Carvalho, sobretudo quando sou
tomado de grande inspiração, também escrevo umas frases em forma de poesia que
até ficam para a posteridade.
Indo ao encontro do desejado pelo camarada
Otelo, não tenho uma perspectiva de fascismo à italiana, nada disso! Como
disse, sou liberal, portanto, quero acreditar que o povo, essa amálgama
abstrata de gente, que vai para onde o empurram, que não aprende porque é burro
velho, tem de ser bem tratado. Nada de carícias e promessas de amor, só à cacetada,
aos pontapés no cú e à canelada, porque é assim mesmo que gosta de ser
paparicado. Se não fosse assim, como entender que continue a votar sempre nos
mesmos que lhe proporcionam tristeza e solidão e dão chicotada? O povo gosta de
um Governo duro, de barba rija e tomates no sítio. E o resto é conversa!
Prosseguindo no retrato idealizado pelo
estratega do 25 que está enterrado e que a terra lhe seja leve, diz o homem que
é preciso “que fosse um bom gestor de finanças, que tivesse a perspectiva de,
no campo social, beneficiar o povo, mesmo e sobretudo em detrimento das grandes
fortunas". Bolas! Melhor do que eu não há. Palavra de honra!
Primeiro, nunca consigo gastar mais do que tenho –também é certo que ninguém me
fia, mas isso não interessa para aqui. Segundo, gosto de ajudar os mais
carenciados. Além de mais, tenho para mim que se mandasse sobrecarregava as
grandes fortunas com mais impostos –não exageradamente porque, se não tivermos
cuidado, elas fogem do país como enguias da nossa mão.
Só não estou de acordo com o camarada Saraiva quando ele chama forreta ao meu homónimo –porque também me chamo António-, quando ele diz: "Houve um rápido crescimento do nível económico das populações a seguir ao 25 de Abril à custa das reservas de ouro que o forreta do Salazar tinha amealhado no Banco de Portugal, mas depois, esgotada essa possibilidade, a coisa começou a entrar em dificuldades”. Mas pronto!
Só não estou de acordo com o camarada Saraiva quando ele chama forreta ao meu homónimo –porque também me chamo António-, quando ele diz: "Houve um rápido crescimento do nível económico das populações a seguir ao 25 de Abril à custa das reservas de ouro que o forreta do Salazar tinha amealhado no Banco de Portugal, mas depois, esgotada essa possibilidade, a coisa começou a entrar em dificuldades”. Mas pronto!
Sem comentários:
Enviar um comentário