quinta-feira, 28 de maio de 2015

ESSE CARA SOU EU!



“Precisamos de um homem honesto como Salazar. Portugal precisa de um homem com inteligência e a honestidade do ponto de vista do Salazar para resolver a crise que atravessa” –Otelo Saraiva de Carvalho, em entrevista ao Jornal de Negócios.

Eu já desconfiava que andava a escrever para o boneco, mas agora, depois das declarações do camarada Otelo, está visto que ninguém me liga! Já dizia a minha mãezinha -que Deus tenha em boa guarda- que, com esta gente, nem que Jesus Cristo voltasse à Terra jamais seria reconhecido. Foi uma vez e foi de vez! Porque dava jeito para reunir os fiéis, criar doutrina e fundar a igreja.
Parece impossível o ex-camarada e agora convertido ao liberalismo não se aperceber facilmente que eu –passando a minha naturalíssima e sempre presente incomensurável modéstia- pelas minhas excepcionais qualidades, sou o homem indicado para o lugar (in)certo que ele procura. Como diria o outro Judas, “Ecce Homo”, eis o homem! Não é para me gabar mas, tal como o “botas”, sou filho do povo –salvo seja, quero dizer que sou filho de um homem do povo. Nada de confusões. Prosseguindo, nasci numa aldeia de combas santas. Juro que é verdade! Nasci na linda aldeia de Várzeas que é um vale que se alonga entre as montanhas que o rodeiam. Sou originário de gente humilde –tal como Salazar. Sou senhor de uma inteligência assim assim –também nunca se provou que a do senhor António fosse assim assado. Para aguentar esta gente durante quatro décadas –de 1928 a 1968-, não deveria ter um discernimento por aí além. Nunca fui comunista –embora tenha um enorme respeito por quem é –talqualzinho como o fundador do Estado Novo. Sou mais para o comodista. E digo mais: nunca comi meninos ao pequeno-almoço. Bom, meninas, já lá vai o tempo! Agora, como pescador cansado, limito-me a lançar as redes e a apanhar o que vem. Costumo dizer que sou liberal assumido, já que assim posso ter um pé na Direita, o olho no Centro e outra perna na Esquerda. Até me custa escrever isto, muito, muito mesmo, mas sou de uma honestidade a toda a prova. Embora começasse por furtar uma frutita lá na aldeia –quando era miúdo para consolar o estômago- e ao longo da vida fosse fazendo umas patifarias sem grande monta, é preciso dizer: nunca assaltei qualquer banco nem lesei o Estado nuns quaisquer milhões, como uma minoria fez por aí. Para além disso, até hoje, o meu registo de velhacarias está imaculado –poderia não estar já que ser “velhaco” é de família e, como o vento, já vem de longe.
Para além de tudo isto, e que até já chegava, tal como o desaparecido Presidente do Conselho e que Deus tenha na paz dos anjos e esteja lá muito tempo sem o Saraiva Carvalho, sobretudo quando sou tomado de grande inspiração, também escrevo umas frases em forma de poesia que até ficam para a posteridade.
Indo ao encontro do desejado pelo camarada Otelo, não tenho uma perspectiva de fascismo à italiana, nada disso! Como disse, sou liberal, portanto, quero acreditar que o povo, essa amálgama abstrata de gente, que vai para onde o empurram, que não aprende porque é burro velho, tem de ser bem tratado. Nada de carícias e promessas de amor, só à cacetada, aos pontapés no cú e à canelada, porque é assim mesmo que gosta de ser paparicado. Se não fosse assim, como entender que continue a votar sempre nos mesmos que lhe proporcionam tristeza e solidão e dão chicotada? O povo gosta de um Governo duro, de barba rija e tomates no sítio. E o resto é conversa!
Prosseguindo no retrato idealizado pelo estratega do 25 que está enterrado e que a terra lhe seja leve, diz o homem que é preciso “que fosse um bom gestor de finanças, que tivesse a perspectiva de, no campo social, beneficiar o povo, mesmo e sobretudo em detrimento das grandes fortunas". Bolas! Melhor do que eu não há. Palavra de honra! Primeiro, nunca consigo gastar mais do que tenho –também é certo que ninguém me fia, mas isso não interessa para aqui. Segundo, gosto de ajudar os mais carenciados. Além de mais, tenho para mim que se mandasse sobrecarregava as grandes fortunas com mais impostos –não exageradamente porque, se não tivermos cuidado, elas fogem do país como enguias da nossa mão.
Só não estou de acordo com o camarada Saraiva quando ele chama forreta ao meu homónimo –porque também me chamo António-, quando ele diz: "Houve um rápido crescimento do nível económico das populações a seguir ao 25 de Abril à custa das reservas de ouro que o forreta do Salazar tinha amealhado no Banco de Portugal, mas depois, esgotada essa possibilidade, a coisa começou a entrar em dificuldades”. Mas pronto! 


 

 


 

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