quinta-feira, 7 de maio de 2015

LEIA A ÚLTIMA PÁGINA NÃO EDITADA... E O ESCLARECIMENTO



Estes eram os  textos para sair esta semana na "Página da Baixa", n'O Despertar.
A explicação para não serem publicados fica lá mais para o fundo. Fui eu que, perante um  pedido que não acedi, escolhi. Mesmo assim e até para se avaliar o conteúdo de uma das crónicas, deixo-as aqui, na última página não editada.



LEIA O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "UMA BAIXA A ALTO GÁS E UMA BAIXINHA SEM GÁS NENHUM", deixo também as crónicas "QUANDO A MISÉRIA PAGA TAXA", "A DALINE CONTINUA VIVA E RECOMENDA-SE" e "DOIS FENÓMENOS NA PRAÇA VELHA"



UMA BAIXA A ALTO GÁS E UMA BAIXINHA SEM GÁS NENHUM

São cerca de 15h00 em qualquer marcador de tempo na Baixa de Coimbra. É sábado, dia 02 de Maio do ano de 2015. O dia está solarengo e o sol promete um aconchego na alma a quem se aventurar nas ruas. Com organização da Câmara Municipal de Coimbra, entre a Praça 8 de Maio e o Largo da Portagem, está a realizar-se a 7.ª edição da Festa da Flor e da Planta. Este trajeto consignado para este certame, a pedir mudança e já há muito inalterável pelos serviços municipais, está prenhe de transeuntes. Os muitos vendedores presentes, perante tanta afluência de público, parecem vender. A Maria João e a Maria do Rosário, mais conhecida por “Marquitas” e minha conterrânea, ambas trajadas a preceito e em representação do Grupo Folclórico e Etnográfico do Brinca, parecem satisfeitas com o negócio e esta apresentação de doces e produtos regionais. Mais acima, sem ligação ao que se passava em baixo, a dois passos e apenas separada pelo Arco de Almedina, depois de interrompido durante cerca de dois anos, decorria a segunda edição do “Mercadinho” do Quebra-Costas”.
Na Rua Eduardo Coelho, o Francisco Veiga, a Áurea e a Célia, todos comerciantes nesta artéria, estão a cavaquear, de braços cruzados e à porta da sapataria da Célia. Desde a manhã que o movimento nestas vias pedonais é diminuto. Sem o dizerem, é fácil de adivinhar que se sentem discriminadas, cartas fora do baralho, pela continuada (má) decisão dos serviços camarários estipularem unicamente as ruas largas para realizar eventos que podem contribuir para desenvolver a Baixa. Por que razão é que a Câmara Municipal trata uns como filhos e outros como enteados? A edilidade estará mesmo interessada em revitalizar esta área tradicional no seu todo? Nunca os anteriores presidentes estiveram preocupados com esta questão e, pelos vistos, o atual segue a mesma doutrina. É uma pena não haver ao menos alguém que veja mais longe do que o alcance do seu olhar. Lamentável! Depois admiram-se de na Noite Branca, como nesta última, excetuando as vias da calçada, somente sete lojas comerciais permanecerem abertas entre as Ruas Sargento-Mor e da Louça. Depois queixam-se que os comerciantes não aderem às iniciativas. Como? Fazendo destes operadores gato-sapato? Querem colaboração “pro bono”? Como? Se nos outros dias de fartura, de grandes festas, não há alguém que se distinga e rompa com esta declarada ostracização e se preocupe com quem cá está?


QUANDO A MISÉRIA PAGA TAXA

A fazer fé num e-mail que me chegou à caixa de correio eletrónico, “A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a enviar aos seus clientes mais modestos uma circular que deveria fazer corar de vergonha os administradores – principescamente pagos - daquela instituição bancária.
A carta da CGD começa, como mandam as boas regras de marketing, por reafirmar o empenho do Banco em oferecer aos seus clientes as melhores condições de preço qualidade em toda a gama de prestação de serviços, incluindo no que respeita a despesas de manutenção nas contas à ordem. As palavras de circunstância não chegam sequer a suscitar qualquer tipo de ilusões, dado que o estimado/a cliente é confrontado com a informação de que, para continuar a usufruir da isenção da comissão de despesas de manutenção, terá de ter em cada trimestre um saldo médio superior a 1000 euros. Ora sucede que muitas contas da CGD, designadamente de pensionistas e reformados, são abertas por imposição legal. É o caso de um reformado por invalidez e quase septuagenário que sobrevive com uma pensão de 243,45 euros foi forçado a abrir conta na CGD por determinação expressa da Segurança Social para receber a reforma. O mais escandaloso é que seja justamente uma instituição bancária que ano após ano apresenta lucros fabulosos e que aposenta os seus administradores, mesmo quando efémeros, com “obscenas” pensões (para citar Bagão Félix), vir exigir a quem mal consegue sobreviver que contribua para engordar os seus lautos proventos.”
Só para comparação, e pensando que os nossos governantes não saibam o que se passa no estrangeiro, em países ricos, vou retratar como se procede no Canadá. Quem fez o favor de me alertar foi o Álvaro José da Silva Pratas Leitão, natural de Ribeira de Frades e há décadas emigrado em Bradford, Ontário, naquele país norte-americano. Vou dar voz ao nosso compatriota: “Por cá os bancos também metem a mão nos bolsos dos clientes, mas com menos ousadia!
Aqui, quando recebemos um cheque do governo, este contém no verso a informação, e bem visível, que nenhuma instituição pode cobrar ao titular por não ter conta bancária. Ou mesmo recusar cambiar.”
Remato como comecei a crónica: dá para ver que esta gente não tem escrúpulos, mas nem ao menos vergonha?


DALINE CONTINUA VIVA E RECOMENDA-SE

O branco imaculado do rés-do-chão distingue-se na fachada do prédio decrépito no Largo da Maracha e com frente para a Rua da Louça. Em metáfora, é como se, ali, a loja Daline modas fosse a espiritualidade viva de um edifício morto. As montras, cheias de luz e cor, são os raios solares que invadem um domingo de verão em toda a cidade e fazem resplandecer a alma de tantos quantos se aventuram na calçada da vida.
Transpomos a porta. Lá dentro está a Cátia Pimentel a mostrar um vestido da coleção de verão da marca Daline, para 2015, a duas senhoras, provavelmente, mãe e filha. Pela conversa, deduzo, vão ter um casamento proximamente e foram convidadas. Entram na sala de provas com dois modelos para experimentar. Passados minutos a Cátia atira o tradicional: “se puder ajudar em alguma coisa, façam o favor de chamar, como subir ou apertar um bocadinho, sim?”. Do outro lado da cortina vieram duas vozes em coro: “Muito obrigada, menina! Estão ótimos, está tudo bem! Nem sabe a nossa satisfação!”. A sorrir, entregaram os vestidos na caixa, pagaram e fizeram-se ao dia. Agora sim tenho a Cátia só para mim, para podermos conversar. Vamos lá! Começo por perguntar como é que surgiu esta ideia de abrir este estabelecimento com a marca Daline depois de a casa-mãe, a cinquenta metros desta, ter encerrado?
“Como sabe, porque o conhece há décadas, o meu pai, o Pimentel, como funcionário fiel, acompanhou sempre a Daline, no Largo do Poço, desde o seu nascimento, em 1994, no período áureo do comércio da Baixa e até agora, ao fecho da loja. A marca Daline, com fábrica em Leiria e com várias lojas nesta cidade do Liz, na Figueira da foz e em Gaia, é um património adquirido, sobejamente conhecida e com provas dadas, que não se poderia esbanjar de qualquer maneira. Então fizemos um acordo que vai ao encontro dos interesses de ambos. A marca Daline fornece-nos a coleção à consignação e eu, com a orientação e ajuda experiencial do meu pai, comprometo-me a trabalhar para manter a chama viva na cidade. É uma parceria que assenta essencialmente na confiança e, sem dúvida, também no reconhecimento do esforço e seriedade do meu pai. Tenho de lhe confessar, se não fosse assim jamais conseguiria abrir uma loja. Como o senhor tão bem sabe, hoje, manter um estabelecimento é uma iniciativa de alto risco. Quem trabalha nos moldes tradicionais, de comprar no ano anterior para vender no ano seguinte, arrisca a não conseguir pagar. O comércio, com a Lei dos Saldos e promoções, está a ser destruído. Não é possível ganhar dinheiro desta maneira. Já devia ter feito isto há mais tempo mas, a continuar a correr assim, ainda estou a tempo e vejo o futuro com muita esperança.”


DOIS FENÓMENOS NA PRAÇA VELHA

Na segunda-feira, da semana passada, cerca das 18h30, quem arribasse à Praça do Comércio era surpreendido por dois ajuntamentos de pessoas. Pelo primeiro, tratava-se da inauguração de uma galeria de arte e venda de antiguidades, propriedade do Carlos Jorge Monteiro, mais conhecido por “Cajó”, reconhecido fotógrafo do Diário as Beiras e outros jornais nacionais em que foi e é colaborador. Pelo segundo, o amontoado de indivíduos era justificado pela necessidade de ingresso num novo estabelecimento de crepes e outros doces de estalar o palato que abriu no sábado anterior e, pelo tremendo êxito, já está a dar que falar e a colocar em causa todas as teorias de decrepitude desta área velha. O facto de os clientes esperarem em fila para provar as suas especialidades mostra que havendo ideias novas e originais as pessoas acorrem.
Entre os dois agrupamentos havia uma diferença abissal. Se no segundo era gente simples pronta a satisfazer um desejo com sabor a chocolate, já o primeiro, no da inauguração do espaço comercial do “Cajó”, estava a fina flor da nossa aldeia. Como é natural –e isso nem provoca comichão- o quartel-general do Diário as Beiras marcava presença –que até fez notícia na primeira página sobre o evento empresarial do seu colaborador. Mas não era tudo. Estava o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, estava o vereador do desporto, Carlos Cidade, a vereadora da Cultura, Carina Gomes, estava o assessor de imprensa da autarquia, Aníbal Rodrigues, e pela minha pressa, como não vi todos, provavelmente haveria mais vereadores e chefes de gabinete. Para além destes, para equilibrar a imprensa escrita local, também o Diário de Coimbra estava representado, com Arménio Travassos, assim como o presidente do Turismo do Centro, Pedro Machado, o presidente da Académica, Eduardo Simões, reputados médicos da cidade, como Polybio Serra e Silva, e também o Carlos Costa, um homem humilde do povo e residente numa destas ruas estreitas, que, aproveitando a ocasião e mesmo sem ser convidado, comia um pastel de carne com apetite dobrado.
Uma vitória já o “Cajó” conseguiu: tirar Manuel Machado do gabinete e trazê-lo para a rua para inaugurar uma loja. Conheço o Carlos Monteiro há muitos anos e é claro que para além de boa pessoa, bom profissional, é muito inteligente. Com a sua sagacidade, o Carlos veio mostrar que desde que se dê um suculento lanche o presidente da Câmara está cá. Ora, confesso, sinto-me completamente estúpido. Como é que eu não vi isto antes? Ando eu há cerca de dois anos a “martelar” na cabeça do Machado, a dizer que ele nunca sai da Praça 8 de Maio e afinal não é assim. Desde que haja croquete e rissol para acompanhar o corte da fita o homem vai. De aqui para a frente, porque Machado para além de ser equitativo é Socialista e não gosta de discriminar ninguém, quem o quiser ter no ato inaugural faça o mesmo e, estou certo, ele marcará presença.
Por isso mesmo, para si leitor, se está a pensar em abrir um estabelecimento na Baixa pode contar com toda a equipa da edilidade… desde que haja petisco.



CARTA ABERTA AO PROPRIETÁRIO DO JORNAL O DESPERTAR


Meu caro Lino Vinhal, proprietário d’O Despertar, fico na esperança que esta carta o vá encontrar de boa saúde que eu, conforme posso, vou resistindo entre o conflito e a paz.
De certo modo, em resposta à carta que me enviou por mão de um seu funcionário e meu amigo, escrevo-lhe esta missiva porque me desiludiu profundamente. Ao pedir-me que alterasse o texto “Dois fenómenos na praça velha”, com o argumento de que a crónica “tem imprecisões que podem ser consideradas insultos e inverdades” ao presidente da Câmara Municipal de Coimbra, e “a corrigisse adaptando-o à verdade dos factos”, V. Ex.ª pede-me o impossível. Por várias razões, uma delas é que o texto, dividido em duas partes, a primeira em tom sério e a segunda com alguma sátira e boa-disposição, está escrito com ironia implícita e, pela sua leveza, jamais teve pretensão ou pode ser entendido como ofensa. Até porque nunca viso o cidadão Manuel Machado mas sim o procedimento do presidente da Câmara Municipal de Coimbra, enquanto acto político e social. É óbvio que é a sua interpretação e respeito. Porém, não é a minha. Fui o autor e, como tal, assumo a total responsabilidade pela escrita. Como não foi a primeira vez que surgiu este género de incidente -aconteceu algo parecido em julho de 2013- naturalmente que o agora trazido à colação já não foi surpresa de todo. Talvez V. Ex.ª, a par com a minha oposição na altura, já deveria ter visto que sou torcido como o raio que me parta. Mas o senhor não viu, repetiu e agora sente que eu ao não fazer a sua vontade sou senhor de uma reacção emocional.
É certo que o senhor enquanto dono do jornal pode fazer o que bem entende. O semanário é seu. Não pode é, por um lado, tratar-me como seu empregado, porque nunca ganhei nada pelo que escrevi, por outro, pedir que me coloque no seu lugar. Devido às nossas posições antagónicas, a lógica processual é diferente. Com franqueza entendo a sua. Então faça o favor de me entender. Eu escrevo pro bono porque gosto e levo este exercício muito a sério. Como deve ter visto, não me envolvo em política partidária, nem faço da escrita uma espada de vingança contra quem quer que seja. É o meio que utilizo para intervir na vida social. E mais: não me ofereci para escrever nos seus jornais –Campeão das Províncias e O Despertar-, fui convidado. Com prejuízo da minha actividade cumpri sempre. Desde Janeiro de 2012, portanto cerca de durante três anos e pouco, colaborei gratuitamente para O Despertar com uma página semanal. Para O Campeão das Províncias foram quatro meses, desde Janeiro até agora. Talvez por isto mesmo merecesse outro tratamento mais respeitoso. Por que não um simples agraciamento plasmado, e uma referência nesta edição d’O Despertar a explicar, ainda que sucintamente, o que aconteceu? Nem que fosse pelos leitores. Por isso mesmo, perante este esquecimento deliberado, não hesitei em dar à estampa sobre o que se passou. Senti-me na obrigação e com mais força para mostrar a razão desta interrupção abrupta. Mas não precisa agradecer. Eu também não agradeço. Quem deve estar grato sabemos bem quem é. Passando a imodéstia, é uma voz incómoda que se cala.
Tenho a certeza de que o sentimento é recíproco, mas esperava muito mais de si. Paciência! O senhor fica na sua e eu na minha!
Com os melhores cumprimentos.
Luís Fernandes




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