Como andorinha em busca de um beiral, encontramo-lo
muitas vezes a calcorrear as pedras da calçada. Como se andasse em busca de um
passado que não passa disso mesmo e não volta mais, o seu passeio pela Baixa é
rápido e repetido pelos mesmos locais. Tem os seus poisos pré-definidos, como
quem diz, um amigo numa das ruas estreitas e outro na rua larga. Quando em descanso
o seu rosto é fechado, como se estivesse em permanente defesa. Se alguém lhe fala
com ternura, escancara as portas da alma e sorri como uma criança de colo.
Dá pelo nome de José
Manuel Menezes Lopes Cabral. Deu aulas de educação visual em Moçambique e em meio
Portugal. Também passou pela ilha dos Açores. No Continente, atravessou o interior
desde a Covilhã, passando pelo Fundão, até Castelo Branco. Por cá, mais para litoral,
passou pela Lousã, Penacova e em Coimbra, nas escolas Eugénio de Castro e Silva
Gaio. Pelos mais velhos, outrora seus alunos, é tratado com carinho e reconhecido
por “professor”. Tem 70 anos, é
solteiro e bom rapaz. Nunca casou porque
não ganhava o suficiente para manter uma mulher, confidencia-me. Também diz
que foi abandonado pelos pais em criança e este facto marcaria para sempre a
sua existência de eremita. A vida que leva não o satisfaz. Sente-se muito só. Apesar
de auferir uma reforma razoável, talvez para colmatar os buracos da solidão, nos
últimos anos deu em comprar coisas compulsivamente e sem necessitar. Meteu-se
em créditos desnecessários. Depois de descontados à cabeça no final do mês,
fica com pouco. Quase nada. “Já tive
tudo, carros bons e sempre a estrear. Agora tenho pouco mas, paciência! Quando
pagar tudo, dos meus empréstimos, ainda vou ter um carrinho em segunda mão!”
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