Passava pouco das 14 na torre cimeira do
relógio da Igreja de Santa Cruz –que, por acaso, há uns três anos deixou de
bater não se sabe se em solidariedade e pesar para com um padre, desta catedral, que tive a honra de conhecer e se finou. De cabeça molhada, que minutos antes
mergulhara no repuxo popular da Praça 8 de Maio, o homem, carregado de brincos,
piercings e anéis, provavelmente em
alemão, gesticulava e barafustava alto e bom som. Ora se firmava no céu azul,
ora apontava para o infinito, ora se baixava e falava com o cachorro. O animal
-que fiquei sem saber se percebia alemão e entendia, ou não, o que ele dizia-,
como eu e outros assistentes faziam o que a situação aconselhava: baixar as
orelhas e nada de provocar o dono.
O furibundo levava numa das mãos
um pequeno atrelado de rede, que mais que certo seria para transportar o
viajante de quatro patas, e um instrumento de cordas. De repente, abandonou o
carrinho e foi ter com mais uns turistas iguais a ele e que se banhavam também
no lavadouro público. Uma senhora idosa, perante o estrebuchar do homem atirou
ao vento: “este país é o caixote do lixo
da Europa. Toda a merda cá vem parar!” –olhou para mim, engelhou a fronte,
deu-me meio sorriso escarninho e partiu em frente. Calculo que em busca de uma
outra Europa.
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