sexta-feira, 21 de março de 2014

ESTA BAIXA ENTREGUE A SI MESMO


José Barata está inconsolável. A sua casa, na Rua da Fornalhinha, foi assaltada na noite desta última quarta-feira. Nos últimos seis meses é a terceira vez. Nos três assaltos há um ponto comum, os gatunos procuram metais, sobretudo cobre. Deram-se ao vagar de, calmamente, desmontar o interior de um esquentador e levarem os tubos. Levaram também uma série de miudezas. O mais valioso desta intrusão foi um quadro a óleo, original, de Carlos Reis com as medidas, mais ou menos, de 25X40. Desapareceu também uma imagem de Santa Filomena. Nas vezes anteriores levaram as torneiras e até o contador de água. “Estou saturado disto”, diz-me em desalento. “Vivo em Lisboa, na Parede, e venho cá várias vezes ao mês e ultimamente deparasse-me este quadro de destruição. Já me rebentaram a porta várias vezes. Desta última foi com um pé de cabra na zona das dobradiças. Comuniquei sempre as ocorrências à PSP. Os anteriores assaltos foram arquivados por falta de provas. Este último, já sei, vai ter o mesmo destino. Quando interrogo a polícia pela falta de vigilância respondem-me que não têm meios. E os nossos valores? A nossa segurança? Como é que é? Para que pagamos impostos sobre o património? Se não fossem as minhas memórias…”

E DA LONDRES NADA?


A sapataria Londres, situada no rés-do-chão do mesmo edifício, encontra-se encerrada, à ordem do tribunal e por motivo de falência do comerciante, há cerca de 6 anos. José Barata lamenta a morosidade do processo judicial. “Veja bem que o meu inquilino fugiu sem me pagar as rendas já em atraso. Como se fosse pouco, tenho de aguentar este tempo todo sem poder aceder ao que é meu? É assim que se procura revitalizar o Centro Histórico? Um proprietário, em face de uma insolvência do inquilino, merece algum respeito?”. Interroga o proprietário do imóvel.

A CASA DAS AMÊNDOAS


Continua José Barata, “na década de 1930, quando nasci, os meus avós exploravam a Casa das Amêndoas, aqui, ao lado, na Rua Eduardo Coelho, número 26, onde é agora a Sapataria Trinitá, do senhor Quirino. Tenho uma ternura muito grande por esta zona, sabe? Andei por lá de gatas e foi lá que aprendi a dar os primeiros passos. Sabe que ainda conservo na minha mente o cheirinho da amêndoa torrada, como se fosse hoje? Se não fossem estas recordações já tinha ido embora há muito tempo.”



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