José Barata está inconsolável. A sua casa, na
Rua da Fornalhinha, foi assaltada na noite desta última quarta-feira. Nos
últimos seis meses é a terceira vez. Nos três assaltos há um ponto comum, os
gatunos procuram metais, sobretudo cobre. Deram-se ao vagar de, calmamente, desmontar o interior de um esquentador e
levarem os tubos. Levaram também uma série de miudezas. O mais valioso desta
intrusão foi um quadro a óleo, original, de Carlos Reis com as medidas, mais ou
menos, de 25X40. Desapareceu também uma imagem de Santa Filomena. Nas vezes
anteriores levaram as torneiras e até o contador de água. “Estou saturado disto”, diz-me em desalento. “Vivo em Lisboa, na Parede, e venho cá várias vezes ao mês e
ultimamente deparasse-me este quadro de destruição. Já me rebentaram a
porta várias vezes. Desta última foi com um pé de cabra na zona das dobradiças.
Comuniquei sempre as ocorrências à PSP. Os anteriores assaltos foram arquivados
por falta de provas. Este último, já sei, vai ter o mesmo destino. Quando interrogo
a polícia pela falta de vigilância respondem-me que não têm meios. E os nossos
valores? A nossa segurança? Como é que é? Para que pagamos impostos sobre o
património? Se não fossem as minhas memórias…”
E DA LONDRES NADA?
A sapataria Londres, situada no rés-do-chão do
mesmo edifício, encontra-se encerrada, à ordem do tribunal e por motivo de
falência do comerciante, há cerca de 6 anos. José Barata lamenta a morosidade
do processo judicial. “Veja bem que o meu
inquilino fugiu sem me pagar as rendas já em atraso. Como se fosse pouco, tenho
de aguentar este tempo todo sem poder aceder ao que é meu? É assim que se
procura revitalizar o Centro Histórico? Um proprietário, em face de uma
insolvência do inquilino, merece algum respeito?”. Interroga o proprietário
do imóvel.
A CASA DAS AMÊNDOAS
Continua José Barata, “na década de 1930, quando nasci, os meus avós exploravam a Casa das
Amêndoas, aqui, ao lado, na Rua Eduardo Coelho, número 26, onde é agora a
Sapataria Trinitá, do senhor Quirino. Tenho uma ternura muito grande por esta
zona, sabe? Andei por lá de gatas e foi lá que aprendi a dar os primeiros
passos. Sabe que ainda conservo na minha mente o cheirinho da amêndoa torrada,
como se fosse hoje? Se não fossem estas recordações já tinha ido embora há
muito tempo.”
Sem comentários:
Enviar um comentário