Em Itália, num concurso para novas vozes, “The Voice IT”, apareceu uma freira a cantar
espectacularmente e encantou o público e o júri presente. O vídeo está a correr
o mundo. (Visione em cima)
Por um lado, imediatamente surge uma pergunta:
se acaso ela se apresentasse sem uniforme teria o mesmo sucesso? Provavelmente
passaria à eliminatória seguinte mas a sua prestação não sairia daquelas quatro
paredes. Vivemos hoje numa sociedade que, a todo o gás, procura o diferente.
Então se estiver uma farda no meio é tiro e queda. Adoramos, todos, o lado cinzento
do conspícuo, do notável, daquele que, para além de ter o dever de aparentar, tem
de ser obrigatoriamente respeitável. Há aqui um certo voyeurismo, um perseguir uma imagem que não existe. Um espreitar por
detrás do espelho.
Por outro, imaginemos que esta cena se passava
em Portugal. O que teria acontecido? Mais que certo, teria caído o Carmo, a Trindade e a eminência do bispo da diocese onde a servidora de Deus
estaria vinculada. Somos um país muito sério. E com coisas sérias não se brinca, diriam os puritanos. O respeitinho é muito lindo. Ou seja, o desejo de que este espectáculo ocorra
mantém-se, simplesmente não há coragem para furar o situacionismo. A gente gosta, mas é pecado, pronto! Não
pode ser! E não há discussão!
Ainda há dias ocorreu numa discoteca do país
um strip-tease feito por um agente da
GNR, fardado e com arma no coldre. Caiu a mácula na instituição da Guarda
Nacional Republicana. Vozes da terra e do Céu levantaram-se em coro contra a
afronta. Como é de prever, o aventureiro militar, mais que certo, corre o risco
de expulsão por, alegadamente, envergonhar a organização de força policial.
Está certo? Não sei! Há sempre duas formas da avaliar o mesmo problema. Então
do ponto de vista ideológico é fatal. Para a direita, sempre tão agarrada aos velhos costumes, é um escândalo
sem precedentes. Queime-se o homem no pelourinho da insanidade! Para a esquerda,
que adora o corte fracturante mas com calmex,
é um “nim”, nem assim, nem o contrário, nem coisa que o valha em alternativa. Aguarda-se serenamente as conclusões do
inquérito, exclamarão com solenidade, sem se comprometer e embrulhados na
hipocrisia de sempre, no manto diáfano da nebulosa.
Para mim, que sou liberal e procuro não ser dissimulado
e escrevendo o que penso, analisando este caso do militar GNR, creio que o
homem se excedeu, sobretudo usando arma no show.
Deveria ter pedido autorização. No entanto se pedisse, seria concedida? É óbvio
que não. Então o que quero dizer com isto? Que a sociedade, incluindo a
militar, é dinâmica e como tal, nos actos que fogem ao comum, o seu julgamento a posteriori terá de ser avaliado sob o
ponto de vista progressista e não estático. Como tal a justiça militar não deve
agir neste caso de lana caprina da
mesma forma que age um tribunal marcial a julgar traição à Pátria. Não se pode
ir dos oito para o oitenta. Caso continue a proceder num fingimento que só ela,
instituição, acredita corre o risco sério de cair no ridículo.
Em suma, não sei se consegui ser
claro mas este país, fazendo comparação com outros europeus, somos todos tão
cinzentos. Valha-nos Deus! Que este vídeo da freira italiana sirva para alguma
coisa. Sobretudo para nos fazer pensar!
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