quinta-feira, 19 de abril de 2018

RECORDAR: O SUICÍDIO GERACIONAL

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



Escrevi esta amostra de poema em 2013,
aquando do suicídio de um meu amigo.
Sendo justos, estamos melhor. Mas as
assimetrias societárias continuam a mandar
para a morte demasiados portugueses, 
segundo dados estatísticos, cerca de 45 mil 
por ano.
Passando a imodéstia, creio que vale a pena
perder dois minutos a reler.


REFLEXÃO: SUICÍDIO GERACIONAL

Podem até falar-me de Átila, o flagelo de Deus,
de Calígula, o esquizofrénico filho de Tibério,
de Gengis Khan, o criminoso Mongol Imperador,
de Hitler, esse louco sanguinário de cemitério,
até Mao Tsé Tung, o homicida aterrorizador,
têm rosto, lugar na história, marca de magistério,
liquidaram milhões, dando a cara, em ódio castrador,
mas não me venham com assassinos de ministério,
que, matam, silenciosamente, pelo desânimo aterrador,
milhares de cidadãos que não suportam o despautério
de gente amoral, narcisista, filha de puta, cabrões sem amor,
que os condenam à indigência, à vida de impropério,
à vergonha de passar por um falhanço agressor,
após terem sacrificado a família, suado, em presbitério,
viram-se sem nada, espoliados, sem dignidade, com dor,
constataram que a sua passagem nesta vida de mistério,
não deixou memória, foi um vazio intragável de horror,
somente uma aragem ligeira de um vento sem critério,
foi por isto tudo, e muito mais, que o meu amigo, com ardor,
com a coragem que sempre lhe conheci, o Daniel Tibério,
partiu deste mundo sem se despedir, sendo o seu executor,
para ele, para o Zé, para alguns outros deste hemisfério,
um sentido respeito pela sua escolha solitária, comovedor,
que a sua morte não fosse em vão e nos faça pensar sério,
e nos empurre para o expurgar deste genocídio conspirador.

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