“Embora
me apetecesse escrever sobre este assunto
logo
no primeiro dia que veio a público, refreei
o
ímpeto por acreditar que, mesmo não sendo presciente,
o resultado, antes de o ser, já estava anunciado. Ou
seja,
tão certo como dois e dois serem quatro, o Governo,
não
aguentando a pressão do Bloco de Esquerda e a sua
ligação
aos artistas, iria ceder em toda a linha.
Parcialmente
foi o que aconteceu. O que eu não “adivinhei”
foi
que a Orquestra Clássica do Centro (OCC) não iria
ser
contemplada na segunda tranche.”
O
que se está a passar no país com os apoios atribuídos às artes é
uma vergonha! A hipocrisia reinante nos municípios é escandalosa!
Estamos a assistir a uma espécie de dança de marionetas, cada uma
com uma performance egoísta de modo a salientar-se no conjunto geral
e a tentar conquistar para si a maior fatia, seja do orçamento, seja
de protagonismo político. Para além disso, estamos perante um
quadro altamente politizado onde a esquerda, que já há muito manda
no sector, como maestro de batuta erguida, trocando a ordem natural
das coisas, dá ordens a quem decide superiormente.
Começou
logo com o Governo, ao delegar autoridade e habilitação num júri
de concurso nacional para atribuição de subsídios no quadriénio
de 2018-2021 e a seguir, perante a contestação dos não
contemplados, passando um atestado de incompetência ao jurados
nomeados para o efeito, com uma pirueta do Ministro da Cultura e do
Secretário de Estado, a titubear com arremedo vacilante, veio
acrescentando verbas a conta-gotas mas sempre tendo em conta a
satisfação das clientelas.
A
dissimulação continuou nas autarquias, com Rui Moreira, em nome do
Porto, a levantar bem alto a bandeira do fingimento. Como mestre de
cerimónias a receber contestatários, sem arriscar nada, dando um
exemplo de completo aproveitamento político, Moreira foi o exemplo
maior da jacobice paroleira. Sem estar minimamente preocupado com a
não contemplação de subsídios estatais às agremiações do
concelho do grande Porto, assistimos a um desempenho de excelência,
aliás, como já vem sendo costume pelo presidente da câmara
nortenha na divisão entre norte e sul.
Um
pouco a reboque do Porto, Manuel Machado, presidente da autarquia de
Coimbra, certamente depois de muito pensar, lá teria chegado à
conclusão de que, para ficar bem na fotografia e capitalizar, o
melhor seria ter um pé em cada margem e anunciar apoio aos não
contemplados na cidade pelo Governo. Foi um patrocínio pusilânime e
sem consistência que, a meu ver, só enganou os tolos, aqueles que,
por jugo de um bairrismo pacóvio e de imposturice, em nome da
“coltura” aceitam tudo sem questionar, sem contas de
balanço, e sem exame prévio às suas atividades. O mau exemplo vem sempre de cima.
A
simulação continuou e continua por parte dos citadinos quando, em
face da não abrangência, sobretudo, de duas companhias de teatro
profissionais. A maioria dos munícipes, com longos prantos
esparramados veio manifestar-se nas redes sociais contra a enorme
injustiça e arbitrariedade perpetrada pelo júri do concurso contra
os dois agrupamentos cénicos conimbricenses. Era bom perguntar a
estas pessoas, agora tão chorosas e tristonhas, quantas vezes foram
assistir a uma peça de teatro nos últimos cinco anos? Não é que
todos sejam obrigados a gostar de teatro, nada disso! O que é
preciso é mostrar coerência, isto sim! Apetece perguntar: afinal, qual é a cultura de Coimbra?
Embora
me apetecesse escrever sobre este assunto logo no primeiro dia que
veio a público, refreei o ímpeto por acreditar que, mesmo não
sendo presciente, o resultado, antes de o ser, já estava
anunciado. Ou seja, tão certo como dois e dois serem quatro, o
Governo, não aguentando a pressão do Bloco de Esquerda e a sua
ligação aos artistas, iria ceder em toda a linha. Parcialmente foi
o que aconteceu. O que eu não “adivinhei” foi que a
Orquestra Clássica do Centro (OCC) não iria ser contemplada na
segunda tranche.
Antes
de prosseguir, devo fazer uma ressalva: conheço de perto o trabalho,
a entrega, o amor e a dedicação de Emília Martins à frente da
direcção da OCC, que desde 2001, prejudicando a sua vida particular
e profissional, o quanto tem desenvolvido esforços para que Coimbra
possa continuar a manter uma orquestra de câmara em actividade.
É
público que à OCC não foi consignada qualquer verba governamental
que lhe permita assegurar os seus compromissos do presente e para o
futuro. As perguntas que emergem agora são:
-Sendo
os restantes contestatários contemplados, por que não foi a OCC, no
mesmo critério de (des)igualdade, agraciada? Não é de esquerda?
-O
que vai fazer o Bloco de Esquerda em face desta discriminação? Vai
manifestar-se?
-O
que vai fazer o presidente da Câmara Municipal de Coimbra? Sendo
parte do mesmo partido, vamos ver o seu protesto ser apresentado ao
Governo?
Ficam
as perguntas no ar. Vamos todos andar por aqui e, à medida que se
manifestam as estruturas competentes, vamos tomando nota e sobre a
sua forma de estar continuaremos a escrever.
Sem comentários:
Enviar um comentário