“Hoje
temos de pensar muito para se dar um passo maior que a perna -não
quer dizer que não fosse sempre assim, mas noutros tempos, por haver
mais dinheiro em circulação e os rendimentos das famílias ser
maior, podia-se arriscar.
Na
actualidade, quem se aventura sem rede corre o sério risco de cair e
ficar paraplégico para sempre.”
Nas
instalações da Escola de São Bartolomeu, na próxima terça-feira,
pelas 19h00, a convite do Núcleo de Coimbra da Confederação
Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME),
representado por Vitor Carvalho e Arménio Pratas, vão reunir-se os
comerciantes da Baixa para debater o presente e o futuro (que é já
amanhã) das suas/nossas vidas. De salientar que o secretário-geral
da confederação, José Brinquete, vem de Lisboa a Coimbra de
propósito para ouvir os profissionais de comércio.
Enquanto
comerciante e em nome de todos quantos aqui exercem a sua profissão,
se posso escrever assim, começo por agradecer à CPPME este renovado
esforço para, conjuntamente com os interessados, se procurarem
soluções de âmbito localizado. Claro que, para isto acontecer, é
preciso que os mercadores acorram em massa. Quanto maior for a adesão
à reunião, maior será a mensagem que chegará à Câmara Municipal
de Coimbra, a entidade política e administrativa local que deveria
estar mais interessada em apoiar esta classe e, num desprezo
escandaloso, nada faz, e ao Governo central, uma vez que a
Confederação, enquanto associação nacional, pode levar à
Assembleia da República, através de um grupo parlamentar, a
gravíssima situação económica/financeira que os comerciantes de
Coimbra estão a atravessar.
Para
quem, como eu, todos os dias calcorreia estas pedras da calçada,
descolando do seu balcão de conforto e falando com um e outro
colega, sabe/sente/pressente que a situação é muito preocupante.
Digo eu, especulando, é mais grave do que se pensa. E sem entrar em
grandes pormenores, porque sei do que escrevo, para muitos o único
caminho possível é o encerramento depois de muitos meses de renda
ficarem por pagar e outras dívidas por cabimentar. E os fechos estão
à vista de todos: em Janeiro encerraram 6 lojas e em Março 7. Neste
Abril e Maio já estão comprometidos com vários anúncios que
correm ao vento.
Quem,
há dias, tomou atenção a uma conferência de Imprensa da DECO,
mais que certo, apercebeu-se que, segundo declarações da entidade
de defesa de consumidores, 6% dos sobre-endividados nacionais
pertencem a pessoas que se meteram em negócios e falharam. Os seus
sonhos, legítimos de alcançarem uma vida melhor, pela inexperiência
e conjuntura, redundaram em desastre que dificilmente esquecerão.
Contrariamente ao que se apregoa, que o crescimento económico veio
para ficar, quase a empurrar os jovens para o empresariado, ser
empresário hoje só com uma grande dose de loucura. O que perpassa é
que a situação do país nunca esteve tão boa para se apostar.
Basta abrirmos qualquer revista suplemento de qualquer diário
nacional e, pela metamorfose apresentada, ficamos com uma ideia
completamente errónea da realidade das cidades. Mesmo sabendo que
não vai além de escassos meses, qualquer negócio novo, diferente e
original, é apresentado como uma lança em África. Depois, como
mostrou a DECO, as tragédias estão ao virar da esquina.
Hoje
temos de pensar muito para se dar um passo maior que a perna -não
quer dizer que não fosse sempre assim, mas noutros tempos, por haver
mais dinheiro em circulação e os rendimentos das famílias serem
maior, podia-se arriscar.
Na
actualidade, quem se aventura sem rede corre o sério risco de cair e
ficar paraplégico para sempre.
Os
únicos que ganham sempre, com um salto bem ou mal calculado, são a
Autoridade Tributária e o Governo. Não falando do género do
investidor do BES, sempre que alguém aplica dinheiro num negócio
próprio, seja com aforramento ou crédito, para além de desenvolver
a economia, através de impostos directos e indirectos,
financeiramente está a contribuir para o Fisco. Por outro lado, para
o Governo quanto mais pessoas se meterem em aventuras, sejam de
sucesso ou o contrário, melhor. São números a abater no Instituto
de Emprego e Formação Profissional.
E
estive para aqui a perorar como uma espécie de sermão aos peixes
porquê? Porque o futuro é dos jovens. Não são os mais velhos que,
na maioria, vão tocar a economia para a frente.
Voltando
à reunião que vai acontecer na próxima terça-feira sobre o
comércio da Baixa, é precisamente aos jovens que mais interessa
ouvir e intervir. No imediato, como meio de obtenção de rendimento,
são eles os mais interessados no futuro desta zona.
Como
todos sabemos, precisamente pela crise latente, os mais velhos estão
a largar os seus comércios e a passarem para os mais novos -e é
aqui, nesta passagem que cada um deve tomar atenção onde põe os
pés. Não se pense que estou a passar o ónus para quem trabalhou
uma vida inteira. Nada disso! Aliás, se há uma classe
desclassificada, espezinhada e desrespeitada pelo poder político,
acredite-se, é a dos comerciantes. Se assim não fosse, por exemplo,
teriam direito a subsídio de desemprego. E não têm! Querem
desconsideração maior?
Quem
conseguiu poupar alguma coisa ao longo da vida pode ter uma velhice
digna. Os que não conseguiram estarão em muito maus lençóis. E
com os jovens, aqueles que agora se lançam na vida comercial, podem
crer, será ainda muito pior. Porque já sou velho, talvez num
arremedo de falsa autoridade, deu-me para avisar.
Vale
a pena pensar nisto?
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