Escrevi
esta crónica em Julho de 2015.
Por
entender a sua actualidade, tomo a
liberdade
de a trazer novamente à colação.
Como é óbvio não pretende ofender alguém
em particular. Quem se abespinhar é porque
enfia a carapuça.
Como é óbvio não pretende ofender alguém
em particular. Quem se abespinhar é porque
enfia a carapuça.
Meu caro político partidário, espero que esta minha carta o vá encontrar de boa saúde e sobretudo com uma voz límpida, sem rouquidão, para a campanha eleitoral que está a viver intensamente, na busca de um lugar ao sol e eu, contra a minha vontade, tenho de gramar a chuva, o frio e outras depressões climatéricas.
Escrevo-lhe,
meu caro, para lhe dizer que, embora ainda estejamos no princípio da
romaria, já não aguento o forrobodó. Faz-me lembrar uma feira onde
se vende tudo e mais alguma coisa e o pregador, de microfone ao
peito, grita para o quem quer ouvir: “não paga cinco, não paga
três, só paga um! Mais, se comprar, ainda leva mais isto, mais
aquilo e aqueloutro!”. Acontece que, por um lado, já tenho a casa
cheia de tudo o que, como feirante, me quer despachar, por outro,
com o tempo, fui deixando de acreditar em vendedores de banha da
cobra. Por outras palavras, a sua propaganda barata não me
convence mesmo que me ofereça um Audi A6.
Já
estou farto, pá! Estou esgotado psicologicamente, pá! Não consigo
aguentar a sua lengalenga de vendedor de seguros, mentiroso
compulsivo. Veja se entende, você já me enganou há cerca de quatro
anos, lembra-se? Comprei-lhe uma apólice onde me prometia segurar a
minha vida em caso de infortúnio. Ora o que fez? Não só infernizou
o meu viver como, depois, não garantiu a minha sobrevivência. E
repare, não pense que estou a escrever visando apenas o
primeiro-ministro, enquanto chefe do governo, estou a visá-lo a si
também, enquanto líder de um partido de oposição. Onde estava
você quando o meu amigo Daniel, empresário, se suicidou? O que fez
você pelo meu amigo Manuel e a família quando perderam a casa e,
depois de uma vida de trabalho, foram colocados na rua como cães
danados? Que, como sabe, estes animais de quatro patas têm mais
protecção declarada do que os humanos que caem em desgraça. Onde
se encontrava você quando o meu amigo comerciante, o Francisco –o
nome é irrelevante-, depois de perder tudo o que angariou durante
uma vida de trabalho pediu as insolvências da firma e particular e
hoje vive de ajudas?
E
agora, depois de nada fazer por quem ainda trabalha neste país –sim,
por quem trabalha, porque você defende mais quem nada faz- vem
pedir-me outra vez o voto? Só se eu fosse parvo! Para não ouvir e
ver a sua imagem –porque só a sua visualização me causa
turbulência nas vísceras-, se eu pudesse, já que não consigo
evitar a sua presença visual, saía daqui para não voltar. Veja se
entende: só visualizar a sua figura, para além de me tirar do
sério, irrita-me de sobremaneira. Para mim, você é um
contorcionista social, um ser abjecto, que faz tudo para alcançar e
concretizar os seus mesquinhos interesses. Para si, Portugal é um
meio de alcançar os seus desmesurados intentos interesseiros e
jamais um fim como deveria ser se você fosse um político de quatro
costados, como deveria ser. Você é um aprendiz de feiticeiro que,
sem rasgo nem criatividade, agora, volta a empregar as mesmas
mistelas, as mesmas mezinhas para convencer um povo atrasado,
mesquinho, bacoco, que gosta de ser enrabado por uns meninos
de coro, sem história e sem classe, e que gosta de embandeirar em
arco.
E
sabe o pior que me pode acontecer? O que desencadeia a minha
frustração e me faz roer as unhas? É que na feira posso sempre
desviar caminho para não me cruzar com o vendedor barato, mas
consigo, mensageiro de ideias vazias, trauliteiro de promessas vãs,
não consigo evitar a sua ubiquidade. Se desligo a televisão, você
está no computador, se me afasto da Internet você está na rádio,
se apago a telefonia você está nas ruas em cartazes gigantescos.
Você é uma praga maléfica, um vírus, que não pára de me
atazanar o juízo. É certo que, por vezes, somente para me livrar de
si, apetece-me comprar tudo o que me quer impingir de uma vez só.
Mas desisto porque acho que não vai resolver nada. Você, como ser
mutante, multiplica-se até ao infinito e vai continuar a azucrinar
a minha cabeça.
Sabe
uma coisa? Se eu fosse mal-educado, ou mal formado, mandava-o foder!
Acontece que sou um tipo humilde e, por isso mesmo, como não sou
dado a impropérios, olhe: vá bugiar!
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