terça-feira, 24 de abril de 2018

O HOMEM QUE JÁ FOI INFINITO, ELDORADO E AGORA É UM RIBEIRO (3)





III ACTO


A homenagem a Manuel Ribeiro, “Manel do Eldorado” ou “Manel do Infinito” como também é conhecido, prosseguia a bom ritmo. De estômago bem composto e corpos bem refastelados, apesar de haver pouco espaço para espreguiçar, o ambiente estava no ponto de rebuçado. As dissertações elogiosas ao consagrado continuavam com bom andamento no terceiro acto.
Agora era um grupo de ex-funcionárias do Eldorado e do Infinito, lojas de pronto-a-vestir que o louvado teve na Baixa de Coimbra entre 1969 e 2000. Chamaram à colação pequenos trechos comerciais. Uma das senhoras disse: “enquanto nosso patrão, foi um homem bom, que nos deixou crescer e seguir as nossas vidas. Tudo o que o senhor Manuel Ribeiro nos ensinou foi muito importante! Claro que não esqueço que quando o cliente não comprava, por exemplo uma calça de ganga, lá vinha a interrogação: “porque é que o freguês não comprou? Temos tantas calças!”. Para ele, cliente que não comprasse era sermão certo. Dava-nos cabo da cabeça. Foi lá que aprendi quase tudo sobre comércio e também no senhor Francisco e na Dona Cila, aqui presentes, nas Modas Veiga, na mesma rua.”
Um antigo colaborador do “Manel”, no Eldorado, Manuel Ferreira contou o seguinte: “em 1975 houve uma greve dos empregados do comércio por melhores salários. Os empregados do Eldorado ganhavam acima da tabela. Então, o “Manel veio ter connosco e perguntou: “vocês fazem greve? É que é para saber se abro a loja ou não”. Nós respondemos: não senhor, não fazemos!”. O “Manel”, com aquela sua convicção que lhe reconhecemos, disse: “pela solidariedade para com os vossos colegas, vocês vão fazer greve!
A seguir foi Manuel Saraiva Marques a usar do elogio: “Conheço o “Manel” muito antes de estar no Eldorado. Antes de ser o que foi já era o “Manel da “Ti” Matide, homem do rock, contestatário, contestatário sempre! -a “Ti” Matilde vendia sardinha aqui em Chelo e no concelho, de porta-em-porta. Ia abastecer-se a Coimbra
O presidente da Câmara Municipal de Penacova, Humberto Oliveira, tomando o microfone, alegou: “Começo por dizer que é com muito gosto que estou aqui! Estou na qualidade de presidente da edilidade, mas estaria na mesma se o não fosse! A minha primeira calça de ganga Lewis 501 foram compradas no Infinito”, a última loja do Ribeiro, na Rua da Sofia.
O último dos admiradores a usar da palavra foi Filipe Ribeiro, filho do agraciado. Colocou o seu smartfone em alta voz e ouviu-se a voz de José Afonso, na canção “Filhos da Madrugada”.
Para finalizar, coube a vez ao agraciado, que disse: “hoje tenho dificuldade em encontrar palavras. Hoje fiquei atónito pelo desempenho da Filarmónica Lorvanense em tocar especialmente para mim, o Manuel Ribeiro. O meu avô dizia algumas vezes: “olha, “Manel”, a música é o elemento da alma. Quando a música tomar conta dos homens não haverá mais guerras!
Foi uma honra ter estado aqui hoje. Afinal valeu a pena!
Chelo é a minha aldeia! Chelo é a minha Pátria!

PRESIDENTE HONORÁRIO

Novamente Amável Ferreira, dirigente do Rancho Folclórico “As Paliteiras de Chelo”, pegou no micro e anunciou: “a direcção deste salão decidiu atribuir o nome de Manuel Ribeiro a esta colectividade. Seguidamente, vai ser descerrada a placa com o seu nome. Para além disso, ao lado do seu avô e do seu pai, vamos colocar uma sua foto.”
Em seguida todos os olhares foram para a porta junto ao palco -cujo pagamento da sua construção, foi dito, esteve a cargo do referenciado nos tempos áureos- onde o engenheiro Ralha, Humberto Oliveira, presidente da autarquia de Penacova, acompanhado por Pedro Coimbra, deputado na Assembleia da República pelo círculo de Coimbra, descerraram uma placa em madeira, da autoria de Jorge Neves, um conterrâneo da terra.
O último acto solene foi o destapar da fotografia do “Manel” na parede da vetusta instituição União Popular e Cultural de Chelo.
Até altas horas da matina, as festividades passaram para uma recriação do tempo antigo. Vários artistas do grupo folclórico mostravam uma cena popular onde não faltou a produção de palitos, o diz-que-disse brejeiro, o amassar da broa, o deitar do quebranto, os pregões tão característicos dos vendedores do povo e o bailinho popular no largo da capela.
Pela sua entrega a esta causa nobre de reconhecimento a um homem que estando agora na mó de baixo mas que, quando podia, muito deu à sua terra, o povo de Chelo está de parabéns! Uma lição para Portugal... para quem a aceitar e souber perceber.

TEXTO RELACCIONADOS

"O homem que já foi Infinito, Eldorado e agora é um Ribeiro" (2)
"O homem que já foi Infinito, Eldorado e agora é um Ribeiro" (1)




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