III ACTO
A
homenagem a
Manuel Ribeiro, “Manel
do Eldorado” ou
“Manel do Infinito”
como também é conhecido, prosseguia a bom ritmo. De estômago bem
composto e corpos bem refastelados, apesar de haver pouco espaço para
espreguiçar, o ambiente estava no ponto
de rebuçado. As
dissertações elogiosas ao consagrado continuavam com bom andamento
no terceiro acto.
Agora
era um
grupo de ex-funcionárias do Eldorado e do Infinito, lojas de
pronto-a-vestir que o louvado teve na Baixa de Coimbra entre 1969 e
2000. Chamaram à colação pequenos trechos comerciais. Uma das
senhoras disse: “enquanto
nosso patrão, foi um homem bom, que nos deixou crescer e seguir as
nossas vidas. Tudo o que o senhor Manuel Ribeiro nos ensinou foi
muito importante! Claro que não esqueço que quando o cliente não
comprava, por exemplo uma calça de ganga, lá vinha a interrogação:
“porque é que o freguês não comprou? Temos tantas calças!”.
Para ele, cliente que não comprasse era sermão certo. Dava-nos
cabo da cabeça. Foi lá que aprendi quase tudo sobre comércio e
também no senhor Francisco e na Dona Cila, aqui presentes, nas Modas
Veiga, na mesma rua.”
Um
antigo colaborador do “Manel”,
no Eldorado, Manuel Ferreira contou o seguinte: “em
1975 houve uma greve dos empregados do comércio por melhores
salários. Os empregados do Eldorado ganhavam acima da tabela. Então,
o “Manel veio ter connosco e perguntou: “vocês fazem greve? É
que é para saber se abro a loja ou não”. Nós respondemos: não
senhor, não fazemos!”. O “Manel”, com aquela sua convicção
que lhe reconhecemos, disse: “pela solidariedade para com os vossos
colegas, vocês vão fazer greve!”
A
seguir foi Manuel Saraiva Marques a usar do elogio: “Conheço o
“Manel” muito antes de estar no Eldorado. Antes de ser o que foi
já era o “Manel da “Ti” Matide, homem do rock, contestatário,
contestatário sempre! -a “Ti” Matilde vendia sardinha aqui em
Chelo e no concelho, de porta-em-porta. Ia abastecer-se a Coimbra”
O
presidente da Câmara Municipal de Penacova, Humberto Oliveira,
tomando o microfone, alegou: “Começo por dizer que é com muito
gosto que estou aqui! Estou na qualidade de presidente da edilidade,
mas estaria na mesma se o não fosse! A minha primeira calça de
ganga Lewis 501 foram compradas no Infinito”, a última loja do
Ribeiro, na Rua da Sofia.
O
último dos admiradores a usar da palavra foi Filipe Ribeiro, filho do agraciado.
Colocou o seu smartfone em alta voz e ouviu-se a voz de José
Afonso, na canção “Filhos da Madrugada”.
Para
finalizar, coube a vez ao agraciado, que disse: “hoje tenho
dificuldade em encontrar palavras. Hoje fiquei atónito pelo
desempenho da Filarmónica Lorvanense em tocar especialmente para mim, o
Manuel Ribeiro. O meu avô dizia algumas vezes: “olha, “Manel”,
a música é o elemento da alma. Quando a música tomar conta dos
homens não haverá mais guerras!
Foi
uma honra ter estado aqui hoje. Afinal valeu a pena!
Chelo
é a minha aldeia! Chelo é a minha Pátria!”
PRESIDENTE
HONORÁRIO
Novamente
Amável Ferreira, dirigente do Rancho Folclórico “As Paliteiras de
Chelo”, pegou no micro e anunciou: “a direcção deste salão
decidiu atribuir o nome de Manuel Ribeiro a esta colectividade.
Seguidamente, vai ser descerrada a placa com o seu nome. Para além
disso, ao lado do seu avô e do seu pai, vamos colocar uma sua foto.”
Em
seguida todos os olhares foram para a porta junto ao palco -cujo
pagamento da sua construção, foi dito, esteve a cargo do
referenciado nos tempos áureos- onde o engenheiro Ralha, Humberto
Oliveira, presidente da autarquia de Penacova, acompanhado por Pedro
Coimbra, deputado na Assembleia da República pelo círculo de
Coimbra, descerraram uma placa em madeira, da autoria de Jorge Neves,
um conterrâneo da terra.
O
último acto solene foi o destapar da fotografia do “Manel”
na parede da vetusta instituição União Popular e Cultural de
Chelo.
Até
altas horas da matina, as festividades passaram para uma recriação
do tempo antigo. Vários artistas do grupo folclórico mostravam uma
cena popular onde não faltou a produção de palitos, o
diz-que-disse brejeiro, o amassar da broa, o deitar do
quebranto, os pregões tão característicos dos vendedores do povo e
o bailinho popular no largo da capela.
Pela
sua entrega a esta causa nobre de reconhecimento a um homem que
estando agora na mó de baixo mas que, quando podia, muito deu à
sua terra, o povo de Chelo está de parabéns! Uma
lição para Portugal... para quem a aceitar e souber perceber.
TEXTO RELACCIONADOS
"O homem que já foi Infinito, Eldorado e agora é um Ribeiro" (2)
"O homem que já foi Infinito, Eldorado e agora é um Ribeiro" (1)
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