Segundo os jornais de hoje, a reunião do
executivo de ontem, entre vários, aprovou dois assuntos que merecem reflexão e
que podem constituir um ponto de viragem para a revitalização e o futuro da
Baixa que há muito se procura. Vou elencá-los:
O PROJECTO DE RECONVERSÃO DO MERCADO MUNICIPAL
Segundo o Diário de Coimbra, “Câmara quer restaurantes a dar nova vida ao
mercado – Autarquia inspira-se em modelos de sucesso e conta investir meio
milhão de euros para acolher novas actividades no Mercado D. Pedro V.”
Contando um pouco de história desta “praça” popular, depois de uma acentuada
degradação que já vinha desde o princípio do século XX, quando, em 1911, “as impróprias vedações em madeira foram
substituídas por muros de pedra e cal”, com a imprensa a pedir a sua
transferência para outro local pela expansão da cidade “o mostrengo que hoje ainda ali se encontra, não deve continuar por mais
tempo, para brio e lustre dos que dirigem os negócios do município
conimbricense e para bom crédito e honra da cidade" –Gazeta de
Coimbra, de 4 de Abril de 1914 e fonte-, proclamava-se uma solução para o Mercado.
Ou a sua transferência ou obras de fundo para o existente. Foi assim que, sob a
orientação de Manuel Machado, na altura e actual presidente da Câmara Municipal
de Coimbra, o camartelo iniciou a sua demolição em Outubro de 2000 e um ano depois,
em 17 de Novembro de 2001 e ainda a tempo de fazer parte da campanha eleitoral para
a reeleição do promotor, com pompa e muita circunstância, seria inaugurado um
bonito edifício a fazer lembrar uma moderna grande superfície comercial.
Machado viria a perder as eleições para Carlos Encarnação.
Fosse pela queda política do pai, pela alteração radical do edificado, pela mudança dos costumes, ou talvez mais certo
pelos licenciamentos e aberturas da Makro e do Continente, em 1993, e muitos
outros shopping's que lhes sucederam, a verdade é que o “novo” Mercado Municipal progressivamente foi perdendo o interesse
da população conimbricense. Tal como em muitas cidades do país, nos nossos dias
e na mesma linha do comércio tradicional, esta praça de produtos populares
arrasta-se pela amargura e com os seus vendedores a tentarem sobreviver. Foi
assim que, largando os velhos conceitos e misturando com os tempos hodiernos, alguns
mercados nacionais como, por exemplo, no Bom Sucesso no Porto, alargando o seu
horário, as bancas de peixe deram lugar a modernos expositores de petiscos, sandes
leitão, tapas, coktails e produtos groumet
de elevada qualidade e ali se pode degustar o melhor da gastronomia local,
nacional e estrangeira.
Ontem no executivo, “com o projecto ainda em fase de desenvolvimento”, deu-se um passo
importante para a reconversão do Mercado D. Pedro V e adaptá-lo às novas
funcionalidades do século XXI. Por que várias vezes já falei, aqui, sobre esta urgente
mudança, naturalmente, fico muito contente.
O PROJECTO DE REGULAMENTO DE HORÁRIOS
Segundo o Diário as Beiras de hoje, “Machado quer “pôr ordem no caos” dos
horários”. “A abertura de um período
de 45 dias para apreciação pública sobre os horários de funcionamento de
estabelecimentos comerciais, nomeadamente na área da restauração, bebidas e
diversão noturna, foi ontem aprovada, por unanimidade, em reunião da câmara
municipal.”
Segundo o Campeão das Províncias online, a proposta no projecto de
Regulamento municipal de horários de funcionamento dos estabelecimentos
comerciais aponta as 02h00 para o fecho de bares e restaurantes na zona
classificada como Património da Humanidade da UNESCO. “Quanto às esplanadas, a venda de bebidas só deverá ser permitida até
às 24h00, passando o limite para as 22h00 quando elas estejam implantadas em
espaço público de zonas com habitações num raio de 50 metros. Se as
administrações de condomínios ou os moradores derem permissão, então o limite
máximo de funcionamento pode ser alargado até à meia-noite.”
Ainda que este projecto venha sofrer pequenas
alterações de pormenor, a bem de um futuro para moradores, era óptimo que o
limite para as 02h00 se mantivesse na área classificada como Património
Mundial, Alta, zona da Universidade, e Baixa, circunscrição envolvente da Rua
da Sofia.
É de antever que a discussão
pública irá ser invulgarmente participada, sobretudo pelos hoteleiros. Com toda
a estima por quem investe na restauração, mas, num egoísmo que se entende mas
não se aceita, raramente estes profissionais querem saber do necessário
respeito devido aos moradores e ao seu direito ao descanso. Em Coimbra ficou célebre o caso Vitália Ferreira, quando em 2009 –no tempo do edil Carlos Encarnação- viria a ser condenada em
tribunal por ofensa a pessoa colectiva. No caso tratou-se de um diferendo entre
esta moradora e um bar instalado em frente à sua residência, na Rua Padre
António Vieira.
Se tiver força para fazer frente a um lóbi poderoso e a muitos interesses –e, pela revitalização e ordem no burgo, é o que se espera-, constituídos por investidores,
hoteleiros, jovens e notívagos, pela primeira vez a autarquia (se depois pugnar
pelo cumprimento da norma) lava a sujeira que, pela omissão, tem espalhado na
Alta, na Baixa –que, aqui, por enquanto ainda é incipiente- e em vários pontos
da cidade, obrigando residentes antigos a migrarem para outras cidades. É
altura da Câmara Municipal verificar que nem todo o investimento é saudável e
reprodutivo. Como a separar trigo do joio, é preciso saber escolher.
2 comentários:
Meu caro amigo Sr Luís.
Por acaso o Sr sabe em que moldes querem fazer essa reconversão do mercado municipal que o sr tanto elogia? Tem a certeza que esses mercados tipo a que se refere em Lisboa e Porto são assim um sucesso tão grande? Por acaso já visitou alguns deles e falou com os operadores desses Mercados? Não acha que a baixa de Coimbra tem restauração a mais para a clientela da mesma? Já contactou a ACMC ou algum comerciante desse Mercado para saber o que acham desse tipo de obras? Meio milhão de euros não será dinheiro a mais para gastar num Mercado com pouco mais de 10 anos?Cuidado a política é muito traiçoeira.
Meu caro amigo Sr Luís.
Por acaso o Sr sabe em que moldes querem fazer essa reconversão do mercado municipal que o sr tanto elogia? Tem a certeza que esses mercados tipo a que se refere em Lisboa e Porto são assim um sucesso tão grande? Por acaso já visitou alguns deles e falou com os operadores desses Mercados? Não acha que a baixa de Coimbra tem restauração a mais para a clientela da mesma? Já contactou a ACMC ou algum comerciante desse Mercado para saber o que acham desse tipo de obras? Meio milhão de euros não será dinheiro a mais para gastar num Mercado com pouco mais de 10 anos?Cuidado a política é muito traiçoeira.
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