segunda-feira, 3 de agosto de 2015

RUA DA SOFIA QUÊ?





O relógio electrónico da Farmácia Universal marca 14h15. Ao lado, em frente à Câmara Municipal de Coimbra, um grupo de cerca de trinta chineses está parado a apreciar a paisagem. Alguns deles captam imagens da cidade através dos telemóveis. Interrogo um deles se o guia turístico está por perto. Não entendem. No meu inglês desgraçado, muito pior que o falado pelo “Zé Camarinha”, senhor de todas as gajas boas desta terra e para além dela, interrogo se algum deles fala português. Chamam um conterrâneo. É macaense, mas exprime-se tão bem em português como eu inglês. Não importa nada. Estamos muito bem um para o outro. Está de ver que nos vamos entender. Apontando a antiga rua dos colégios, pergunto-lhe se sabe que ali começa a Rua da Sofia e classificada pela Unesco de interesse mundial. “Não, não sabia! E parece que aqui, no grupo, ninguém sabe!”, respondeu-me num “pretuguês” mal-amanhado. Estão ali estacionados porque estão à espera da guia-turística. Foi à Câmara municipal tratar de qualquer coisa. De ali vão para a Universidade, enfatiza. Passados minutos, em fila indiana, atravessaram a passadeira em frente à Caixa Geral de Depósitos e, de guarda-chuvas a fazer de resguardo de sol, dirigiram-se para a Alta da cidade.
No meu franzir de sobrolho, quando atravessava a Praça 8 de Maio, pareceu-me ouvir um sussurro, arrastado e como se fosse de um velho já muito velho e centenário, vindo do Panteão Nacional, a Igreja de Santa Cruz: “puta que pariu isto! Andei eu de alpercatas e a carregar uma espada de mais de cinco quilos a matar mouros; num mau exemplo que nunca mais apaguei para os vindouros, cheguei a roupa ao pêlo da minha mãe para ver isto? Dá a Unesco nozes a quem não tem dentes para as comer! Porca miséria de gente rica que não sabe dar uso ao que tem!”

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