O relógio electrónico da Farmácia Universal
marca 14h15. Ao lado, em frente à Câmara Municipal de Coimbra, um grupo de cerca
de trinta chineses está parado a apreciar a paisagem. Alguns deles captam
imagens da cidade através dos telemóveis. Interrogo um deles se o guia
turístico está por perto. Não entendem. No meu inglês desgraçado, muito pior
que o falado pelo “Zé Camarinha”,
senhor de todas as gajas boas desta terra e para além dela, interrogo se algum
deles fala português. Chamam um conterrâneo. É macaense, mas exprime-se tão bem em português como eu inglês. Não importa nada. Estamos muito bem um para o outro.
Está de ver que nos vamos entender. Apontando a antiga rua dos colégios, pergunto-lhe
se sabe que ali começa a Rua da Sofia e classificada pela Unesco de interesse
mundial. “Não, não sabia! E parece que
aqui, no grupo, ninguém sabe!”, respondeu-me num “pretuguês” mal-amanhado. Estão ali estacionados porque estão à
espera da guia-turística. Foi à Câmara municipal tratar de qualquer coisa. De
ali vão para a Universidade, enfatiza. Passados minutos, em fila indiana,
atravessaram a passadeira em frente à Caixa Geral de Depósitos e, de
guarda-chuvas a fazer de resguardo de sol, dirigiram-se para a Alta da cidade.
No meu franzir de sobrolho, quando atravessava
a Praça 8 de Maio, pareceu-me ouvir um sussurro, arrastado e como se fosse de
um velho já muito velho e centenário, vindo do Panteão Nacional, a Igreja de
Santa Cruz: “puta que pariu isto! Andei
eu de alpercatas e a carregar uma espada de mais de cinco quilos a matar
mouros; num mau exemplo que nunca mais apaguei para os vindouros, cheguei a
roupa ao pêlo da minha mãe para ver isto? Dá a Unesco nozes a quem não tem dentes para as comer! Porca miséria de gente rica que não
sabe dar uso ao que tem!”
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