TEXTO DE ALEX RAMOS
(EM
PARCERIA COM LUÍS FERNANDES)
Habito numa zona privilegiada de Coimbra: a Baixa.
Vivo numa das ruas, Visconde da Luz, que chamo eixo norte-sul. Por que chamo
assim? Se consultarmos no mapa, a minha artéria e a Ferreira Borges
formam uma espécie de avenida que começa no Largo da Portagem, a sul, e
se prolonga até à Praça 8 de Maio, a norte, e onde está o Panteão Nacional. Invoco
esta denominada avenida pois outrora foi uma via cheia de vida, de trânsito,
de lojas, de habitantes. Hoje está vedada aos automóveis, se bem que somente por
alguns pois há privilegiados que podem passar com “tuk tuk” nesta artéria que é pedonal. Sendo pedonal, é para as pessoas
andarem a pé e passearem e não deveria ser para carros híbridos como é o “tuk tuk” mas disso falarei noutro mail.
A retirada do trânsito neste eixo prejudicou
o comércio na Baixa? Sim ou não? A verdade é que muitos comerciantes instalados
com os seus comércios se queixam por esta via ter sido encerrada à circulação de
transportes colectivos e particulares.
Recuando no tempo, as pessoas chegavam ao
Largo da Portagem, vindas de fora, e entravam logo neste eixo. Podiam
estacionar em redor e fazer compras. Havia movimento, havia dinamismo. Era a porta
de entrada da zona comercial. Hoje para estacionar as pessoas têm que ir até ao
meio da Avenida Fernão de Magalhães algumas vezes apanhando hora de ponta onde
estão muito tempo parados. Para entrar na Rua da Sofia, para fazer a mesma
distancia que fizeram na avenida mas agora no percurso inverso, a mesma coisa.
Como não bastasse, esta antiga rua dos colégios não tem estacionamento privado.
Ou seja, qualquer consumidor tem que deixar o carro longe e vir a pé
umas centenas de metros com compras nas mãos, por vezes mais carregado
que um burro –por momentos comparemos com o que se passa nas grandes superfícies.
Está de ver por que muita gente fugiu para o Dolce Vita ou o Fórum em
detrimento da zona central da cidade. A Baixa precisa de ter mais estacionamento
gratuito. O pouco que tem, como é o caso do Terreiro da Erva, vai desaparecendo
aos poucos. Todo o espaço público destinado a automóveis acaba por ser onerado.
Em silogismo, é como se a autarquia, prejudicando o comércio tradicional,
estivesse a trabalhar para os parques privados. Por parte da edilidade, deveria
haver uma maior preocupação com o estacionamento gratuito e não há. Deveriam
ser construídos mais espaços desonerados para colocar as viaturas que aportam à
cidade. É uma lacuna continuada.
Voltando ao específico, há muitos
anos que a autarquia não se define com a gratuitidade ao Sábado. Invoca-se que
neste dia da semana é gratuito mas nada está anunciado e, na prática e pelo
desconhecimento, as pessoas pagam na mesma. Isto beneficia quem? E quem sai
prejudicado? O comércio, obviamente!
Mas a meu ver há uma forma de
revitalizar esta zona velha: a chamada avenida central. Esta alameda, bem
conhecida por maus motivos pela população de Coimbra, onde foi esventrada parte
do coração da Baixa e foram destruídos para sempre históricos edifícios e lojas
da nossa cidade em prol de algo que o Governo teima em não avançar: o maldito Metro
Ligeiro de Superfície. Como se sabe, esta via central teria como
projecto inicial uma linha que iria até aos hospitais, Pediátrico e HUC,
Hospitais da Universidade de Coimbra, começando na zona da Loja do Cidadão. O Estado
parou com as obras do Metro por que estamos longe do Porto e de Lisboa,
Somos meramente Coimbra, uma plataforma rodoviária, a tal cidade mítica por
onde passaram muitos dos actuais políticos, apenas mais um burgo entre muitos
neste País esquecido e apenas lembrado quando convém. Como se costuma dizer:
infelizmente Portugal é Lisboa e Porto. O resto do território é paisagem de
interior.
A futura Avenida Central está para
ser construída junto à Loja do Cidadão. Como habitante desta bela cidade,
classificada pela Unesco como Património Mundial, é triste, é desolador ver uma
ferida enorme que teima não sarar. Entre indemnizações, expropriações e estudos
de projectos, já se gastaram cerca de 14,5 milhões de euros nestas demolições.
Por que não se avança para o que falta para ligar o Largo das Olarias à Rua da
Sofia? A ser assim, aliviava o trânsito na Avenida Fernão de Magalhães e Sofia.
Para além disso, com o Terreiro da Erva melhorado, ambos, seriam um complemento
para revitalizar a Baixa e criar a dinâmica perdida dos anos de 1980. Já agora,
a talhe de foice, deveria substituir-se a toponímia de avenida central por
outro qualquer nome de alguém e desde que reconhecido globalmente na Lusa
Atenas. A título opinativo, e por que não Mário Nunes? Uma cidade que não
homenageia homens ilustres da cidade –e quando o faz tem sempre em mente o calculista
lado partidário- pelo seu valor é uma cidade mórbida, apagada, sem luz, sem
cultura e que transmite aos vindouros uma página errada da sua história.
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