(Foto de arquivo)
Na última segunda-feira, o executivo municipal
aprovou por maioria a requalificação do Terreiro da Erva. Segundo o Diário de
Coimbra, a obra, no valor de 519.891,39 euros, foi adjudicada à empresa
Vibeiras S.A. e a empreitada tem o prazo de execução de oito meses para ser
concluída.
Como já vem sendo hábito, nas votações camarárias, só
Ferreira da Silva, vereador dos Cidadãos por Coimbra, votou contra a execução desta
obra “absolutamente necessária, mas com a
realização de escavações arqueológicas”. Fugindo um pouco ao tema que me
levou a escrever este texto, a meu ver e procurando somente a honestidade
intelectual, o que transparece para o colectivo, sobretudo em questões fracturantes
para a cidade, é que a verdadeira oposição na autarquia está apenas
representada por este edil. Gostava de ver mais intervenções da Coligação por
Coimbra -enquanto maior representante na contraposição-, liderada por Barbosa
de Melo, estimava ver menos abstenções de Francisco Queirós, vereador da CDU –Coligação
PCP-PEV-, e mais vincadas posições a favor ou contra. A abstinência, no tomar
de posição em assuntos relevantes, está a tornar-se demasiado previsível, o
que, a continuar assim, parece mostrar que o Partido Comunista, na urbe, se encontra
em câmara ardente.
Voltando ao tema que me deu azo a escrever,
ainda que entendendo os argumentos contrários –sobretudo pela celeridade de
concretização do projecto-, não consigo compreender como é que se iniciam os
trabalhos de melhoramento da praça mais odiada por todos, moradores
comerciantes e transeuntes –pela recorrência da prática de toxicodependência-,
e não se aproveita para fazer um estudo arqueológico profundo. É minha
convicção de que vão ser feitos obrigatoriamente através do tribunal. Não é
preciso ser presciente para antecipar que mal uma retroescavadora comece a
escavar o solo do Terreiro da Erva imediatamente uma providência cautelar vai
obrigar a parar os serviços e a fazer o que, em nome de todos, deveria ser
feito voluntariamente. Com a consequência de arrastar dos trabalhos e com
custos elevados para os operadores comerciais na zona de intervenção. Ora, a
meu ver, esta recorrência à judicatura para que a Câmara Municipal cumpra uma
obrigação pública que lhe é inerente não dignifica o executivo. O que
transparece é que, buscando fins egoístas, se trata de uma batalha política partidária
cujo ónus se pretende que caia em cima de quem assine a acção de reivindicação.
Como se sabe, há cerca de dois anos, a Rua da
Sofia, juntamente com a Universidade, foi classificada pela Unesco como
Património Mundial. Acontece que, talvez por falta de divulgação nos hotéis, no
posto de turismo e outros, não é visitada. Os turistas, na melhor das hipóteses
e se chegarem à Câmara Municipal –já que o trajecto normal é sair no Largo da Portagem,
subir ao Arco de Almedina e desaguar na Universidade- nunca cortam para a
antiga rua dos colégios. Como é de prever, imagine-se que se vai esburacar e “se encontram as ruínas da igreja de S.
Justa-a-Velha, construída inicialmente no século XI, modificada e alteada no
XIV e abandonada no XVII, pelo motivo do costume: as cheias do Mondego, que
tanto destruiu mas que sob as areias que espalhou tanto nos guarda. E que pouco
sabemos dela, sendo esta uma oportunidade única para através da Arqueologia a
conhecermos. Retira-se o alcatrão, e uns 30 cm abaixo lá estão as grossas
paredes (de resto os topos de dois arcos seus continuam embutidos num prédio
que ali se mantêm) –extracto de uma crónica do meu amigo João José Cardoso
publicada no Diário as Beiras.
Estas
descobertas poderiam ou não ser o catalisador para levar os digressionistas a
atravessarem a rua da sabedoria? É claro que sim! Tal como escreve João
Cardoso, em metáfora, fará algum sentido começar a casa pelo telhado,
esquecendo a história da cidade? E acima de tudo, digo eu, sendo esta mesma
história o seu motor económico? Se calhar, para quem a pressa é o objecto
maior, faz.
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