Hoje, na Rua das Padeiras, foi encontrada uma
carteira com vários milhares de euros e sem qualquer identificação. Seriam à
volta das 8h00 quando Rui Humberto Silva, marido de Dulcínia Alves,
proprietária da Frutaria com o mesmo nome, ia para meter a chave na ranhura da
fechadura e se deu perante tão estranho achado. “No primeiro impacto –confidencia-, olhei para aquilo e até fiquei abismado. Sei lá, a gente houve dizer
tanta coisa, não é? Não sei se me entende, a primeira reacção foi assim do género
ai Nossa do Agrelo me valha, que me colocaram aqui uma bomba! Mas, logo a
seguir, comecei a reflectir: ora, ora! Para que diabo me iam fazer mal? Nem
tenho inimigos nem nada! E devagarinho, um pouco temeroso, assim com a mão a
avançar lentamente em direcção ao objecto –não sei se está acompanhar o meu
raciocínio-, lá peguei na coisa. Foi então que abri e… ai, Meu Deus! Tantas
notas! A primeira reacção que tive foi olhar para cima, para o Céu, e
mentalmente, agradecer: obrigado Pai, finalmente ouviste as minhas súplicas!
Fiquei tão contente que você não imagina. Palavra de honra! Entrei para dentro da
loja invadido por suores frios. Frios? Já nem sei eram transpirações geladas se
tórridas. Eu não estava em mim. O que sei é que comecei logo a fazer planos.
Com esta massa toda posso comprar um carrito novo, ou, se calhar, comprar umas
mobiliazitas novas lá para casa, à patroa. Foi então que a filha da mãe da
minha consciência me começou a martirizar. Eu seja cego! Até parecia coisa má!
Era como se eu estivesse a ouvir uma voz dentro da minha cabeça: "Ruizinho, este
dinheiro não é teu! Se queres enriquecer, trabalha desgraçado! Quem sabe se
todo este dinheirão não pertencerá a alguém que, para além de lhe fazer imensa
falta, a esta hora estará numa imensa aflição? Não, não, Rui! Tu sempre foste
um homem de bem! Tens de continuar a chafurdar para pagar as tuas contas. Ficar com este dinheiro, que não é teu, não
podes!”
Interrompo o esclarecimento do
Rui Silva para lhe perguntar: porque não entrega a carteira na esquadra da PSP?
Responde o Rui: “Isso não! Sei lá se
depois não ficam com a massa? Tenha dó! Eu entrego a quem provar pertencer todo
este dinheiro. Isso faço! Mas quero um agradecimento! Não sei se estou a ser
claro?! Venham cá, digam a quantia, a cor da carteira e o modelo, e eu entrego.
Juro que faço isso! Confesso que numa primeira fase ainda pensei em ficar com
ele mas, pronto! Hei-de continuar a ser pobre!”
Portanto, leitor, se acaso souber de alguém
que tivesse perdido uma data de massa, faça o favor de o mandar à Rua das
Padeiras, à Frutaria Dulcínia. A bem de uma honestidade que já pouco se vê, o
Rui Silva agradece. Obrigado.
1 comentário:
pra melhor oh está bem está be,. pra pior oh já basta assim
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