Ilusoriamente, porque o relógio apagou-se há
uns anos e nunca mais piou, estariam
a bater as sete badaladas –correspondentes a dezanove horas- na torre sineira
da Igreja de Santa Cruz quando a pouco
mais de uma dúzia de pessoas entrou para o Salão Nobre da Câmara Municipal de
Coimbra. Estava anunciada uma Assembleia-Geral da APBC, Agência para a Promoção
da Baixa de Coimbra. Cerca de quinze dias antes houvera uma tentativa de
reunião mas como não fora convocada com o prazo legal, ainda que contra a sua
vontade e apontando os canhões ao causador –que por acaso até sou eu-, foi
repetida esta agora. Obviamente depois de enviadas cartas registadas aos cerca
de uma centena de associados da APBC, como rezam os Estatutos da agência. Vou então continuar pegando no texto de ontem.
O salão com capacidade para cerca
de duas centenas de pessoas e apenas com 15 ocupantes das cadeiras parecia
um lugar fantasmagórico.
Associados da agência de
dinamização para a Baixa seriam cerca de uma dezena. Os restantes teriam a ver
com a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e outros representantes dos órgãos sociais
da APBC.
Depois de apresentar uma
credencial de representação, a mesa foi presidida por um assessor do Presidente
da CMC, Manuel Machado, e, por inerência, este também presidente da Mesa da
Assembleia-Geral da APBC –não refiro o nome do assessor apenas por uma razão:
não me recordo –façam o favor de não pensarem que sou malcriado, como me
apelidou este homem lá na sessão. Juro que sou bem-criado, enfim dentro das
circunstâncias possíveis, como devem calcular. Apenas por isso, pelo lapso, não indico a sua graça.
Tenho de dizer que este senhor, de voz grave de tenor e bem colocada, que se
disse jurista, que não conheço, me deixou uma tremenda má impressão –não tenho
dúvida que em relação à minha pessoa para com ele teria havido completa
reciprocidade. Isto é, nem eu iria à ópera com ele nem ele se sentaria ao meu
lado no Teatro São Carlos. Ou seja, as nossas simpatias comuns andarão proporcionalmente
ao índice simpático do povo em relação ao Governo da Nação. De grosso modo a
afeição andará pelas ruas da amargura. Como a saudade não nos apoquenta, que o
homem da voz melodiosa fique bem, graças a Deus, que eu procurarei fazer o
mesmo.
Continuando a narrar o que se lá
passou. Deu-se início à sessão na sala vazia. Como disse atrás, em outros
textos que escrevi, só para lembrar, os associados fundadores da APBC são seis:
a CMC,
a ACIC,
Associação Comercial e Industrial de Coimbra, a ACIP, Associação de Comércio
e Indústria de Panificação, a CGD, Caixa Geral de Depósitos, a JFSB,
Junta de Freguesia de São Bartolomeu, e JFSC, Junta de Freguesia de Santa
Cruz –ambas extintas pela agregação das freguesias.
Começando pelos associados da
APBC que não se dignaram marcar presença vou desenvolvendo a descrição –só cerca de
uma dezena lá esteve, o que constitui já um verdadeiro escândalo e dá para
perceber porque é que o comércio atravessa este deserto da representatividade.
Bem podem os comerciantes continuar a carpir lágrimas de crocodilo e a acusar
os outros, incluindo a APBC, de nada fazerem por eles. Chorem, chorem! –digo eu.
Outro escândalo –ou nem tanto, eu
é que sou alarmista, retiro, digo antes que foi o costume-, a ACIC, que é um associado
fundador e instituição representativa de classe, não marcou presença.
Da JFSC, ex-Junta de Freguesia de
Santa Cruz, que faz parte dos associados fundadores, também não houve ninguém.
Por parte dos Associados
fundadores esteve presente a CMC, a
presidir à mesa, a CGD, a JFSB, cujo ex-presidente, Carlos
Clemente, é também o presidente do Conselho Fiscal da APBC –e agora assessor do
presidente da CMC- e a ACIP. Ou seja, de seis estiveram presentes apenas quatro representantes o que, a meu ver, já dá para mostrar o interesse deste assunto.
Prosseguindo.
Passou-se ao primeiro ponto, “Análise e votação do Relatório de Actividades
de 2013” e por ali a paz dos anjos, ou dos santos, reinava em total
comunhão com o vazio do salão. Até o zumbido de uma mosca se ouvia –que, em
busca da liberdade, teimosamente
continuava aos encontrões na vidraça.
Passou-se ao segundo tema, “Análise e votação do Relatório de contas de
2013”. De vez em quando ouvia-se um sub-reptício traque. Ninguém sabia o que era. Sentado na minha cadeira, eu
especulava que seria o verniz a estalar de duas pessoas presentes à reunião: o
presidente da APBC, Armindo Gaspar, e o presidente do Conselho Fiscal, Carlos
Clemente, e agora assessor camarário, que foram sempre amigos sem se darem por
aí além –não sei se estarei a ser claro. Mas eu não percebo nada de nada e as
minhas especulações nunca deram em coisa de jeito. Portanto, também aqui seria
de supor que, mais uma vez, eu não diria uma certa. Às tantas os traques não eram do verniz dos dois
homens mas antes da velha secretária de madeira, se calhar cansada e a
queixar-se de tantos cús de Judas que
ali se sentaram ao longo destes últimos 40 anos. Sei lá!
E eu instalado na poltrona, fazendo
figas, falando com meus botões: Deus queira que ao menos acerte desta vez.
Gostava tanto de dar uma!
Será que acertei?
(Tenha paciência, mas terá de
ficar para amanhã. Isto aqui não é o da Joana. Ninguém me paga para escrever.
Por conseguinte, refreei lá a sua ansiedade! Beba um copo de bom tinto!)
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