(Imagem da Web)
Não é
verdade que… goste de ti, apenas, pelo teu dinheiro –como me acusaste na última
vez em que estivemos juntos e rompemos. Ou é? Num raro intervalo em que a tua
imagem não me ocupe completamente a cabeça, às vezes, em catarse, dou por mim a
interrogar-me se, de facto, esse não teria sido mesmo o motivo primeiro que me
levou até ti. Sim! Admito! Talvez fosse. Quando comecei a arrastar a asa tu
eras os dois em um. O sonho de qualquer homem, na meia-idade, como eu. Eras
linda! -E continuas a ser, meu amor! Tinhas uma figura de manequim com rosto de
boneca de porcelana. Quando recordo a tua imagem, nesse teu andar ligeiro sobre
a calçada... “toc… toc… toc”, no barulho dos saltos altos, dos teus sapatos vermelhos,
a martelar o chão como sinfonia perfeita num caos de ruídos naturais, sinto-me
elevar como se fosse uma folha seca tocada pelo vento e ao sabor do acaso.
Confesso, o teu dinheiro, a tua robusta conta
bancária por mim imaginada, atraiu-me como abelha correndo em busca do pólen.
Mas, depois, quando te senti minha e vi que eras um passarinho desamparado em
busca de colo, progressivamente comecei a amar-te simplesmente por seres pessoa.
Esse teu jeito de me abraçar, envolvendo o meu peito, acabou por me pegar a
alma. O estranho é que estava convencido que não me deixaria tocar por mulher
nenhuma. Eu já tivera a minha conta. Estava ressabiado, profundamente magoado
com as mulheres. Afinal tinha sido despedido sem aparente justa causa num
contrato de casamento de 35 anos. Eu só queria passar o tempo, um bom bocado,
como sói dizer-se. Precisava somente de um placebo que ajudasse a encontrar-me.
Que curasse as mágoas que me atropelavam o espírito, me deixavam sem alento, e
me mandava a auto-estima para os interstícios labirínticos da depressão. Quando
dei por mim, numa completa reviravolta, reparei que deixara de ser o caçador
para ser a presa. Estava apaixonado por ti.
Não é
verdade que… veja em ti a minha reforma dourada. Ou é? Se calhar é! Mas que
importa isso? Se te amar honestamente e só viver para ti? Se fores o Sol da
minha vida e eu para ti a Lua cheia de uma noite de luar de Agosto, terão
importância os teus milhões? É verdade que… gosto de ti. Amo-te!
(Texto original de participação na 1.ª jornada do Campeonato Nacional de Escrita
Criativa e sobre o mote “Não é verdade
que…”)
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