(Imagem da Web)
HISTÓRIAS CURTAS E MARCANTES
“No dia 27 de Março, último, no meu trôpego andar e agarrado à minha
inseparável bengala, estava na paragem da Rua Mouzinho de Albuquerque, no Bairro
Norton de Matos, à espera do transporte colectivo, o 24T. Eram cerca de 11h00 da
manhã e o dia estava cinzento. Assim que ouvi o refrear dos travões ao meu
lado, penetrei no autocarro. Como sempre faço quando entro, cumprimentei o
motorista e dei o passe a ler à máquina –já estou habituado a nunca receber um
simples olá. Com o tempo habituamo-nos à falta de respeito cultural. Como sou
velho, acredito que vale a pena continuar a persistir no erro. E eu teimo! Já
tinha dado um passo à frente quando ouvi: “bom dia! Como está?”. Seria para mim?
Se calhar… e dei um passo atrás. Era mesmo! Para meu espanto aquele motorista
dos SMTUC, Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra, olhava
os meus olhos com um sorriso tímido. Senti-me gente, pessoa, não um velho
imprestável como em outras ocasiões parecidas. Mentalmente, agradeci repetidamente.
E sentei-me. Ao meu lado, reparei depois, estava acomodado um passageiro cego.
O autocarro, entre curvas e contracurvas, chegou à Rua dos Combatentes e parou.
Para minha completa surpresa, num respigo, o motorista saiu do seu lugar e
pegando no braço do meu confinante ajudou-o a descer e, com ele, atravessou a
rua. Tudo muito rápido e sem nenhuma perda de tempo.
Não pude sair sem lhe agradecer aquele gesto que me encheu o coração. Senti-me
menos velho e desamparado. Muito obrigado!”
1 comentário:
Bonito :)
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