terça-feira, 22 de abril de 2014

EDITORIAL: A SACRALIZAÇÃO DO ANIMAL

(Imagem da Web)

Nesta última semana, alguns cafés da Alta da cidade foram inundados com um papel com uma fotografia de um cão ostentando o título: “Procura-se!!”. Ali estava indicado um número de telefone e o pedido premente de contacto. Até aqui tudo normal e só por isto não seria notícia. Mas se eu escrever que este homem bate na sua mulher forte e feio então o caso muda de figura –e não se pense que não está referenciado na polícia por violência doméstica. É certo que os humanos são uma carga de problemas e, pela sua imprevisibilidade nos comportamentos, por mais que se tente, nunca serão completamente entendidos.
Não é a primeira vez que escrevo sobre esta obsessão pelos animais que, progressivamente, está a dominar a sociedade contemporânea, nacional e internacional –basta abrir uma qualquer página do Facebook. Como exemplos, basta lembrar, aqui em Coimbra, a deliberação camarária do anterior executivo de coligação em subsidiar uma associação de protecção aos gatos com 600 euros mensais e durante quatro anos. Há cerca de um mês este novo executivo não só veio ratificar o precedente como ainda ponderou aumentar a verba proximamente. A nível internacional, lembro a recente decisão do governo francês de classificar os cães e gatos no Código Civil como “seres vivos com sentimentos”. O que quer isto dizer? Pura e simplesmente que estamos a caminhar a passos largos para a sacralização dos animais. Saliento que não haveria mal nenhum neste acto se ainda não houvesse legislação que protegesse os irracionais. A meu ver, o que se assiste é, por um lado, a uma ofensiva política no sentido de mostrar aos eleitores que os mandantes são muito susceptíveis a esta questão e, com esta hipocrisia mascarada de ternura, captar votos à esquerda e à direita. Por outro, e ainda pior, numa manipulação de sentimentos, estamos em face da maior investida da indústria de apoio ao comércio animal.
Já há muito que se verifica uma transferência de afectos do homem para o animal. Basta verificar a quebra de natalidade, no nascimento de cada vez menos bebés, e o abandono de velhos, por exemplos. Ora a produção não dorme em serviço. Morre o homem eleva-se o cão e o gato. O grave é que nesta intentona de deslocalização de sentimentos, fenece também a sensibilidade que existe em cada um de nós pelo próximo e plasmados nos Evangelho e Constituição. Numa relação de igualdade pessoa-animal eleva-se o segundo e cai o primeiro, o humano. Ou seja, num planeamento global busca-se um igualitarismo deliberado. Pelo exagero, é de supor que não trará nada de bom para a humanidade. Talvez valha a pena pensar nisto!

4 comentários:

Alferes Malheiro disse...

Está com algum problema?

LUIS FERNANDES disse...

Estou! Incomoda-me um bocado a radicalização da sociedade. O embandeirar em arco, o ir em fila indiana. No fundo a síndrome de carneirada, a mimética societária. Só isso!

Alferes Malheiro disse...

Cada um dedica-se às causas que acha mais nobres.
E cada um sabe de si. Se eu quiser dedicar-me aos animais o problema é meu. Se vir maus tratos a animais, o problema deixa de ser apenas meu.
Prefere dedicar-se a outras causas?
Força!
Mas não tente limitar quem não concorda consigo.

LUIS FERNANDES disse...

RESPOSTA DO EDITOR
Meu caro Alferes Malheiro, volte a ler o texto. O que penso estar suficientemente claro é que não procuro limitar a opinião de quem quer que seja. Aliás, como constata, até coloco o seu comentário em primeira página. O que mostro na crónica, ou pelo menos tenho essa presunção, é de que se está a deslocalizar os afectos das pessoas para os animais. O senhor pode dizer que não, é verdade! Mas eu tenho o direito de pensar o contrário. E, por esse facto, dentro da minha liberdade de expressão, estou a limitar alguém?
O que tento mostrar –admito não ter conseguido- é que hoje é uma moda quase viral. E pior, é que, em manipulação crescente, está a ser muito bem aproveitada por alguns. É óbvio que não pretendi ofender quem quer que seja e pretender coartar o seu direito de se dedicar aos animais. Não é isso que está em questão. Se porventura se sentiu ofendido, meu caro, só me resta pedir-lhe desculpa. Não pense que não gosto de animais. Gosto muito e, acredite, sou incapaz de matar uma simples lagartixa apenas pelo prazer sádico de o fazer. Tenho muito respeito pela vida de todos, incluindo os irracionais. O que quis dizer é que não se pode radicalizar as coisas, ou pelo que se assiste, perder-se de vista o valor vida da pessoa humana e, em contraposição, elevar ou colocar no mesmo plano de igualdade os animais. Cada um deve ocupar o seu plano de importância na Natureza. E com isto não estou a dizer que se desrespeite os animais –como, por exemplo, as touradas. Lamento não ter sido claro para si. Muito obrigado.