quarta-feira, 30 de abril de 2014

A ARTE (2)



Eu vi umas imagens sacras numa capelinha de Oliveira do Hospital, pareceram-me tão bem restauradas que até disse bestial, mas eu não percebo nada de arte e por isso logo sou parte a colocar de lado nesta minha opinião já que sou observador como simples cidadão mas dá para perceber que estamos no centro da Criação e que se entende de santos e santinhas como a Senhora do Ó que se retratada em tela é com certeza um Miró mas o engenho não se engole como qualquer cozinhado tomando o palavreado como sendo ou não de agrado, a arte toca os sentidos como uma bela mulher deixa impressionado o homem mais atrasado, é toda a sensibilidade numa pedra de calçada que mostra a saudade e pode parecer ilusão mas é a recordação que entra no coração por cruzamentos de olhares, divagando no sim e no não, como se entre a afirmação e a negação não houvesse outra razão e fosse tudo abstrato em torno de uma obsessão, como se a verdade não fosse apenas uma convicção sem porta nesta nação que só convive bem em torno de uma praxe mas por mais que se ache isto não tem concerto, deviam eram todos orar e só se preocupar com as Finanças Públicas e deixarem de serem virgens púdicas a discutir o sexo dos anjos quando há tantos marmanjos a ver o que podem roubar, penso que há mesmo um acordo nas coisas fúteis como a partida do Tordo, que foi para o Brasil e é mais uma tourada entre os que o amam e detestam por ser um cantador de Abril como se isto fosse defeito e ao país não tivesse dado qualquer proveito, tratam o cantor como moléstia, sem jeito, com fedor a ideologia é mesmo uma grande mania, porque há no ar uma revolução nova que se anseia mas ninguém acende a candeia ou ao menos o pavio para que, como desejo de génio, surgisse um navio que levasse este inverno depressivo de frio tão intensivo que nos escarnece a alma da esperança e na volta nos trouxesse as andorinhas com a boa aventurança embrulhada em flores para distribuir ao povo tão carecente de amores, bem sei que este texto é patético, sem valor, até parece analfabético, mas a culpa não é minha, é de alguém que não conheço e faz de mim um burgesso.


(Texto original de participação na 2.ª jornada do Campeonato Nacional de Escrita Criativa e sobre o mote “Um texto com 40 vírgulas…”)


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