Eu vi umas imagens sacras numa capelinha de
Oliveira do Hospital, pareceram-me tão bem restauradas que até disse bestial,
mas eu não percebo nada de arte e por isso logo sou parte a colocar de lado
nesta minha opinião já que sou observador como simples cidadão mas dá para
perceber que estamos no centro da Criação e que se entende de santos e
santinhas como a Senhora do Ó que se retratada em tela é com certeza um Miró
mas o engenho não se engole como qualquer cozinhado tomando o palavreado como
sendo ou não de agrado, a arte toca os sentidos como uma bela mulher deixa
impressionado o homem mais atrasado, é toda a sensibilidade numa pedra de
calçada que mostra a saudade e pode parecer ilusão mas é a recordação que entra
no coração por cruzamentos de olhares, divagando no sim e no não, como se entre
a afirmação e a negação não houvesse outra razão e fosse tudo abstrato em torno
de uma obsessão, como se a verdade não fosse apenas uma convicção sem porta
nesta nação que só convive bem em torno de uma praxe mas por mais que se ache
isto não tem concerto, deviam eram todos orar e só se preocupar com as Finanças
Públicas e deixarem de serem virgens púdicas a discutir o sexo dos anjos quando
há tantos marmanjos a ver o que podem roubar, penso que há mesmo um acordo nas
coisas fúteis como a partida do Tordo, que foi para o Brasil e é mais uma
tourada entre os que o amam e detestam por ser um cantador de Abril como se isto
fosse defeito e ao país não tivesse dado qualquer proveito, tratam o cantor
como moléstia, sem jeito, com fedor a ideologia é mesmo uma grande mania,
porque há no ar uma revolução nova que se anseia mas ninguém acende a candeia
ou ao menos o pavio para que, como desejo de génio, surgisse um navio que
levasse este inverno depressivo de frio tão intensivo que nos escarnece a alma
da esperança e na volta nos trouxesse as andorinhas com a boa aventurança
embrulhada em flores para distribuir ao povo tão carecente de amores, bem sei
que este texto é patético, sem valor, até parece analfabético, mas a culpa não
é minha, é de alguém que não conheço e faz de mim um burgesso.
(Texto
original de participação na 2.ª jornada do Campeonato Nacional de Escrita
Criativa e sobre o mote “Um texto com 40 vírgulas…”)
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"A carta" (1)
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