São
16h13 no relógio electrónico da Farmácia Universal, em frente a
Câmara Municipal. A mesma máquina, que também serve de termómetro,
marca 39 graus Célsius.
Embora
não seja nada de novo – relembro que em 05 de Julho de 2010 o
mercúrio atingiu 40 graus – a Baixa parece encolhida pela
molenguice. Em qualquer chão onde bata a canícula está
praticamente tudo às moscas. Os passantes, como a ocultar-se de um
perigo oculto, procuram desesperadamente a sombra projectada pelos
edifícios mais altos e antigos. Avistam-se turistas em fila indiana.
As esplanadas, incluindo as do Largo da Portagem e da Praça do
Comércio estão sem gente. As lojas comerciais, como se fizessem
parceria com os cafés, estão vazias de clientes.
Nas
ruas largas, logo no início da Rua visconde da Luz, em frente ao
antigo BES, somos abraçados pela espectacular musicalidade de duas jovens a tocar
acordeon. Mais acima, em direcção ao Largo da
Portagem, vários músicos de rua dão um colorido sonoro a uma
paisagem que parece macilenta e a transpirar languidez.
Tal
como escrevi em 2010, talvez fizesse sentido seguir o costume dos nossos amigos
espanhóis, que fazem um interregno de várias horas para sesta
quando o Sol está pique, e encerrar umas horas durante a tarde e
reabrir depois das 17 e até às 21h00.
Bem
sei que para a maioria de comerciantes da Baixa isto que escrevo não
é assunto - e
muitos, se pudessem neste momento, atiravam-me com
o que tivessem mais à mão.
Uma
coisa é certa, podemos fugir a tudo menos de nós mesmos. Mas
a
realidade, ou
verdade, ainda
que possa ter várias interpretações subjectivas, é
só uma. E estes horários que se continuam a praticar diariamente
não servem a cidade, não servem a Baixa, não servem os
comerciantes, não servem os visitantes.
Tenho
para mim que, apesar do anunciado pelo Governo em contrário, embora
possa haver excepções, a maioria dos operadores que trabalham no
comércio concordam que a procura, por vários factores económicos e
sociais, tem vindo a regredir. Ora, em face do rendimento que tem
vindo a cair para os comerciantes, o que fazem muitos destes?
Alteram o seu modo de estar e procuram
adaptar-se aos novos tempos? Nada disso. No
inverso, vão encolhendo os seus horários e vão-se habituando a um negócio de conta-gotas, em que está transformada actividade
mercantil. No adverso, sem se encetarem outras formas de resistência,
o claudicar, no encerramento definitivo de estabelecimentos, passou a funcionar como defesa.
Mesmo
já com os meus ouvidos cheios de insultos e impropérios, mesmo
assim, ainda consigo interrogar: será
culpa do calor, que nos está a comer a vontade e a transformar-nos
em pessoas incapazes de lutar contra as adversidades da vida?
Valerá
a pena pensar em alterar velhos hábitos enraizados que conduz
a maioria ao empobrecimento?
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