(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
REFLEXÃO
Talvez
sem darmos por isso, estamos a tornar-nos eremitas socializados.
Aparentemente acompanhados, mas terrivelmente sós. Cada vez mais
mais sozinhos e prontos a cair nas malhas da depressão. No dia-a-dia, acentuadamente, estamos a perder os
princípios e valores que os nossos ancestrais nos legaram. A palavra
dada, esvaziada de qualquer sentido de respeito que referenciava e
demarcava alguém, deixou de ser o paradigma e símbolo de um
compromisso assumido sem escritura. Hoje, como o incumprimento é a
norma, não se confia em ninguém.
A
comunicação prostitui-se completamente. Abandalhada pelas ruas do
descrédito, poucos respondem a uma mensagem interrogativa
telefónica. Tentar falar com alguém através do telemóvel, só
atende se for da sua conveniência. Se não lhe levar créditos para
o seu interesse, nem responde nem retorna a chamada.
O
insulto gratuito tomou conta da maioria. Subentende-se, é como se
quem enxovalhar mais passe a ser mais lido ou ouvido.
As
redes sociais, transformadas numa espécie de muro de lamentações
pessoais, onde ressalta a frustração e a esperança negativa no
humano e no amanhã, estão repletas de desconsideração e perjúrio,
onde o juramento falso por uma verdade, passou a ser o lugar comum.
Como só se reage quando visado, o aviltamento, desde que seja
direccionado a outro com a sua honra colocada em causa, passou a
ter permissão como doutrina que religa e para ocupar um lugar de
relevo neste novo costume. Sem qualquer controvérsia, sem oposição,
num colaboracionismo colectivo que mete dó, estamos todos a
transformar-nos em objectos sem dignidade, de usar e deitar fora, e
de manipulação fácil.
UM
CALOR QUE MAL SE AGUENTA
Na
semana passada a cidade, tal como todo o país, foi bombardeada com
uma canícula de assar o mais resistente ao calor. Com os termómetros
a passarem os 41º graus Celsius, os residentes e os turistas que nos
visitam em trânsito pareciam zombies a divagar num limbo.
POR
FALAR EM TURISTAS…
Em
grandes grupos familiares, quase todos de calções abaixo do joelho,
calçado ligeiro nos pés, mochila às costas e smartphone
sempre em ristepara apanhar uma boa imagem, nestes primeiros dias de
Agosto, de nariz no ar e atentos a qualquer movimentação acima do
olhar comum, estão a invadir todos os cantos e recantos da Baixa.
Nas cabeças predomina o chapéu de abas largas, a proteger da
canícula, trazendo à memória montanheses, como investigadores,
fazem lembrar Harrison Ford em busca da arca perdida.
Nas
ruas a mistura de línguas faladas onde o português parece
envergonhado e mal se ouve, preparando um audível caldinho
universal de culturas, faz de Coimbra uma cidade cosmopolita. Por
estes dias são às centenas, senão em milhares. São os turistas
“low cost” da nova vaga.
AUTO-TESTE
NO MUNICÍPIO
Como
se este exercício de imobilismo servisse para testar o seu
realizador, neste último Sábado, a Câmara Municipal de Coimbra,
através do pelouro da Cultura, organizou na Baixa a II Mostra de
Estátuas Vivas. Inserido num projecto cultural que visou trazer
gente para a zona histórica, correu muito bem, sim senhor! A
autarquia safou-se e merece uma salva de palmas.
Assim
o seu desempenho global para a revitalização do Centro histórico
merecesse a nossa aprovação. Infelizmente, como tanto tenho
escrito, não é assim. A edilidade, num desalinhado plano sem
ordenação e sem consulta a quem cá reside e trabalha, continua a
decidir mal sobre questões essenciais e que marcam o nosso tempo
recente. A Baixa, sem orientação superior, continua o seu caminho
em busca de uma identidade perdida mas à custa dos investidores
particulares. Aqui fica o pedido: se não orienta e não quer saber,
no mínimo, deixe andar e não crie entraves burocráticos a quem,
sem a rede do orçamento do Estado, arrisca as suas poupanças.
VIDA
NOVA NA PAISAGEM
No
antigo espaço do Runkel & Andrade, na Avenida Fernão de
Magalhães, abriu há dias um novo espaço de restauração aberto
vinte e quatro sobre vinte e quatro horas. Numa medida de grande
inteligência, juntando o útil ao agradável, esta encantadora
superfície, para além de ser área de restauração serve também
como recepção de hóspedes para o Hotel Almedina nos pisos
superiores.
Repetindo,
um projecto dois em um, com fino gosto na decoração simples mas
arrojada. Parabéns à gerência da reputada unidade hoteleira.
UM
REGRESSO QUE SE APLAUDE
Depois
de dois anos na cidade de Espinho, regressou à Lusa Atenas a família Meireles. Sem necessitarem de grandes apresentações, os Meireles,
constituídos pelo Fernando, filho e júnior, e o Fernando, pai e
sénior, esta dupla de músicos tem encantado vários palcos pelo
país fora. No aforismo certeiro de que “santos da casa não
fazem milagres”, Coimbra passa ao lado do enorme talento que
estes dois prodígios distribuem a quem passa na Rua Visconde da Luz.
Se
um dia destes os encontrar na rua larga, por uns minutos, pare,
escute e olhe. São do melhor que existe na nossa música tradicional
portuguesa.
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