(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
REFLEXÃO
A
Baixa, como comboio em piloto automático a deslizar sobre carris em
direcção a um horizonte certo mas desconhecido, continua a sua
senda. Sem intervenção camarária, cuja entidade administrativa e política tem por obrigação
estabelecer um mapeamento futuro, a zona histórica segue por conta
própria mas, sobretudo, pelos desígnios dos investidores
particulares. O que traça o seu destino é a conveniência egoísta
individual que, embora admissível, apenas por simpatia, acaba por
imbricar no interesse público por arrastamento. Como se adivinha,
melhor seria que, por parte do executivo municipal, houvesse vontade
política e estivesse disposto a debater e criar estratégias
confinantes ao benefício de todos.
Ainda
sem grandes alardes comparativos com o que se passa em Lisboa e
Porto no que toca à especulação imobiliária, a verdade é que,
devagar,
devagarinho,
está acontecer na Baixa. Há vários casos de prédios de habitação
que foram adquiridos nos últimos tempos e que, passado pouco meses,
viram o seu preço triplicar. Se é certo que vivemos numa economia
aberta - querendo
dizer com
isto que
não é fácil de evitar estas transmissões especulativas
-,
também é certo que o poder local deve estar atento a estes
fenómenos de criação de riqueza parasitária e, através de
instrumentos de regulação, evitar que qualquer dia esta zona velha
seja uma espécie de cemitério, cheio
de mausoléus a ostentar o “vende-se”,
só com vivos nas épocas festivas, turísticas, e vazio de tudo nas
épocas baixas. A começar pelo Governo central, que
criou
medidas transitórias para evitar os despejos de
inquilinos,
está muito preocupado com o arrendamento mas, depois, no outro
extremo, esquece as transacções
que
visam o lucro somente como finalidade.
O
PRINCÍPIO DA HISTÓRIA
No
último Sábado, no antigo espaço do desaparecido BANIF, no Largo da
Portagem, abriu a Comur, um conceito novo para vendas de conservas
portuguesas em lata
Apostando
numa decoração de vanguarda, museológica, no caso Joanina, baseada
na biblioteca da Universidade de Coimbra, rica nos pormenores
artísticos, onde a imagem pretende constituir o primeiro apelo aos
sentidos e que leva o consumidor a, quase sem dar por isso, entrar na
superfície comercial. Esta nova loja do ramo alimentar institui nesta zona de antanho, e mais propriamente no largo que é o salão de apresentação da cidade e estendendo-se às duas ruas largas, Ferreira Borges e Visconde da
Luz, uma nova concepção no comércio, pelo menos como estamos
habituados a ver. Não é somente nos detalhes decorativos que esta
nova loja será, porventura, revolucionária, é sobretudo pelo
horário que pratica: todos os dias entre as 10h00 e as 22h00. Um
estabelecimento inserido numa zona de turnos entre as 09h00 e as 19h00 de segunda a sexta, que ousa romper o situacionismo, inevitavelmente, será sempre
um precursor que, em mimética, levará outros a seguirem o seu
exemplo.
Sobre
gerência de Jacqueline Austin, uma professora inglesa aposentada com
várias paixões, entre elas Portugal e os livros, é um projecto que
procura pernas para andar. Uma vez que o inglês está transformado
na língua universal, a intenção é criar uma carteira de clientes
desde os jovens aos mais velhos no idioma de Sua Majestade.
Residente
em Mortágua há meia-dúzia de anos e já a entender bem e a falar
quase melhor o português, escolheu a Lusa Atenas para o seu negócio
por ser uma cidade média e com muitos estudantes.
Em
nome da Baixa, se posso escrever assim, seja bem-vinda e que alcance
o merecido e legítimo sucesso.
COMO
FÉNIX QUE SE REERGUE DAS CINZAS
Depois
de cerca de um ano encerrada e a acumular o pó nos livros, (re)abriu na semana passada a histórica Casa do Castelo, na Rua da Sofia.
Em
boas mãos, ou seja na pessoa certa que trabalha com o artigo certo,
este projecto nunca falhará. O novo ocupante, que trata os
alfarrábios por tu há muitas décadas, é um nosso conhecido e
amigo, o José de Almeida Gomes, que vai complementar o armazém do
Tovim de Cima com uma loja na Baixa. Seja bem-vindo, senhor Gomes!
UM
MORTO QUE SE NÃO FOR ESTARÁ VIVO
Na
quinta-feira da semana passada, cerca das 18h00, no Beco das
Canivetas, que dá ligação entre a Cozinha Económica e a Rua
Adelino Veiga, um indivíduo de “cerca de cinquenta anos”,
alegadamente, foi apunhalado com várias facadas. Foi o 112, com uma
ambulância, que o apanhou muito ferido e levou para os HUC,
Hospitais da Universidade de Coimbra.
Embora
as informações sejam difíceis de obter, confirma-se que, de facto,
foi mesmo trespassado e cortado com vários golpes no corpo – há
várias pessoas que viram o homem caído no asfalto e a esvair-se em
sangue. Sabe-se também que a vítima é (foi) um indivíduo de
apelido Grilo, um sem-abrigo que dormia na reentrância das montas da
desaparecida loja de brinquedos Românica. Hoje, por aqui pela Baixa,
consta-se, de boca-em-boca, que teria morrido no hospital. Como não
se sabe o nome por inteiro, por parte da unidade de saúde, não foi
possível saber o seu estado clínico e se teria mesmo falecido.
Com
os comerciantes da zona muito preocupados com a falta de policiamento
que vem acontecendo na Baixa, sobretudo, no último ano, agora, com a
nomeação de Rui Moura como novo Comandante Distrital da PSP de
Coimbra, renasce a esperança de melhores tempos em termos de
segurança.
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FALECEU
UMA FIGURA ICÓNICA DA CIDADE
Subitamente,
nos primeiros dias deste Agosto, depois de se ter sentido mal na
Figueira da Foz, onde residia, foi transportado de urgência para os
CHUC,
Centro Hospitalar
Universitário
de Coimbra, veio a falecer há cerca de uma semana o/a
Paulo/Paulinha,
um precursor do travestismo na cidade. Tinha 54 anos de idade e foi
baptizado com o nome de João Paulo de Campos Lobo.
Embora
o conhecesse mal na altura -mas dava para perceber-, tanto quanto
julgo recordar e saber, o/a Paulo/Paulinha nasceu mulher em corpo de
homem. Ou seja, o seu sexo biológico não correspondia à sua
orientação sexual. Com um sinal na face direita, os seus longos
cabelos estendidos em cascata pelos ombros tornavam-no numa figura
curiosa e polémica. De altura acima da média, com uma voz grave mas
melodiosa, de fino trato, a sua forma de apresentação feminina era
profundamente maneirista e delicada.
À
sua mãe e restante família enlutada, ficam aqui os nossos
sentimentos.
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FEIRA
DE…?
Como
já vem sendo hábito há volta de trinta anos, no último Sábado
foi inaugurada a Feira das Cebolas na Praça do Comércio.
É
uma realização do Departamento da Cultura da Câmara Municipal de
Coimbra e do grupo folclórico “Os Camponeses de
Vila Nova”, de Cernache. Durante uma semana, esta festa tem por
intenção recriar uma tradição de muitos séculos –lembramos que
era aqui, nesta praça velha implantada no centro da cidade, que eram
comercializados os produtos agrícolas provenientes do Baixo-Mondego.
Era conhecida por Feira de São Bartolomeu.
Desde
há, pelo menos, uma década que tenho vindo a escrever que esta
alegoria, com os seus barracões degradados, velhos e inestéticos
implantados no mais nobre e histórico local da cidade, que dá
origem ao grande negócio de comes e bebes que, no
pico do turismo,
ocorrem durante a vigência do certame, não faz qualquer sentido.
Para piorar, este ano, apenas duas ou três pessoas permanecem na
velha praça a venderem cebolas -na
última segunda-feira, quando
captei as imagens supra, apenas uma senhora estava presente com
baraços. Ou
seja, se a autarquia é comparte nesta realização histórica,
cedendo os meios e desonerando o pagamento de espaço público, deve
e tem de ser exigente no cumprimento da recriação.
A explicação nos jornais
diários
para o facto de haver poucas réstias foi que este ano a produção
de cebolas foi má. Isto é explicação que se atenda?
É
certo, e não podemos ignorar, que durante uma semana a praça tem
muita animação constituída por grupos musicais e de folclore, mas
este argumento não cola. Se o tema que dá origem à festividade é
a “Feira
das Cebolas”
e o preceito consuetudinário, do costume histórico, não é
cumprido, nesse caso, entramos no campo do incumprimento que, por
alheamento do pelouro da Cultura, que é associado, está beneficiar
o incumpridor. E
mais, neste caso, colaborando a autarquia nesta farsa, está
discriminar outros grupos de folclore que também deveriam lá estar
presentes por direito.
Sem
grande esperança de que este executivo mude alguma coisa, deixando
de estar ao serviço de alguns grupos quando deveria perseguir o interesse
colectivo,
de
todos, resta-nos um pouco de fé que para o ano, juntamente
com outros agrupamentos de folclore, esta feira
se realize
no Terreiro da Erva.
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