(imagem da Web)
Desde
a semana passada que o boato andava de boca-em-boca: “O “Tó”
morreu! Coitado, tão bom rapaz! Tinha uma doença incurável! Também
não era de admirar, a comer mal e a dormir onde calhava por aí, o
que se esperava? Que Deus o guarde!”
O
“Tó” de que falo aqui dá pelo nome de António Manuel
Seabra Dias. Com 54 anos de idade, por razões que a razão tece e a
natureza impõe, depois de décadas como funcionário público,
entrou em derrapagem e, sem amortecedores de retaguarda, nunca mais
parou. Acabou despedido compulsivamente. Tendo o álcool como
companheiro certo mas destruidor do seu corpo frágil, até aqui, tem
dormido onde calha, nomeadamente, pelas entradas e reentrâncias de
edifícios que lhe permita passar a noite. Tem recusado ajuda para
se instalar, pelo menos, num quarto condigno.
Resultado
de uma esmerada educação adquirida em prole de grande respeitabilidade, no
trato, o “Tó” é um querido. Estou em querer que por
aqui, pela Baixa, não haverá alguém que não goste dele. Daí o
rumor que levou muitos habitantes deste bairro velho a reiteradamente, com grande
tristeza, lamentar a sua alegada partida precoce.
Depois
de tantos discursos convictos que atestavam o seu falecimento, ontem
estive para escrever um texto laudatório em elogio fúnebre. Quando
já tinha o ecrã branco à minha frente para receber a minha verve
poética, de repente, como seta que cai do alto, fui atravessado por
um pensamento: e se a atoarda for falsa? Recordei que há uns anos,
num caso parecido onde tudo parecia bater certo, “matei”
um conhecido fotógrafo da Baixa.
Como
sabia parte do nome do “Tó”, no último momento antes de
lhe fazer o “fenério”, liguei para CHUC, Centro
Hospitalar e Universitário de Coimbra. Fiquei então a saber que,
apesar de estar internado em Dermatologia, felizmente, está de boa
saúde. Em conversa com o Seabra, depois de agradecer a todos pela
elevada preocupação, manda dizer que “o falatório é
manifestamente exagerado e que, dentro de alguns dias, estará ao "serviço" e pronto a calcorrear novamente estas pedras da calçada”.
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