(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
“Claro
que a eficácia era maior se o executivo municipal
fosse
contrário às cores políticas do eleito pela freguesia,
como
aconteceu com Carlos Clemente que legitimamente,
para
sempre, será recordado como um defensor da Baixa
porque,
na circunstância, era opositor ao regime vigente
à
época -entre 2001 e 2013.”
Como
é público, o Governo anunciou que vai rever a reforma da reforma
das freguesias ocorrida em 2013, a apelidada “Lei Relvas”, e que foi imposta pela Troika.
É
de apoiar esta nova restruturação de uma recente medida que foi
feita em cima do joelho? A meu ver é! Passados cinco anos, está na
altura de reavaliar o desempenho dos agrupamentos associativos que
alteraram e reduziram o mapa autárquico do país.
Falando
da experiência que toca o centro da cidade, é de defender uma
análise ao desempenho da União de Freguesias de Coimbra (UFC), que
agregou as freguesias de Sé Nova, Almedina, São Bartolomeu e Santa
Cruz.
Como
se sabe, antes da agregação em 2013, cada uma, com a sua área
territorial, jogava no seu campo administrativo, político-partidário
e social. Havia a Junta de Freguesia de São Bartolomeu, que abarcava
o miolo da denominada “baixinha”, a Junta de Santa Cruz,
que compreendia uma área entre a Rua Direita e a Pedrulha, a Junta
de Almedina, que, se iniciava no Arco de Almedina, intramuros, e
abarcava a parte Alta da cidade até à zona da Sé Velha, e a Junta de freguesia da Sé
Nova, que incluía a Universidade e até Celas.
Antes
de prosseguir, emergem umas perguntas e respostas:
-
Mas hoje, passados cinco anos e depois da aglomeração, a
área territorial não continua igual? Sim, continua!
-
As quatro freguesias, com um executivo eleito, não
estão todas representadas em assembleia e numa sede que juntou as
quatro? Estão sim!
-
A UFC, seguindo o passado antes da reforma, não tem
um orçamento comum às quatro representadas e é contemplada com
dotações inscritas pela edilidade? Tem sim!
-
Tal como anteriormente a 2013, não continua com
competências delegadas em várias áreas emanadas da edilidade? Sim,
continua!
Então,
não se entende. Afinal o que falta? O que corre mal?
Antes
de continuar, convém dizer que uma das bandeiras apregoadas por
Relvas, na altura, ministro de Passos Coelho, em defesa da reunião
das freguesias, era a contenção de custos de operacionalidade. Ou
seja, adiantava-se que juntando várias capelas as despesas
diminuíam de sobremaneira.
Passou
o tempo e, segundo a informação publicada, parece que os gastos não diminuíram como, em muitos casos, aumentaram.
Prosseguindo,
dando o exemplo da Baixa de Coimbra, ao perder-se a individualidade em função da agregação,
deixou de haver competição política entre os presidentes eleitos
de cada autarquia de fregueses. Durante vários mandatos até 2013,
foi célebre a disputa entre Carlos Clemente (PS), presidente da Junta de São Bartolomeu, e o falecido Pinto dos Santos (PSD),
presidente da Junta de Santa Cruz, por fazerem melhor e serem mais populares nas suas
freguesias.
Por
outro lado, os comerciantes e moradores sentiam-se muito mais
próximos de quem os representava na Assembleia Municipal de Coimbra. Claro que
a eficácia era maior se o executivo municipal fosse contrário às
cores políticas do eleito pela freguesia, como aconteceu com Carlos
Clemente que legitimamente, para sempre, tal como Pinto dos Santos serão recordados como defensores da Baixa. Mas, no caso de Clemente era diferente. Como militava na oposição ao regime
vigente à época, entre 2001 e 2013, pela circunstância adversa, a luta dava mais "pica" e era mais cativante para o próprio.
Por
outro lado ainda, ao ser encerrada a antiga sede da Junta de São
Bartolomeu, na Avenida Fernão de Magalhães, transferindo-a para os
Arcos do Jardim, amputou-se um cordão umbilical de décadas de
representação popular e programou-se um abandono desta área velha
que lhe está a ser fatal na proximidade entre eleitos e eleitores e
a convergir para o seu apagamento como centro comercial.
VOCÊ
CONHECE O SEU PRESIDENTE DE JUNTA?
Quem
conhecer pessoalmente os cabeças-de-lista dos partidos e movimentos cívicos que foram eleitos para o executivo e outros que concorreram e fazem parte da Assembleia de Freguesia que ponha o dedo
no ar. Aliás, não se compreende a falta de fotografias dos deputados eleitos à Assembleia na página da UFC. A quem serve o anonimato?
Se
colocarmos esta questão aos próprios, claro que vão responder com
um clássico: “se os fregueses não participam nas assembleias
de freguesia querem o quê? Que os eleitos andem de
porta-em-porta? Como? Se, sendo pequenos agregados
populacionais, não se aufere
o bastante para fazerem política de proximidade?”
É
verdade, mas antes da reforma administrativa já era assim e a
relação humana entre eleito e eleitor era muito mais profícua. E
esta ligação perdida, como concorre para o esvaziamento da missão
pública dos eleitos, está a afluir para a desvalorização de toda
a classe política. Com a nova reforma construiu-se um psicológico resguardo de
vidro que separa ainda mais e impede o mais comum dos fregueses de se
aproximar de quem o pode ajudar numa questão que pode ser
importantíssima para quem a vive.
Fazemos
votos para que, por um lado, o Governo leve a sua intenção a
avante, por outro, que sem pressas, até 2021, sejam feitas as
devidas correcções.
Sem comentários:
Enviar um comentário