(Fotos gentilmente cedidas por Joaquim Santos)
Numa feliz iniciativa da companhia de teatro O
Teatrão, sob o mote “Ó do Bairro”, um
“workshop de expressão dramática”,
que tem por objecto colocar face-a-face gente originária, moradores ou trabalhadores,
dos bairros da cidade e alunos das escolas secundárias. A ideia-base é levar,
através da história e de “estórias” vividas,
o conhecimento dos mais velhos, extraído da sua experiência empírica, até aos
mais novos.
Durante três dias, hoje, amanhã, quinta-feira,
e depois, sexta-feira, sempre por volta das 10h00, a explanação terá lugar no
Largo da Freiria. Na falta de melhor voluntário para desempenhar a tarefa, tive
o grato prazer de ser convidado para, enquadrando o passado e o presente,
relatar um pouco do que foi a Baixa, enquanto outrora centros de vivência
habitacional e comercial de excelência, e o que é hoje. Escusado será dizer que
os ouvintes, os alunos, levaram uma seca
tamanha que tão depressa não voltarão cá. Meio titubeante, começando pelo
princípio –passando a redundância-, na fundação da nacionalidade em 5 de
Outubro de 1143, rapidamente deslizei para a divisão da cidade entre a parte
muralhada, a Alta, onde viviam os abastados, os nobres e o clero, passando pela
implantação da Universidade, em 1537, e na parte do sopé da urbe, a Baixa, onde
estavam implantados os artífices, lá fui descalçando
a bota o melhor que sabia. Por falta de competência do mestre –neste caso,
que era eu-, foi logo combinado que não seria uma aula de cátedra mas antes uma
conversa interactiva e que, a qualquer momento da explanação, poderia ser cortada
com perguntas. E foi assim que, passando pelo actual sistema capitalista em
que estamos inseridos e capitulação do Estado enquanto regulador para evitar
abusos do mais forte, chegámos a Abril de 1974, à independência das ex-colónias
ultramarinas e regresso dos colonos, chamados de “retornados”, que constituíram uma força de mudança importante no
situacionismo do país. Passámos para 1986 e, sumariamente, analisámos a
consequência da adesão de Portugal à CEE, Comunidade Económica Europeia, com a
reforma compulsiva de alguns agricultores por força do menor custo produtivo, e
o quanto essa imobilização tornou a cidade centro de atracção para novos
comércios. Falámos do nascimento das primeiras duas grandes superfícies em 1993,
a Makro e o Continente, e outras que viriam mais tarde, e a sua consequência
para o esvaziamento do coração da cidade enquanto centro comercial do centro.
Falámos também da responsabilidade do poder local enquanto entidade motora do
seu desenvolvimento. Arranhámos ao de leve no mito urbano de que o
estacionamento pago é um responsável do definhamento da Baixa. Falámos no presente
desta zona de antanho, que é feito por muitos velhos, e o futuro que se deseja que
seja feito por eles, gente nova, com sensibilidade e com memória e o quanta
esperança se deseja que tudo mude para melhor, porque tudo, incluindo a cidade
e os costumes, é dinâmico.
Foi uma experiência gira. Gostei muito.
Reiterando o que escrevi no início do texto, mais que certo, a cerca de dezena
de jovens levou para contar, já que o apresentador, para além de chato como as melgas, é fraco na
explanação. Mas foi o que se pode arranjar. Amanhã, novamente por volta das
10h00, se não for possível outro orador, cá estarei novamente. Falei em outro
orador porque, abusivamente e mesmo à margem da solicitação do Teatrão,
convidei o escritor Pinto dos Santos, mais conhecido por Tony, que nasceu e
viveu na Rua das Padeiras nos anos de 1950 e escreveu um belíssimo livro sobre a
Baixa desse tempo, para me substituir. Ainda não me respondeu. No caso da sua
impossibilidade, mau grado para quem tiver de me gramar outra vez, amanhã cá nos encontraremos novamente.
Muito obrigado à Luísa Silva, da Câmara
Municipal, por me ter aconselhado à Isabel Craveiro, da direcção do Teatrão. A
ambas mandarei a conta da minha (má) prestação. Bem-haja a ambas.
1 comentário:
Boa iniciativa do Teatrão! Quanto ao orador,visto que o José hermano saraiva não estava disponivel,não me parece mal de todo!
Abraço,Luis!
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