quarta-feira, 24 de junho de 2015

UMA BOA INICIATIVA DO TEATRÃO

(Fotos gentilmente cedidas por Joaquim Santos)





Numa feliz iniciativa da companhia de teatro O Teatrão, sob o mote “Ó do Bairro”, um “workshop de expressão dramática”, que tem por objecto colocar face-a-face gente originária, moradores ou trabalhadores, dos bairros da cidade e alunos das escolas secundárias. A ideia-base é levar, através da história e de “estórias” vividas, o conhecimento dos mais velhos, extraído da sua experiência empírica, até aos mais novos.
Durante três dias, hoje, amanhã, quinta-feira, e depois, sexta-feira, sempre por volta das 10h00, a explanação terá lugar no Largo da Freiria. Na falta de melhor voluntário para desempenhar a tarefa, tive o grato prazer de ser convidado para, enquadrando o passado e o presente, relatar um pouco do que foi a Baixa, enquanto outrora centros de vivência habitacional e comercial de excelência, e o que é hoje. Escusado será dizer que os ouvintes, os alunos, levaram uma seca tamanha que tão depressa não voltarão cá. Meio titubeante, começando pelo princípio –passando a redundância-, na fundação da nacionalidade em 5 de Outubro de 1143, rapidamente deslizei para a divisão da cidade entre a parte muralhada, a Alta, onde viviam os abastados, os nobres e o clero, passando pela implantação da Universidade, em 1537, e na parte do sopé da urbe, a Baixa, onde estavam implantados os artífices, lá fui descalçando a bota o melhor que sabia. Por falta de competência do mestre –neste caso, que era eu-, foi logo combinado que não seria uma aula de cátedra mas antes uma conversa interactiva e que, a qualquer momento da explanação, poderia ser cortada com perguntas. E foi assim que, passando pelo actual sistema capitalista em que estamos inseridos e capitulação do Estado enquanto regulador para evitar abusos do mais forte, chegámos a Abril de 1974, à independência das ex-colónias ultramarinas e regresso dos colonos, chamados de “retornados”, que constituíram uma força de mudança importante no situacionismo do país. Passámos para 1986 e, sumariamente, analisámos a consequência da adesão de Portugal à CEE, Comunidade Económica Europeia, com a reforma compulsiva de alguns agricultores por força do menor custo produtivo, e o quanto essa imobilização tornou a cidade centro de atracção para novos comércios. Falámos do nascimento das primeiras duas grandes superfícies em 1993, a Makro e o Continente, e outras que viriam mais tarde, e a sua consequência para o esvaziamento do coração da cidade enquanto centro comercial do centro. Falámos também da responsabilidade do poder local enquanto entidade motora do seu desenvolvimento. Arranhámos ao de leve no mito urbano de que o estacionamento pago é um responsável do definhamento da Baixa. Falámos no presente desta zona de antanho, que é feito por muitos velhos, e o futuro que se deseja que seja feito por eles, gente nova, com sensibilidade e com memória e o quanta esperança se deseja que tudo mude para melhor, porque tudo, incluindo a cidade e os costumes, é dinâmico.
Foi uma experiência gira. Gostei muito. Reiterando o que escrevi no início do texto, mais que certo, a cerca de dezena de jovens levou para contar, já que o apresentador, para além de chato como as melgas, é fraco na explanação. Mas foi o que se pode arranjar. Amanhã, novamente por volta das 10h00, se não for possível outro orador, cá estarei novamente. Falei em outro orador porque, abusivamente e mesmo à margem da solicitação do Teatrão, convidei o escritor Pinto dos Santos, mais conhecido por Tony, que nasceu e viveu na Rua das Padeiras nos anos de 1950 e escreveu um belíssimo livro sobre a Baixa desse tempo, para me substituir. Ainda não me respondeu. No caso da sua impossibilidade, mau grado para quem tiver de me gramar outra vez, amanhã cá nos encontraremos novamente.
Muito obrigado à Luísa Silva, da Câmara Municipal, por me ter aconselhado à Isabel Craveiro, da direcção do Teatrão. A ambas mandarei a conta da minha (má) prestação. Bem-haja a ambas.


1 comentário:

Unknown disse...

Boa iniciativa do Teatrão! Quanto ao orador,visto que o José hermano saraiva não estava disponivel,não me parece mal de todo!

Abraço,Luis!