sábado, 20 de junho de 2015

HENRIQUE NETO E AS NEGOCIAÇÕES DO TRATADO TRANSATLÃNTICO





Começo com uma ressalva: gosto de Henrique Neto. Até agora, de dois, é um dos meus prováveis potenciais candidatos a Belém e que estarei disposto a dar o meu voto.
Ouvi com atenção este seu discurso sobre a economia portuguesa e particularmente, enquanto proponente a Presidente da República, sobre o Tratado Transatlântico, que tanto se fala mas ninguém sabe o que é. Pelo pouco que transpira dos gabinetes europeus, sabe-se apenas que dos “Estados Unidos nem bons ventos nem amores queridos. Por outras palavras, da “Terra do Tio Sam” só pode vir ferroada ou canelada. Honra lhe seja feita, só o Bloco de Esquerda, pela voz de Mariza Matias, tem tentado abrir brechas nas paredes blindadas deste negócio que cheira a tudo menos a perfume.
Enquanto leitor ignorante, gostava que Henrique Neto, um presumível depositário do meu voto, tivesse sido mais claro. Isto é, sem tibiezas, que afirmasse “sim” ou “sopas”! Durante 27 minutos, esvoaçando sobre o Oceano Pacífico e a China, fez um bom desenho da realidade mas faltou lá a sua posição marcada. É contra ou a favor do TTIP, Tratado de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento?

O texto que se segue foi retirado do Blogue Aventar.

“Imagina um documento, desconhecido pela maioria da população da União Europeia e dos Estados Unidos, que substituía as leis nacionais e comunitárias de uma só vez. Imagina que esse documento era discutido atrás de portas fechadas, com as negociações entregues a burocratas não eleitos e representantes de empresas multinacionais. Imagina que esse documento quebrava à partida a legislação comunitária ao ser discutido em segredo. Imagina que o documento entrava em vigor e tu nem sabias de nada. Não precisas imaginar mais. Esse documento chama-se Tratado de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (sigla TTIP) e está em discussão há meses em Bruxelas e Washington. Imagina agora que o país em que ocorrem esses “investimentos” não aceita revogar as suas leis perante o investidor estrangeiro. Que não aceita destruir a legislação de proteção do ambiente, da legislação laboral… Vão para os tribunais, certo? Não. O TTIP cria o mecanismo de “Resolução de Litígios entre os Investidores eo Estado” (ISDS) , que, não sendo um tribunal, decidirá sempre que uma empresa processar um Estado por pôr em causa ganhos futuros. O ISDS mais não é que uma reunião de advogados das principais firmas privadas em que está proibido levar em conta questões de saúde pública, direitos humanos, protecção ambiental, direitos laborais e direitos sociais. Só o comércio e o investimento livre interessam. Dá às empresas o poder de estados, e podem exigir não só a alteração de leis em vigor como impedir a criação de novas leis por parte de organismos eleitos democraticamente como os parlamentos.”


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