A notícia está aí para quem a quiser entender:
“Lince Ibérico regressa a Portugal após percorrer centenas de quilómetros e atravessar rio a nado”. Lembro que
estes dois felinos foram criados em cativeiro e, segundo reza a história, foram
soltos em Maio, em Espanha e, conforme se escreve, um deles, depois de
percorrer mais de quinhentos quilómetros, regressou.
Para aqueles maledicentes do
costume, assim parecidos com a fronha do “Velho
do Restelo”, que só vêem desgraça e coisas do pior, esta peregrinação
desvenda que o nosso país é cada vez melhor para os animais cá viverem. Numa
altura em que as bocas da reacção destilam veneno contra o Governo por ter incentivado a emigração, este comportamento do bicho, ipsis verbis, preto no branco, vem mostrar que o rectângulo não é
tão mau conforme o pintam.
É certo que, no limite poderemos
estar em face da síndrome de Estocolmo –patologia psiquiátrica que se
desenvolve num indivíduo submetido a um tempo prolongado de intimidação e em
que, alterando o seu estado psicológico particular, passa a ter simpatia, amor
ou amizade, pelo seu agressor e sequestrador. Ora, em silogismo, embora pense
que o comportamento do lince ibérico comparado com o humano ainda não esteja
suficientemente estudado mas, se os ratos procedem do mesmo modo, está de ver que,
na mesma percentagem, dos cerca de trezentos mil emigrantes portugueses que
voaram para outras paragens, metade vai regressar a Portugal. Portanto, o
Governo pode perfeitamente desmontar, com factos, as tramoias continuadas da
oposição. Portugal é mesmo uma terra de excelência para todos os animais, incluindo
os mais inteligentes –está de ver que o lince que por lá ficou e não regressou
era mais que estúpido, era um asno em forma de gato. Se fossem precisos mais
argumentos atentemos que temos um Coelho à frente do executivo.
Por acaso ninguém liga ao que escrevo –nem
estranho, já que os perspicazes estão todos na prateleira à espera de uma
oportunidade-, mas se eu mandasse, pegando neste exemplo do lince, começava a
fazer lá fora, na “estranja”,
políticas migratórias para fazer de Portugal uma colónia para animais de quatro
patas. Pegando no discurso do Presidente da República, Cavaco Silva, em que defende
que devemos retornar à agricultura –depois dele ter sido um obreiro no arrumar
das enxadas pelos calaceiros do campo, mas isso não é para aqui chamado-, está
de ver que precisamos é de animais para fazer estrume. Não precisamos de ser a terra
prometida para os migrantes do mediterrâneo, nada disso! Necessitamos é de
animais. E a procura mal chega para a oferta. A moda até já está implantada
aqui na Baixa da cidade. Quem quiser ver belas cagadas na calçada, venha cá dar
uma volta, à noite e durante o dia, e verificará que a salvação do país está
nos animais. Porque é que só eu vejo isto? Porque sou sobredotado, obviamente!
Sem comentários:
Enviar um comentário