sábado, 6 de junho de 2015

COIMBRA VISTA POR UM CASAL DE TURISTAS BRASILEIROS




É um casal de brasileiros. A sua idade deve rondar as seis décadas, talvez para menos. Conversa puxa conversa e fiquei a saber que marido e mulher são de São Paulo. Têm familiares em Coimbra e todos os anos vêm à Europa e particularmente a Portugal.
Vieram de Espanha há uns dias. Notaram que a crise económica tornou os espanhóis mais acolhedores. “Noutros tempos, ostracizavam-nos -enfatizam. Espanha sempre foi conhecida pela frieza com que tratava os estrangeiros. Agora não! Parecem pegar-nos ao colo! Já viram que a galinha dos ovos de ouro está no turismo mundial. Sobretudo no sul, na zona de Algeciras, na Andaluzia, a limpeza das ruas é impressionante. Não se vê um papel no chão nem lixo fora dos contentores. O edificado está todo recuperado ou, pelos andaimes na fachada, em vias de o ser. Eu e a minha esposa ficámos deveras impressionados pela positiva com a nova mudança operada no país de Cervantes, e do personagem Dom Quixote de La Mancha.”

E EM PORTUGAL? E NOMEADAMENTE EM COIMBRA?

“Noto que Portugal não está a saber aproveitar este fluxo de turismo mundial. Tratam o turista, agora, como Espanha nos recebia há uma década atrás, com distância. As cidades estão emporcalhadas. O Porto, enquanto metrópole, é o modelo de cidade pouco limpa.
Nos últimos quinze anos apercebo-me que Coimbra tem vindo sempre a cair. É uma cidade muito suja. As ruas estão imundas e junto aos contentores, na área circundante, o lixo está a conspurcar tudo em redor. O edificado está uma desgraça. Não entendo como é que sendo uma cidade universitária com áreas que toca a arquitectura deixam chegar a urbe a este estado. Se fosse no Brasil seriam os próprios professores a incutir nos alunos que desenvolvessem projectos para um determinado edifício em ruínas. Repare, para além dos meus laços familiares, eu venho à cidade dos estudantes pela monumentalidade. São os seus edifícios históricos que me trazem cá. Ora, o que nos é oferecido? Uma parte histórica a esboroar-se, a cair aos bocados. Só a Universidade se apresenta limpa e como postal ilustrado. Mas e o resto? A rua da Sofia, uma rua fantástica, parece que não há lá nada. Não chama o turista. Vejo este prédio degradado aqui à frente (no Largo da Freiria). Isto não seria admissível em outro qualquer país da Comunidade Europeia. Se fosse em Londres, no Reino Unido, seria a comissão de bairro a tomar conta deste monstro e a obrigar o poder municipal a intervir imediatamente. Vocês não fazem nada?
A gastronomia é boa em algumas casas típicas. Não em todas. Ainda ontem fomos, eu e a minha mulher, ao “Zé Manuel dos Ossos”. Havia uma fila na rua à espera. Nós procuramos a boa cozinha portuguesa. Queremos comer bem. Acho que devem apostar mais nos pratos regionais e menos no baixo preço e no despachar o digressionista.”

DOIS DIAS NA CIDADE

“Normalmente nunca permanecemos mais de dois dias na cidade. Pergunta você por quê só dois dias? Olhe, porque penso que os arredores não são indicados como itinerários ao turista. Por exemplo, Conímbriga, aqui tão próximo, não nos é recomendada a visita. Nós, por acaso, sabemos que existe e vamos lá muitas vezes, mas é nossa convicção que a maioria não vai lá pelo desconhecimento. Vocês, conimbricenses, têm tudo. Praia, monumentalidade, mata nacional, aldeias típicas. As coisas não estão a funcionar devidamente. Coimbra está a perder o comboio do progresso!”


2 comentários:

Hélder M disse...

O relato do turista não é surpreendente.
O que me parece é que os portugueses quanto mais ouvem falar nas suas próprias falhas menos lhe dão importância, isso é fado.
De facto, Coimbra ainda não evolui tanto como LX ou Porto, em que o turista admira a beleza das ruas principais mas, ao mesmo tempo, cheira a urina ou lhe é oferecido droga.
O turismo em Coimbra, já teve dias melhores.
E se não houvesse Universidade ou Monumentos? Tínhamos vontade ou capacidade de criar coisas para sermos diferentes de modo a atrair visitantes/turistas?

Pedro Marques disse...

Que vergonha!! Ninguém enviou este relato à Câmara Municipal de Coimbra ou aos responsáveis do Turismo de Portugal? Senão envio eu!