quarta-feira, 24 de junho de 2015

O ESTRANHO CASO DA LOJA ARROMBADA





Na rua da Sofia não se fala de outra coisa: “a Maria Bonita foi “violada”. De tal modo foi o “diz-que-disse” que encheu a boca e os ouvidos de todos. Desde o “Manel”, da onça, até ao Urbano, engraxador, com cada um a acrescentar um ponto, o “furo” chegou ao meu largo mais desvirtuado que a trabalhadora nocturna Eleutéria. É claro que, aqui na redação do blogue, não emprenhamos pelos ouvidos, nem por inseminação artificial -somos muito pobrezinhos, graças ao altíssimo que nos alumia lá do alto, mas muito seriozinhos quando o podemos ser, mas isso não importa nada-, montámos em cima da cavalgadura –que, por falta de meios para troca, continua a ser o Silvano- e partimos em direcção à antiga rua dos colégios.
Mal o nosso repórter dava ao lamiré do caso da loja arrombada, da Maria Bonita, o diálogo era imediatamente cortado secamente com “não sei nada!”. Mas é claro que cá em casa, desde o burro até ao gato, toda a equipa está instruída para nunca desistir de obter uma informação relevante para os nossos leitores. Afinal, mesmo não pagando e serem mais exploradores que o Hermenegildo Capelo e o Roberto Ivens quando atravessaram Angola durante o último quartel do século XIX, é para vocês, leitores aproveitadores do pobre desgraçado escrivão, que aqui se trabalha arduamente para manter a informação de tudo o que mexe e remexe nesta zona da Baixa. Somos tão bons, tão bons, que ninguém nos quer ver nem de ginjeira. E foi assim, por becos e travessas, suando, transpirando e esgravatando, que se chegou a um voluntarioso depoente. Vou ligar o gravador. Tome atenção que não posso repetir porque não há dinheiro para substituição de pilhas.

GRAVADOR “ON”

“Eu falo consigo pela consideração que tenho por si! Está a ouvir? Mas atenção: nada de nomes! Está a ouvir? Ouviu bem? Eu não falei consigo. Está ouvir? Então vamos lá! A “Maria Bonita”, nome da loja, está aqui implantada há cerca de um ano. É de uma senhora brasileira –que me parece que era estilista no Brasil. Ao que consta, por questões de estratégia, o contrato de arrendamento foi celebrado em nome de uma outra senhora e esta, por sua vez, sub-alugou à estilista natural das terras de Cabral. Há cerca de quatro meses, alegadamente pela tubagem em mau-estado e da responsabilidade do proprietário do edifício, houve uma inundação na loja que teria redundado em prejuízo para a locatária do sub-aluger. Por razões não esclarecidas, o senhorio não aceitou a argumentação da lesada e esta, presumivelmente, teria deixado de pagar dois meses para ressarcimento dos danos. Resultado de tudo isto: nesta última segunda-feira o proprietário, acompanhado da primeira contraente do contrato e de um funcionário de uma firma de chaves, mudou a fechadura e colou uma informação a justificar o acto. Ao que parece, a contratante, para se fazer pagar das rendas atrasadas, teria levado consigo máquinas e artigos –através do vidro é visível prateleiras vazias e um certo caos- e deixaram as luzes acesas do estabelecimento.
Tanto quanto sei a empresária brasileira apresentou queixa na PSP. Sabe o que é isto? É o estado miserável do comércio a vir ao de cimo. Ao que isto chegou, meu amigo! Mas, tome nota, a procissão ainda vai no adro! E mais não posso dizer! Mas não ponha lá o meu nome… está a ouvir?”




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