E tudo o vento levou... Pouco. É que os vampiros comem tudo e como perspicáciamente se testemunha, quase nada restou. Só de pensar que me convenceram que o povo é que ordenava e que construiriam um novo Portugal, equalitario e justo... Eu ainda não tinha treze anos e o sonho que me entregavam, para mim era a realidade. Como em Coimbra, o milagre das rosas, este p'ra mim era o milagre dos cravos em Portugal. Não dávida de uma Princesa Hungara feita Rainha de Portugal mas sim de jovens soldados que com o povo ao seu lado abriam o avental da liberdade, pleno de esperança, promessas de pão e justiça para todos... Cinco anos depois emigrei, e com isso muito ganhei mas também tanto perdi. Perdi Coimbra anfiteatral, perdi o Mondego, ora forte e transvalaçador ora manso, sereno e ribeirinho com as suas, ofuscadas agora, ilhas e penínsulas de prateado areal. Perdi também o bom povo da minha aldeia, que me criou e educou com o seu exemplo e bairrismo. Porém, o que mais essencial há para viver e realizar sonhos, já eu o tinha perdido. Com o passar do tempo, os Onze de Março, os Vinte e cincos de Novembro, os malabaristas aldrabões retornados (não os nossos familiares de África, não. Aqueles que pela boreal Europa se exilavam) e o fudor da estagnada e pervertida Revolução de Abril perdi a inocência, o acreditar nos homens. Esvaeceu-se em mim o ideal de um mundo melhor. Bem, o meu Avô Carlos dizia "Tristezas não pagam dívidas". Com as que tenho pouco me apetesse celebrar Abril.
1 comentário:
Amigo:
E tudo o vento levou... Pouco. É que os vampiros comem tudo e como perspicáciamente se testemunha, quase nada restou.
Só de pensar que me convenceram que o povo é que ordenava e que construiriam um novo Portugal, equalitario e justo... Eu ainda não tinha treze anos e o sonho que me entregavam, para mim era a realidade. Como em Coimbra, o milagre das rosas, este p'ra mim era o milagre dos cravos em Portugal. Não dávida de uma Princesa Hungara feita Rainha de Portugal mas sim de jovens soldados que com o povo ao seu lado abriam o avental da liberdade, pleno de esperança, promessas de pão e justiça para todos... Cinco anos depois emigrei, e com isso muito ganhei mas também tanto perdi. Perdi Coimbra anfiteatral, perdi o Mondego, ora forte e transvalaçador ora manso, sereno e ribeirinho com as suas, ofuscadas agora, ilhas e penínsulas de prateado areal. Perdi também o bom povo da minha aldeia, que me criou e educou com o seu exemplo e bairrismo. Porém, o que mais essencial há para viver e realizar sonhos, já eu o tinha perdido. Com o passar do tempo, os Onze de Março, os Vinte e cincos de Novembro, os malabaristas aldrabões retornados (não os nossos familiares de África, não. Aqueles que pela boreal Europa se exilavam) e o fudor da estagnada e pervertida Revolução de Abril perdi a inocência, o acreditar nos homens. Esvaeceu-se em mim o ideal de um mundo melhor.
Bem, o meu Avô Carlos dizia "Tristezas não pagam dívidas". Com as que tenho pouco me apetesse celebrar Abril.
Um abraço
Álvaro José da Silva Pratas Leitao
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