domingo, 21 de outubro de 2012

A RUA DO "NONSENSE"






 Não se sabe muito bem se o facto da Rua da Sota, pela razão de ser “Sota”, que no Dicionário de Língua Portuguesa, entre vários, significa “ser mais esperto do que os outros”, terá a ver com a confusão que está a causar a todos que a pretendam atravessar. O caso não será para menos, é que junto ao Banco de Portugal, ainda no Largo da Portagem e entrada principal, uma placa anuncia a proibição de circulação “excepto residentes e ligeiros para cargas e descargas”. Mais abaixo e agora já no início da artéria está presente uma seta de sentido obrigatório e acompanhada com uma outra indicação: “zona estacionamento de ligeiros sujeito a pagamento –dias úteis: 8 às 19h00; Sábados: 10 às 14h00”. Andamos mais uns metros para a frente e, com os dois lados cheios de automóveis, verifica-se que no esquerdo, sem ocupar toda a área disponível, é onerado com pagamento e está uma máquina de bilhética dos SMTUC; do direito, onde em tempos e pela Junta de Freguesia de São Bartolomeu foram colocados uns vasos enormes com plantas para libertar metade da via para os peões, não existe indicação de pagamento, no entanto, está repleta de veículos.
Para melhor se entender, afinal, é proibido circular e estacionar em metade da rua ou não? Vou começar por inquirir um agente da PSP, em guarda ao Banco de Portugal, que no meio de um sorriso, responde mais ou menos assim: “olhe, a essas perguntas difíceis só respondo na presença do meu advogado. Diga-me lá, alguém entende o que está aí? Essas placas devem ser para sobredotados!”. Vamos agora interrogar Carlos Clemente, presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu: “por amor de Deus, não me faça perguntas difíceis cujas respostas são impossíveis de dar. Sobre este assunto, já mandei um ofício para a Divisão de Trânsito da Câmara Municipal, e ninguém me deu réplica. Levantei a questão na Assembleia Municipal e, até agora, estou à espera. Já falei pessoalmente com uma pessoa ligada ao trânsito e reiterou-me que os sinais estão muito bem. Ainda bem que você veio ter comigo, é que até pensava que estava a dar em doidinho. Que bom, você ter vindo. Que alívio!”
É muito natural que, chegados até aqui, estejam na mesma como quando começaram, isto é, não percebam o que estará mal. Vamos ouvir comerciantes da rua, talvez fiquemos mais esclarecidos. Viriato Silva, do estabelecimento Centro Velocipédico de Sangalhos, diz o seguinte: “É um disparate retirar o trânsito a esta rua. Ao fazê-lo, sem atenção às actividades comerciais, estão a condená-la à morte. Não faz sentido todo aquele estacionamento ser para carga e descarga. Deixem-no com acesso a todos os interessados. Aliás, é como está. Deveriam arranjar a calçada, que está que é uma vergonha. Todos os dias aqui caem pessoas.”
Mais à frente, Filipa Branco, funcionária de um salão de cabeleireiro junto à RAF, diz o seguinte: “Não faz sentido como está. Em vez de desencadear a ordem está uma desordem. Para ser, de facto, destinado a carga e descarga deveria ser de paragem temporária. É incompreensível estar afixada uma placa de trânsito proibido, excepto para moradores e carga e descarga. Quando vem a polícia multa tudo a eito, tenham talão ou não, e mesmo do lado onde não tem placa de proibição. Só se safa o espaço reservado à carga e descarga, mas acontece que os carros, neste espaço reservado, estão lá todo o dia.”
Carla Faustino, proprietária do espaço comercial, resolveu dar também opinião: “ Olhe, isto aqui é uma vergonha. Ainda há dias parou aqui uma carrinha de caixa-aberta que me entregou uma encomenda. Como não havia lugares vagos, parou no centro da via durante uns minutos, só o tempo de eu passar o cheque. Passou um polícia de moto e gritou: “tire já esta merda do caminho que quero passar!”. As minhas duas funcionárias colocam cá o carro quando têm lugar. Hoje o parquímetro está avariado, mas tem de se pagar todos os dias, incluindo o sábado contrariamente ao que foi anunciado no jornal. Às vezes chega a haver quase pancada por causa dos lugares.”
José Lourenço, da RAF, retorque o seguinte: “Deveria ser a pagar dos dois lados. Se tem um espaço destinado a carga e descarga o tempo de paragem deve ser limitado a uma hora, para permitir uma certa rotação. Costuma estar aí estacionada uma carrinha branca, dia e noite. Até o dono dorme lá dentro. Há carros aqui imobilizados durante semanas. Deveria haver mais fiscalização. A rua deveria ser aberta ao trânsito, a todos, que, na prática, é o que se passa actualmente. Não faz sentido os moradores terem aí o carro parado dia e noite.”

1 comentário:

João Paulo Craveiro disse...

O Prof. Jorge de Alarcão descreve, no seu extraordinário "COIMBRA- A montagem do cenário urbano" (pag 19 e 20)como as enxurradas da Alta desciam o quebra-costas, e pela Praça Velha, a norte da Igreja de S. Bartolomeu, indo desaguar no rio, junto do Largo da Sota (ou cloaca), A actual Rua dos Esteireiros chamava-se até ao séc. XVI, Rua da Enxurrada.