quinta-feira, 25 de outubro de 2012

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "A RUA DO "NONSENSE", deixo também as crónicas "VANDALISMO NA IGREJA DE SÃO TIAGO"; "MÚSICA CLÁSSICA NO CAFÉ SANTA CRUZ"; e "REFLEXÃO: UM PACTO SOCIAL PARA A BAIXA".



A RUA DO “NONSENSE”

 Não se sabe muito bem se o facto da Rua da Sota, pela razão de ser “Sota”, que no Dicionário de Língua Portuguesa, entre vários, significa “ser mais esperto do que os outros”, terá a ver com a confusão que está a causar a todos que a pretendam atravessar. O caso não será para menos, é que junto ao Banco de Portugal, ainda no Largo da Portagem e entrada principal, uma placa anuncia a proibição de circulação “exceto residentes e ligeiros para cargas e descargas”. Mais abaixo e agora já no início da artéria está presente uma seta de sentido obrigatório e acompanhada com uma outra indicação: “zona estacionamento de ligeiros sujeito a pagamento –dias úteis: 8 às 19h00; Sábados: 10 às 14h00”. Andamos mais uns metros para a frente e, com os dois lados cheios de automóveis, verifica-se que no esquerdo, sem ocupar toda a área disponível, é onerado com pagamento e está uma máquina de bilhética dos SMTUC; do direito, onde em tempos e pela Junta de Freguesia de São Bartolomeu foram colocados uns vasos enormes com plantas para libertar metade da via para os peões, não existe indicação de pagamento, no entanto, está repleta de veículos.

Para melhor se entender, afinal, é proibido circular e estacionar em metade da rua ou não? Vou começar por inquirir um agente da PSP, em guarda ao Banco de Portugal, que no meio de um sorriso, responde mais ou menos assim: “olhe, a essas perguntas difíceis só respondo na presença do meu advogado. Diga-me lá, alguém entende o que está aí? Essas placas devem ser para sobredotados!”. Vamos agora interrogar Carlos Clemente, presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu: “por amor de Deus, não me faça perguntas difíceis cujas respostas são impossíveis de dar. Sobre este assunto, já mandei um ofício para a Divisão de Trânsito da Câmara Municipal, e ninguém me deu réplica. Levantei a questão na Assembleia Municipal e, até agora, estou à espera. Já falei pessoalmente com uma pessoa ligada ao trânsito e reiterou-me que os sinais estão muito bem. Ainda bem que você veio ter comigo, é que até pensava que estava a dar em doidinho. Que bom, você ter vindo. Que alívio!”

É muito natural que, chegados até aqui, estejam na mesma como quando começaram, isto é, não percebam o que estará mal. Vamos ouvir comerciantes da rua, talvez fiquemos mais esclarecidos. Viriato Silva, do estabelecimento Centro Velocipédico de Sangalhos, diz o seguinte: “É um disparate retirar o trânsito a esta rua. Ao fazê-lo, sem atenção às atividades comerciais, estão a condená-la à morte. Não faz sentido todo aquele estacionamento ser para carga e descarga. Deixem-no com acesso a todos os interessados. Aliás, é como está. Deveriam arranjar a calçada, que está que é uma vergonha. Todos os dias aqui caem pessoas.”
Mais à frente, Filipa Branco, funcionária de um salão de cabeleireiro junto à RAF, diz o seguinte: “Não faz sentido como está. Em vez de desencadear a ordem está uma desordem. Para ser, de facto, destinado a carga e descarga deveria ser de paragem temporária. É incompreensível estar afixada uma placa de trânsito proibido, exceto para moradores e carga e descarga. Quando vem a polícia multa tudo a eito, tenham talão ou não, e mesmo do lado onde não tem placa de proibição. Só se safa o espaço reservado à carga e descarga, mas acontece que os carros, neste espaço reservado, estão lá todo o dia.”
Carla Faustino, proprietária do espaço comercial, resolveu dar também opinião: “ Olhe, isto aqui é uma vergonha. Ainda há dias parou aqui uma carrinha de caixa-aberta que me entregou uma encomenda. Como não havia lugares vagos, parou no centro da via durante uns minutos, só o tempo de eu passar o cheque. Passou um polícia de moto e gritou: “tire já esta merda do caminho que quero passar!”. As minhas duas funcionárias colocam cá o carro quando têm lugar. Hoje o parquímetro está avariado, mas tem de se pagar todos os dias, incluindo o sábado contrariamente ao que foi anunciado no jornal. Às vezes chega a haver quase pancada por causa dos lugares vagos.”
José Lourenço, da RAF, retorque o seguinte: “Deveria ser a pagar dos dois lados. Se tem um espaço destinado a carga e descarga o tempo de paragem deve ser limitado a uma hora, para permitir uma certa rotação. Costuma estar aí estacionada uma carrinha branca, dia e noite. Até o dono dorme lá dentro. Há carros aqui imobilizados durante semanas. Deveria haver mais fiscalização. A rua deveria ser aberta ao trânsito, a todos, que, na prática, é o que se passa atualmente. Não faz sentido os moradores terem aí o carro parado dia e noite.”


VANDALISMO NA IGREJA DE SÃO TIAGO

 A Igreja São Tiago, na Praça do Comércio, em Coimbra, foi recentemente vandalizada. Em um dos capitéis exteriores, do lado direito de quem entra, ornamentados com motivos vegetalistas e animais, é patente a decapitação da cabeça de um leão. Para além disso, a porta em madeira virada para a Praça do Comércio está rasurada com tinta de esferográfica e com giz. Como se fosse pouco, para além da degradação acentuada nas colunas da janela do lado direito, no telhado avista-se uns pequenos matagais a mostrar que esta cidade, a que chamam de cultura, preza muito pouco a sua riqueza histórica e memorial.

Só para lembrar, este templo foi construído entre o final do século XII e princípios do século XIII e constitui uma das mais extraordinárias manifestações do estilo românico na cidade. Segundo reza a história foi erguido para dar guarida aos muitos peregrinos que, em trânsito, se dirigiam a São Tiago de Compostela.
Já por várias vezes chamei a atenção para o permanente e prejudicial encerramento deste e de outros templos na Baixa, incluindo uma carta aberta ao senhor Bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes. Até à data não obtive resposta. Mas como sou muito paciente, e se Deus Nosso Senhor quiser, acredito piamente que Dom Virgílio ainda me vai “passar cartão”.


MÚSICA CLÁSSICA NO CAFÉ SANTA CRUZ

 Inserido nos VI Encontros Internacionais da Guitarra Portuguesa, uma iniciativa da Orquestra Clássica do Centro (OCC) com o apoio da CGD, no último domingo, realizou -se no Café Santa Cruz um concerto com o quarteto de cordas da OCC e o solista Artur Caldeira (guitarra clássica e guitarra portuguesa). No âmbito da parceria entre a OCC e o reputado café, que se traduz nos designados “Encontros em Coimbra (na Baixa)”, mostrou-se neste vetusto estabelecimento um espetáculo de “primeiríssima água”, parafraseando o maestro Virgílio Caseiro, que fez as apresentações e desejou as boas vindas ao repleto espaço de restauração, a rebentar pelas costuras, e com pessoas na rua.
Tendo por pano de fundo a homenagem a Luiz Goes, recentemente falecido, foram tocadas peças de vários autores, incluindo Artur Paredes, Carlos Paredes, Luiz Goes e arranjos para quarteto de cordas e guitarra feitos pelo próprio Artur caldeira e pelo maestro titular da OCC, David Lloyd.
Quem não esteve nesta tarde na Baixa perdeu uma grande oportunidade de ver um dos maiores concertos de câmara ao vivo dos últimos tempos. A comprová-lo foram as ovações a estenderem-se em largos segundos ou minutos e algumas vezes de pé.


Com a estreia de uma nova peça, “Em nome da madrugada em Coimbra”, pelo quarteto de cordas da OCC iniciou-se o serão. Seguidamente, em junção com Pedro Caldeira a desvendar que uma guitarra clássica se for bem tocada pode chorar e tocar-nos o coração, mostrou-se a todos os presentes na sala, em que, provavelmente, metade seria composta por turistas estrangeiros e estudantes de Erasmus e outra metade, parcialmente, por gente anónima, que nesta cidade capital de várias coisas e mais ainda também há muito boa música de câmara e de nível mundial. Houve momentos de tal solenidade que só se esperava ver sair dos recantos do salão encantadoras damas, embaladas em vestidos armados de seda púrpura, com longos decotes de colos generosos, cabelos presos na nuca e rostos meios-cobertos com leques de marfim. Durante precisamente uma hora, lambidas por acordes de encantar, aquelas pedras carcomidas pelo tempo ganharam vida nova e pareciam sorrir para uma certa dama e em representação de toda a imensidão de beleza da natureza feminina.
No fim, depois de sessenta minutos que passaram depressa, ouvia-se repetidamente: “não há mais? Não há mais? Já acabou? Não pode ser?!”
Numa cidade em que muitos eventos culturais acontecem mas, curiosamente, os munícipes se queixam de não terem tido conhecimento, era altura de se fazer uma base de dados com os frequentadores habituais e, através de mensagem, ser-lhes dada informação antecipada. Não custa nada, ganhavam todos, e a sua eficácia é garantida.
Parabéns à gerência do Café Santa Cruz e à direção da Orquestra Clássica do Centro, na pessoa de Emília Martins, por terem proporcionado um momento de tão rara beleza.


REFLEXÃO: UM PACTO SOCIAL PARA A BAIXA

 Este mês (re)abriram 3 lojas de comércio e dois estabelecimentos de hotelaria, na Baixa. Para além disso está em movimento um conjunto de iniciativas culturais particulares para revitalizar esta zona antiga. Tenho a certeza de que estou a repetir-me, mas o que é notório é que o centro da cidade continua a mexer. Em metáfora, é como um moribundo que já depois da extrema-unção, e contra todas as expetativas, teima em continuar a viver e não se apaga de vez. Ora, entre os que vêm e os que estão, salvo exceções, há uma diferença abissal. Bem sei que é normal. Basta dar uma volta pelo comércio e hotelaria instalados para ver o contínuo desânimo nos rostos cinzentos e nas palavras proferidas. O que gostaria de salientar é que nada está a ser feito para juntar todos no mesmo interesse. Enquanto uma maioria está de braços caídos e a deixar-se arrastar pela corrente destruidora, uma minoria, muito ínfima, tenta injetar Viagra na velhinha para que continue o seu desempenho. E o que fazer? 

Esta é a verdadeira questão. Não há soluções milagrosas, mas, creio que neste momento de verdadeiro extermínio das atividades comerciais, o executivo autárquico, liderado pelo presidente, Barbosa de Melo, deveria ter, pelo menos, uma palavra de preocupação com esta situação. No mínimo, deveria reunir no Salão Nobre da Câmara Municipal com todos os operadores e, nesta noite escura, tentar vislumbrar a luz. E o que poderá oferecer? Bem sei que na atual conjuntura pouco pode dar. Mas, mesmo nesta quase impossibilidade de criação, onde o nada é uma certeza, pode fazer muito e tem obrigação de mostrar ao povo que não está de braços cruzados e a olhar, apático, para o estado de desânimo dos comerciantes. É nestas alturas que se diferencia um líder de um político de passagem pelo poder. É urgente acertar um novo Contrato Social para a cidade. É preciso convidar todos a darem um pouco mais de si pelo coletivo. A autarquia deve dar o exemplo através de medidas de discriminação positiva. A Baixa não pode continuar a encerrar às 19h00. O Natal está à porta e é necessário que o comércio troque a manhã pela noite, já que esta, comercialmente, não funciona. Mas para isto acontecer há custos dobrados. Ora é precisamente aqui que a edilidade, enquanto interessado motor coletivo de desenvolvimento social, terá de intervir. Se assim não acontecer, e o executivo continuar a assobiar para o lado e ignorando o que se passa, ninguém vai sobreviver, nem os que estão nem os que vêm de novo.

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