Começo com uma ressalva, conheço Marinho e
Pinto há cerca de três anos. Não é um relacionamento de “tu lá tu cá”, mas é uma ligação baseada em algum respeito mútuo.
Não foi sempre assim. Até o conhecer pessoalmente, pelos imensos debates que
assisti na SIC Notícias, achava-o um
indivíduo truculento e radical. Enquanto Bastonário da Ordem dos Advogados,
tomava-o como corporativista e, pelas suas posições extremadas que nunca
percebi se eram de esquerda ou direita, defensor de cláusulas-barreiras que visavam cercear o livre acesso ao exercício
da advocacia. Naturalmente que respeitava as suas posições defendendo legitimamente
o que lhe parecia justo. Muitas vezes me identifiquei com algumas tomadas suas.
Outras não. E outras, ainda, cheguei a chamar-lhe louco. Cheguei a embirrar com ele. Até que, repetindo, há cerca de três anos tive a possibilidade de
estar mais perto e tentar perceber o ser,
a alma, que estava dentro da pessoa “Marinho
e Pinto”, dos jornais, da rádio e da televisão. E então a surpresa foi
total. À minha frente, e a falar comigo, tinha um homem simples, quase inibido,
contido na simpatia, algo tímido, muito educado e a fazer lembrar-me, em
modelo, um homem da província que, como o relembro, com saudade desapareceu. Para
os mais velhos, em paradigma, o provinciano
era um migrante na cidade vindo do interior do País. Era a personagem que, mesmo
na cidade há muitos anos, continuava a dar os bons dias na rua em que morava;
era um homem simples, de voz grossa mas melodiosa e adocicada, e de palavra –a sua
promessa não assentava em escritura pública mas no vocábulo proferido. Para
tornar mais objectivo este quadro, talvez exceptuando a simpatia, relembremos
Adolfo Rocha, mais conhecido como Miguel Torga –enquanto vivo, dezenas de vezes
me cruzei com ele junto ao Arco de Almedina mas nunca trocámos uma única palavra.
E agora sim, depois da salvaguarda, vou directo
para o que me levou a escrever esta crónica. Como todos sabemos, nas últimas
eleições para o Parlamento Europeu (PE), em 25 de Maio, Marinho foi eleito,
levando o MPT, Partido da Terra, a ocupar o quarto lugar conquistando mais de
7% da preferência dos eleitores, elegendo por isso dois representantes, e
ficando à frente do Bloco de Esquerda (BE) que não foi aquém de 4,5% e, por
conseguinte apenas elegeu Marisa Matias, minha conhecida, e nossa conterrânea
de Coimbra.
Já depois do seu anúncio como candidato ao PE,
em entrevista ao jornal “i”, em Janeiro deste ano e portanto antes de se saber
o resultado, Marinho afirmava: “é o
início de um processo que pode conduzir a outras aventuras. (…) tomar as posições de
acordo com as circunstâncias que, a cada altura, melhor defendam os interesses dos eleitores portugueses (...). Se
for eleito, admito sair do Parlamento Europeu se entender que sou mais útil na
Assembleia da República ou noutros locais.”
Agora, sete dias depois de tomar posse no PE, Marinho vaticina que vai abandonar Bruxelas para o ano que vem e, tal como afirmara
anteriormente, declara que vai candidatar-se às próximas legislativas. Cá no
burgo, à esquerda e à direita, agitam-se as águas partidárias, fretam-se os
navios de guerra e apontam-se os canhões do descrédito ao “evangelista” que, como um novo Cristo para o povo, significou uma
nova esperança redentora para a política portuguesa, abandalhada e descredibilizada.
Se assim não fosse como justificar a preferência de milhares de portugueses que
o escolheram nas urnas? Não deixa de ser crucial e fundamental o facto de, goste-se ou não do estilo, Marinho e Pinto, nos últimos anos, ter combatido uma série de poderes
instalados no País, e não só na magistratura.
À esquerda e à direita –como os Romanos viam em Cristo
um perigo para o seu império- estas ideologias, empregando argumentos populistas
–os mesmos considerandos que o acusaram aquando da candidatura- apregoam a
condenação popular do, aos seus olhos, herege que ousa romper o “status quo”, o situacionismo vigente. A imprensa, que nesta guerra
deveria ser isenta e apresentar o “antes e o depois” porque basta um clique
para chegar à informação, desonera-se do seu papel de informar, de quarto poder, e cai na desinformação,
alinhando ao lado dos interesseiros em manter os seus lugares de sempre, e,
tentando confundir a opinião pública, atira para a frente o ordenado de
eurodeputado, de cerca de 20 mil euros. Assumindo o papel de juiz e verdugo
estes mesmos media impõem que este
eurodeputado eleito resigne ao seu salário. Poucos são os jornais que tratam o apontamento com clareza e objectividade. As notícias transmitidas davam a ideia,
errónea, de que Marinho iria regressar a Lisboa após 7 dias na Bélgica e que,
sem abdicar, continuaria a usufruir do seu ordenado. Ora, a verdade, e só li
isto mesmo no Jornal de Negócios –os outros
permitiam outra interpretação- é que Pinto vai manter-se no PE a defender os
interesses de Portugal e até ao próximo ano.
A questão final é saber se, tal como Cristo, Marinho e Pinto vai ser
crucificado na cruz e ficará por aí. Quanto a mim, e mesmo com alguma
parcialidade pela amizade que me une, inclino-me que tomemos atenção ao homem e ao seu Evangelho e menos à mensagem contraditória que muitos, não
conseguindo afastar o seu interesse pessoal e partidário, nos querem impingir.
Estou a ser inocente? Admito! Gosto de Marinho e Pinto… e ponto de exclamação!
1 comentário:
Amigo:
Muito, muito obrigado.
Estar ao lado falando e escrevendo coisas bonitas, batendo-lhes nas costas áqueles que por malabarices se apoderam do senado, é fácil e rentável . Tal "botox" são as associações destes imbecis aos manipuladores que até os faz intumescer.
Só pela coragem demonstrada defendendo a sua Ordem e os injustiçados, concordando ou não, eu e todos, com todas as sua teses, merece o Sr. Doutor Marinho Pinto estatura não ao lado dos actualmente no poder mas sim da nobreza dos homens de duas mui diferentes terras que em Portugal conheci que agarrando a soga conduziam os bois que nos Palheiros de Mira alavam barcos à sirga lavrando o mar e na Ribeira de Frades sulcavam as lamas depositadas pelo Mondego cultivando arrozais, humildemente a um rapazote como eu cumprimentavam retirando a sua boina doridamente suada com o mesmo respeito com que o faziam ao medico da aldeia e ao prior.
Um abraço a descoberto
Álvaro José da Silva Pratas Leitão
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