(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Como pagador de promessas que, repetidamente,
a 13 de Maio caminha impreterivelmente para Fátima, excepto nas últimas presidenciais
em solidariedade com os utentes da linha do comboio da Lousã e para sua
reposição, sempre cumpri o meu dever cívico de votar. Fossem eleições
Legislativas, Autárquicas ou Europeias sempre estive lá. Embora liberal por
convicção, como ovelha tresmalhada, nunca segui nenhum partido “a la letre”. O que sei é que nunca dei o
meu voto aos radicais, que considero os polos, quer à esquerda quer à direita.
Retirando estes, já votei em todos. Quando falava com amigos ou conhecidos que
proclamavam textualmente que já há muito deixaram de votar, assim a admoestar e
como mensageiro de um direito conquistado à força de baioneta, eu aflorava o
facto de, não exercendo o direito, estar a arredar-se das grandes decisões do
País. Até que cheguei a esta altura, ao ano de 2014, quase em vésperas de
eleições legislativas e, sinceramente, sinto-me perdido e sem saber se irei
votar no próximo sufrágio.
Nos partidos da Coligação, PSD E CDS/PP, com
estes líderes actuais não verão o meu voto. Só o farei se surgir um dirigente que,
não prometendo o que não sabe se pode cumprir, me convença que é diferente dos
actuais. Que seja sério, pragmático, e que não esteja simplesmente interessado em
dar emprego aos seus amigos, compadres e familiares e nos privilégios pessoais
e para o partido. E, acima de tudo, que me traga algo de novo. Não continue a
persistir nas soluções refogadas que já denunciam o cheiro a esturrado a léguas
de distância. Então quando são moções escritas dá uma tal repelência que, pura
e simplesmente, nos negamos a ler.
No Partido Socialista (PS), no passado dia 12,
tendo em vista, primeiro, vencer as primárias do partido e a seguir levantar
voo ministerial, António Costa apresentou o seu manifesto de 30 páginas sobre o
lema “Mobilizar Portugal”. É um “déjà
vu” de um presumível programa de governo que, sem se comprometer, nos
assombra há décadas e no seguidismo da falta de credibilidade. Não traz nada de
novo, é vazio de conteúdo objectivo, demagógico, esvoaçante sobre os problemas
estruturais do País e, retirando as suas várias referências à direita ao longo da bíblia eleitoral para uma década, poderia perfeitamente ser
apresentado pelos Social-democratas.
É engraçado, sem graça, como logo
no início do documento está escrito que “Três
anos volvidos sobre a chegada ao poder do Governo de coligação entre o PSD e o
CDS, a sociedade portuguesa revela uma clara vontade de mudar de estratégia, de
políticas e de protagonistas. Uma ampla maioria social recusa a dinâmica de
retrocesso social, a lógica de confronto permanente, o impasse político, a
incerteza generalizada”. Pelos vistos, é entendido que é preciso modificar
o caminho para o futuro. Ora o que está plasmado a seguir, nas linhas condutoras
deste candidato a primeiro-ministro, é uma pasmaceira, em bocejo, de mais do
mesmo. Os chavões são: “responsabilidade”,
“retrocesso social”, “desigualdades”, “exclusão social”, “compromisso”, “estabilidade
e confiança”, “sustentabilidade”, “uma sociedade decente”, “descentralização”, “igualdade”,
“alternativa”, “recuperação”, “sustentabilidade”, “economia mais competitiva”, “recuperação
económica”, “investir no futuro”, “coesão social”, “concertação social”, “desenvolvimento”,
“valorização do trabalho”, “convergência”, “direitos” “trabalho” e “emprego”.
Como frase filosófico-populista elegi esta: “A pobreza não é um problema dos
pobres: é uma violação dos direitos de cidadania que coloca em causa a nossa
vivência democrática; é um obstáculo ao desenvolvimento económico e é, em
particular a pobreza extrema, um fator de fragilização da coesão social”. Pergunto
eu:
se a pobreza não é um problema dos pobres de quem é?
E O OUTRO É MAIS SEGURO?
E passamos para António José Seguro, o actual
líder Socialista, que em cerca de vinte e seis páginas e com 80 medidas, no dia
17, apresentou o seu “Contrato de Confiança –Novo Rumo para
Portugal”, que visa servir de base para um novo programa de governo.
Em completa demagogia mas ao
contrário do seu rival Costa, e para prender a atenção do (e)leitor, de uma
forma descarada começa logo por dizer “Nada
prometer que não possamos cumprir, é um dos princípios orientadores deste Contrato
de Confiança. Para gerar a confiança indispensável à motivação dos portugueses
em torno deste projeto nacional, é crucial que o próximo Governo honre a sua
palavra”. Em completo despudor escreve que “O Contrato de Confiança corresponde a uma nova forma de fazer
política em Portugal”. Tal como o seu
opositor, lá vem as frases-chaves repetidas até á exaustão: “Contrato de Confiança”, “cultura de responsabilidade”, “compromisso”, “oportunidade”, “Democracia de
Confiança”, “coesão social”, “desenvolvimento”, “emprego”, “desigualdades”,
“Estado sustentável e de confiança”.
António José Seguro também não se compromete
com nada e consegue ser mais “ligt”. Em contraste com o seu concorrente no
partido, nem uma vez se refere à direita
como inimiga. Lá vem a tal frase filosófico-populista: “O emprego é a chave de todas as oportunidades. E, por isso, tem que
estar no coração de todas as políticas. O emprego é muito mais do que um
salário no final do mês. É uma condição da dignidade e da felicidade humana”.
Nada de mais errado. O emprego nunca pode ser a condição da dignidade e da
felicidade humana e a chave de todas as oportunidades. Quanto muito será o trabalho –que não significa a mesma
coisa que emprego. Mas mesmo em
substituição continuaria falhado. A chave de todas as oportunidades,
dignificação e felicidade humana só pode entroncar no reconhecimento pelo mérito,
que é o que tem falhado continuamente na sociedade portuguesa –admito que a
substituição de “emprego” fosse intencional. Afinal “trabalho” reporta-nos para Marx
e Engels, logo para uma esquerda que, aparentemente, Seguro não quer mostrar
para uma coligação futura.
Este projecto é vago e assenta na
imprevisibilidade como, por exemplo: “A
política de rendimentos é um elemento fundamental para a recuperação da
economia portuguesa. A estabilidade e a confiança dos consumidores, das
famílias e dos investidores criará novas condições para consumir e investir, e
para gerar novos empregos”. E ainda: “Criar
um contexto social e económico mais favorável às famílias e ao aumento da
natalidade; criar condições - estabilidade de emprego, acesso aos serviços e
conciliação da vida pessoal e familiar - para que as mães e os pais se sintam
seguros e protegidos para poderem ter filhos e educá-los com dignidade”.
É tão insensível com o estado económico
e financeiro actual das famílias portuguesas que vai ao ponto de prometer isto:
“Não aumentar a carga fiscal durante a
próxima legislatura. Não efetuar mais cortes nos rendimentos dos trabalhadores
e dos pensionistas”.
Como se o ensino profissional não
fosse uma prioridade para Portugal, continua a teimar no vazio, insiste em que
os jovens devem chegar à idade adulta sem conhecer uma profissão: “Cumprir a escolaridade obrigatória até aos
18 anos e atingir no final da legislatura a meta de 10% para o indicador do
abandono escolar precoce, reduzindo assim este indicador para metade.”
E como não temos capacidade de auto-avaliação
para fundamentais assuntos internos, vamos, mais uma vez, pedir socorro a
instâncias internacionais: “Recorrer à
OCDE para uma reavaliação do sistema educativo, tendo em conta as alterações profunda
verificadas nos últimos anos ao nível dos currículos, do número de alunos por
turma, da degradação das atividades de enriquecimento curricular ou dos
processos de avaliação.”
E À ESQUERDA DO PS NÃO VEM NADA?
Infelizmente os partidos mais à esquerda não querem
ser governo. Vivem e alimentam-se da trica
e do cortar na casaca. São uma espécie de surfistas que montam a onda
consoante o que o mar dá na sua imprevisibilidade. O Partido Comunista (PC) está
para o país como a menina Etelvina, de oitenta anos e virgem, está para a minha
rua. Sempre a dizer mal dos homens, que não prestam, que não valem nada, mas
quando qualquer velhote, por melhor intenção que leve, se aproxima, a Etelvina
repudia-o obsessivamente.
O argumento para não serem governo é que os
portugueses não votam nas suas propostas e não querem mudança. Será que o PC
não deveria ser menos programático e deixar de estar amarrado a velhas teses
marxistas-leninistas e vir ao encontro dos eleitores com propostas mais de
acordo com o momento social? Será que a direcção do partido se questionará de
que o problema pode residir no seu próprio seio, sobretudo, e na falta de comunicação?
Com o Bloco de Esquerda é o que se sabe. Deste
partido político não se espera nada. Ou seja, numa subdivisão de pequenos
partidos, como O Livre, que
progressivamente vai levar à sua fragmentação e desaparecimento, o Bloco
esboroa-se como pedra sujeita à acção do tempo.
E O QUE RESTA?
A esperança para que a Oeste venha algo de
novo, alguém que, sem medo e preto no branco, nos diga que se ganhar as
próximas eleições através dos nossos reputados economistas vai apresentar um
estudo macro-económico aos portugueses para reavaliar a nossa permanência na
Comunidade Europeia e mantermo-nos no Sistema Monetário com o Euro como moeda.
E a seguir convocar um Referendo Nacional para que, depois de devidamente
informados com o agravamento de uma nova moeda de substituição, os portugueses
decidam o que querem para o futuro desta Nação quase milenar e continuadamente
nos mesmos problemas de bancarrota eminente.
O Euro é uma moeda forte que continua a levar
Portugal para o abismo e a beneficiar outros Estados como a Alemanha, é assim
ou não? Com este meio fiduciário de troca, na paridade, o que nos espera e aos
nossos descendentes?
O sistema bancário, com o argumento do
contágio sistémico, deve continuar igual, servindo famílias e banqueiros, e a
ser alavancado pelos contribuintes?
O Tribunal Constitucional, com todo o respeito
que merece, agradando a uns e desagradando a outros, deve continuar nos mesmos
moldes? Enquanto supervisor da aleivosia governamental e última esperança do cidadão, com acórdãos políticos ou não, deve
manter-se igual e insistir em substituir a oposição, reduzindo-a a mera moldura
panegírica da sua acção de conter o Governo na sua sede de cortes nos
rendimentos das famílias, e levar ao seu apagamento institucional e
democrático?
Para poder elevar estas questões ao quadro
nacional, no momento político que atravessamos, vejo apenas um sério candidato,
sem rabos-de-palha, a ter liberdade para o fazer: Marinho e Pinto.
Aguardemos serenamente. Depois decido se voto ou não!
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