Por coincidência o nome desta mulher, enquanto caminhou entre nós, foi o mesmo que a minha mãe também utilizou em vida: Maria Fernandes. Também,
tal como a minha progenitora, trabalhou incansavelmente até morrer. Mas há uma
diferença abissal, a minha mãe morreu de velhice, há cerca de dois anos e com
cerca de 80 anos, e esta outra Maria Fernandes faleceu agora, em New Jersey,
EUA, com apenas 32 anos, intoxicada dentro de um carro porque, pela necessidade
e numa longa correria de azáfama, era uma espécie de serviçal de utilizar e
deitar fora e, com todo respeito, tal como entregador de pizzas. Leia aqui a história desta escrava dos novos tempos.
É preciso parar e pensar que tipo de sociedade
estamos a (des)construir. O trabalho, enquanto meio nobre e legítimo de
rendimento social e pago proporcionalmente ao esforço despendido, está a perder
a dignidade e a entrar no pior do “laissez
faire, laissez passez”. Por outras palavras, enquanto prestadores de
serviços, que somos todos, estamos transformados em prostitutas, desconsiderados,
maltratados, fodidos e mal pagos. Ainda que custe a dar a mão, é melhor voltar
a ler O Capital, de Karl Marx. Quer queiramos ou não, estamos a regredir e a
andar para trás. Como num esclavagismo crescente, estamos a voltar a meados do século XIX, por volta de 1850. É preciso tomar atenção que enquanto anéis de um longo cadeado –porque estamos
encadeados uns nos outros-, mais tarde ou mais cedo, sejamos assalariados ou
independentes, e sem que o possamos evitar –ou podemos?- esta nuvem negra que
varre a Europa -e o mundo- vai entrar nas nossas vidas. Em memória desta Maria Fernandes –pela
recordação da minha mãe- pensemos por um momento para onde caminhamos.
1 comentário:
Veja Olavo de Carvalho
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