(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Segundo o Diário de Coimbra de hoje, segunda-feira, “a Câmara Municipal de
Coimbra (CMC) e a Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC)
estabeleceram um protocolo com vista à criação de pequenas empresas e de mais
emprego, ao desenvolvimento económico da região e, consequentemente, ao aumento
de emprego. O financiamento pelo crédito ao investimento é concedido por
instituições bancárias através de duas linhas de investimento: a “Invest+”,
para investimentos de valor superior a 20 mil euros e até ao máximo de 200 mil
euros, e a “Microinvest” (…). Podem enquadrar este protocolo os munícipes que
estejam inscritos em centros de emprego e/ou formação profissional há 9 meses
ou menos, em caso de desemprego involuntário (…); os jovens entre os 18 e os 35
anos, à procura do primeiro emprego (…); munícipes que nunca tenham exercido
qualquer actividade profissional por conta própria ou de outrem; ou
trabalhadores independentes cujo rendimento anual do último ano seja inferior
ao ordenado mínimo.”
Para entender o que vem a seguir é preciso ler
o anterior devagar e, mais que certo, segunda vez. A seguir, vou apresentar
linhas condutoras para indicar onde quero chegar. Começo logo pelo estado da
economia do País. Estamos a assistir a um maremoto no excedente da oferta e ao
esmagamento contínuo da procura. Basta abrir uma qualquer página de venda de
artigos usados na Internet, basta
percorrer uma qualquer feira de rua, de velharias ou artesanato, para verificar
que estamos rodeados de pessoas que se querem desfazer dos seus bens a qualquer
preço para fazer dinheiro a qualquer custo. Nesta altura, qualquer português é
mercador.
O resultado disto tudo é que,
numa deflação galopante, assistimos a uma desenfreada desvalorização das
coisas que, directamente, afecta todos os detentores. É tão simples como isto:
aquela peça de arte que, a si, lhe custou há meia-dúzia de anos largas centenas
de euros e que ocupa hoje um lugar de destaque na sala principal, hoje,
especulando, não valerá mais do que umas dezenas.
A seguir, em consequência, constata-se que há
excesso de estabelecimentos comerciais em funcionamento para tão pouco
interesse geral de busca na cidade. Quem cá está já há décadas, com experiência
acumulada e consegue aguentar-se, encontra as torneiras do crédito bancário
fechadas. Já escrevi bastante sobre este assunto. Não haverá média mas,
atrevo-me a afirmar que o tempo de resistência de um novo estabelecimento
andará por meses, menos de um ano. O que quer dizer que hoje, sobretudo para os
inexperientes e sem conhecimento de áreas especializadas, estas aventuras têm
redundado em verdadeiras tragédias, aqui na Baixa, para muitas famílias.
Continuando, por outro lado, no concernente aos
proprietários, continua a verificar-se um autêntico festim no triturar, ao sacrificar
sem dó nem piedade, os incautos que vêm de novo com rendas absolutamente
escabrosas –bem sei que estão no seu direito
de pedir o que quiserem, mas tudo acaba aí? Não têm nenhuma obrigação com a
colectividade? Será que estão isentos de contribuírem para o desenvolvimento
social? Só para dar um exemplo, por um estabelecimento na Avenida Navarro, aqui
na área, outrora um stande, está a ser pedida de renda 8 mil euros mensais. É admissível?
Que negócio será possível instalar lá para cobrir esta verba? E aqui tenho de
recorrer ao acto de contrição. Sou liberal de convicção e durante muitos anos
escrevi cobras e lagartos contra o
condicionalismo das rendas. Pois, para meu pesar e colocando a mão no peito,
volto atrás e passo a alinhar ao lado dos comunistas: é preciso refrear e condicionar
este liberalismo feroz. É urgente criar medidas legislativas –um prazo para as
áreas comerciais poderem estar sem funcionar, entre outras, por exemplo- que
obstem de vez este abuso de posição dominante, esta libertinagem e parasitagem.
Depois de tudo isto penso que já dá para ver onde quero
chegar: fará sentido a CMC, conjuntamente com outras entidades, continuar, com
dinheiros do erário público e fundos europeus, a apoiar a abertura de novos
negócios? E sobretudo direccionado para pessoas sem qualquer experiência
profissional? Não dá a impressão que este protocolo, tais como outros, para
além de visar a desgraça alheia, de quem nada tem e procura uma legítima saída
auto-sustentável, tem por objecto unicamente persistir no alimentar da
especulação selvagem dos proprietários de lojas vazias?
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