LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Esta semana deixo o textos "REFLEXÃO: A SOCIEDADE DA OFERTA"; "O FANGAS MAIOR"; "FALECEU O ANTÓNIO ELOI"; e "QUEM ME ENDIREITA?".
REFLEXÃO: A SOCIEDADE DA OFERTA
Segundo o Diário de Coimbra desta última
segunda-feira, “a Câmara Municipal de
Coimbra (CMC) e a Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC)
estabeleceram um protocolo com vista à criação de pequenas empresas e de mais
emprego, ao desenvolvimento económico da região e, consequentemente, ao aumento
de emprego. O financiamento pelo crédito ao investimento é concedido por
instituições bancárias através de duas linhas de investimento: a “Invest+”,
para investimentos de valor superior a 20 mil euros e até ao máximo de 200 mil
euros, e a “Microinvest” (…). Podem enquadrar este protocolo os munícipes que
estejam inscritos em centros de emprego e/ou formação profissional há 9 meses
ou menos, em caso de desemprego involuntário (…); os jovens entre os 18 e os 35
anos, à procura do primeiro emprego (…); munícipes que nunca tenham exercido
qualquer atividade profissional por conta própria ou de outrem; ou
trabalhadores independentes cujo rendimento anual do último ano seja inferior
ao ordenado mínimo.”
Para entender o que vem a seguir é preciso ler
o anterior devagar e, mais que certo, segunda vez. A seguir, vou apresentar
linhas condutoras para indicar onde quero chegar. Começo logo pelo estado da
economia do País. Estamos a assistir a um maremoto no excedente da oferta e ao
esmagamento contínuo da procura. Basta abrir uma qualquer página de venda de
artigos usados na Internet, basta
percorrer uma qualquer feira de rua, de velharias ou artesanato, para verificar
que estamos rodeados de pessoas que se querem desfazer dos seus bens a qualquer
preço para fazer dinheiro a qualquer custo. Nesta altura, qualquer português é
mercador.
O resultado disto tudo é que,
numa deflação galopante, assistimos a uma desenfreada desvalorização das coisas
que, diretamente, afeta todos os detentores. É tão simples como isto: aquela
peça de arte que, a si, lhe custou há meia-dúzia de anos largas centenas de
euros e que ocupa hoje um lugar de destaque na sala principal, hoje,
especulando, não valerá mais do que umas dezenas.
A seguir, em consequência, constata-se que há
excesso de estabelecimentos comerciais em funcionamento para tão pouco
interesse geral de busca na cidade. Quem cá está já há décadas, com experiência
acumulada e consegue aguentar-se, encontra as torneiras do crédito bancário
fechadas. Já escrevi bastante sobre este assunto. Não haverá média mas,
atrevo-me a afirmar que o tempo de resistência de um novo estabelecimento
andará por meses, menos de um ano. O que quer dizer que hoje, sobretudo para os
inexperientes e sem conhecimento de áreas especializadas, estas aventuras têm
redundado em verdadeiras tragédias, aqui na Baixa, para muitas famílias.
Continuando, por outro lado, no concernente aos
proprietários, continua a verificar-se um autêntico festim no triturar, ao sacrificar
sem dó nem piedade, os incautos que vêm de novo com rendas absolutamente
escabrosas –bem sei que estão no seu direito
de pedir o que quiserem, mas tudo acaba aí? Não têm nenhuma obrigação com a
coletividade? Será que estão isentos de contribuírem para o desenvolvimento
social? Só para dar um exemplo, por um estabelecimento na Avenida Navarro, aqui
na área, outrora um stande, está a ser pedida de renda 8 mil euros mensais. É
admissível? Que negócio será possível instalar lá para cobrir esta verba? E
aqui tenho de recorrer ao ato de contrição. Sou liberal de convicção e durante
muitos anos escrevi cobras e lagartos
contra o condicionalismo das rendas. Pois, para meu pesar e colocando a mão no
peito, volto atrás e passo a alinhar ao lado dos comunistas: é preciso refrear
e condicionar este liberalismo feroz. É urgente criar medidas legislativas –um
prazo para as áreas comerciais poderem estar sem funcionar, entre outras, por
exemplo- que obstem de vez este abuso de posição dominante, esta libertinagem e
parasitagem.
Depois de tudo isto penso que já dá para ver onde
quero chegar: fará sentido a CMC, conjuntamente com outras entidades, continuar,
com dinheiros do erário público e fundos europeus, a apoiar a abertura de novos
negócios? E sobretudo direcionado para pessoas sem qualquer experiência
profissional? Não dá a impressão que este protocolo, tais como outros, para
além de visar a desgraça alheia, de quem nada tem e procura uma legítima saída
autossustentável, tem por objeto unicamente persistir no alimentar da
especulação selvagem dos proprietários de lojas vazias?
O FANGAS MAIOR
Depois de uma inauguração intimista para as
muitas dezenas de amigos, no domingo passado, abriu esta semana o restaurante “Fangas Maior”, a vinte metros do “Fangas Mercearia & Bar”, aberto no
final de 2009, na Rua Fernandes Tomás. A título de curiosidade o nome expresso
nestes dois espetaculares espaços pantagruélicos, já com provas dadas no
primeiro, advém da antiga nomenclatura da popular artéria junto ao Arco de
Almedina. “Rua das Fangas” teria sido
a sua denominação ao longo dos últimos séculos e significava uma ruela
mercantil, junto à muralha, onde a antiga medida de cereais - equivalente a quatro alqueires- seria
comum no uso dos mercadores.
Luísa Lucas, a gerente dos dois
estabelecimentos hoteleiros, é uma mulher cheia de força e de fé. Vamos ouvir
as suas declarações:
“Graças
a Deus que está tudo a correr muito bem! Juntamente com o meu marido Marco Inácio
e com a colaboração de funcionários muito dedicados, nos últimos anos, não
temos tido mãos a medir. Aliás, é exatamente por o “Fangas Mercearia & Bar”
ser insuficiente para tanta procura que apostámos nesta nova área onde, durante
muitos anos, funcionou a associação “Arte à Parte”. Agora, nesta nova grande
sala com capacidade para 50 lugares sentados, já podemos aceitar grupos e servir
ainda melhor todos os nossos clientes. Não tenho medo dos tempos que se
avizinham. É evidente que não coloco de forma alguma as preocupações de lado mas
acredito que com muito esforço, suor e sacrifício, a sorte fará o resto e não
nos abandonará. Vamos em frente. Sei que estou a contribuir para o
desenvolvimento do Centro Histórico!”
FALECEU O ANTÓNIO ELOI
Conheci melhor o António Henriques Lopes Eloi
há cerca de um ano no Rancho das Tricanas de Coimbra. Eu fazia parte da tocata
e o Eloi era dançarino. Pelo pouco que convivi com ele pareceu-me uma pessoa
muito disciplinada, assertiva e respeitadora do próximo. Soube agora que o
António, Bombeiro Sapador de profissão, com apenas 50 anos, partiu para não
mais voltar. Vítima de doença, faleceu na quinta-feira da semana passada. O seu
funeral realizou-se no Sábado seguinte numa manifestação conjunta de dor.
Segundo Celeste Correia, também cantadeira na popular coletividade, “o acompanhamento do féretro foi uma
homenagem sentida pelos colegas, quer do Rancho de Coimbra, quer do Rancho de
São Silvestre, quer dos Bombeiros Voluntários, quer ainda dos Bombeiros
Sapadores, que todos o consideravam. O António era uma pessoa que eu admirava
muito. Era um doce! Ainda há cerca de um mês foi connosco dançar à Afurada,
Porto. Que descanse em paz!
Também na Rua Nova, a artéria onde o Eloi
nasceu, cresceu e viveu parte da sua vida, a sua vizinha Georgina Fernandes
Marques, de lágrima a balouçar, foi deixando escapar: “tal como a sua família de onde provinha, o António foi sempre muito
educado. Era um excecional rapaz. Um bom menino!”
Paulo Alexandre, irmão do falecido, não
conseguindo conter as lágrimas e em soluços de sofrimento, foi-me dizendo: “o meu irmão era um valente! Deixa-me um
vazio enorme no peito. Vai fazer muita falta à sua mulher e aos seus dois
filhos. A vida é muito injusta, bolas! Gostava de aproveitar este meio para
agradecer a todos quantos se juntaram ao funeral e muito particularmente aos
Bombeiros Sapadores pelo apoio prestado na doença do meu irmão e também à
família na hora do seu desaparecimento. Bem-haja!”
Em nome de todos, em representação da Baixa
onde deixa muitas saudades e se posso escrever assim, à sua família os nossos
mais sentidos pêsames. Muito obrigado António por ter sido um embaixador, um
elemento fundamental na prossecução da cultura bairrista da nossa zona histórica.
Que descanse em paz. Até sempre, “Tonito”!
QUEM ME ENDIREITA?
O recado chegou-me breve e sumário: “por favor
escreva no jornal O Despertar sobre
uma placa sinalética que está tombada, há várias semanas, na entrada da Rua da
Gala”. Prometi que iria escrever mas alertei imediatamente que, para os lados
da Câmara Municipal, aparentemente, ninguém lê o mais antigo semanário de
Coimbra. Pelo menos a fazer fé numa tampa de ferro, que se encontra partida na
Rua das Padeiras desde há cerca de um mês, e que já dei notícia, e nesta data
em que escrevo continua a provocar a paciência do comerciante Luís Duarte.
Disse também a quem me pediu para ser o
mensageiro que iria aproveitar para me redimir perante a “Coligação por Coimbra”, anterior executivo municipal. É que há
muitos anos que, no espírito de participação cidadã, utilizo a escrita para
alertar os serviços da edilidade para pequenas anomalias nas ruas do Centro
Histórico que, apesar de minudências, podem causar feridos. No tempo do “ancien regime”, passadas 48 horas,
talvez em média e após a comunicação, eram reparadas. E eu refilava perante a
inoperância da resposta tardia. Agora são precisos dias, mais dias e semanas e
rezar à padroeira para que ninguém se magoe. Desculpa lá ó Barbosa! Como já
tenho cabelos brancos, deveria saber que quem vem a seguir é sempre pior! Sou
crédulo. Tem paciência! Volta que estás absolvido! E já agora, perdoa-me a mim
também!
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