(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
“Conhecia-a
já depois de ter ficado viúvo –ai, tenho tantas saudades da minha mulher! Numa
rotina continuada, todos os Domingos vou à missinha e a seguir passo no
cemitério para lhe levar flores. Não é que pretenda substituir o meu amor que
partiu –ela será sempre insubstituível!- mas um homem sexagenário precisa muito
de uma mulher! Nem é propriamente pelo sexo, nada disso! É o ombro amigo, o
podermos conversar sobre a nossa vida –com a idade tornamo-nos como crianças em
busca de afecto. Passamos a olhar sistematicamente para trás, para o passado, e
a reviver as memórias. Às vezes até me torno chato, tenho consciência disso! De
modo que conheci esta mulher há poucos anos. Gostei dela. No início pareceu-me
uma boa companheira e, embora ela tivesse também a sua casa onde morou com o
falecido marido, fomos viver juntos para a minha pequena quinta. Aos poucos comecei
a verificar a verdadeira natureza dela. Eu não era senhor de falar com ninguém
e muito menos de olhar para uma mulher na rua! Se ela se apercebesse fazia um
banzé que me deixava corado de vergonha! Como é uma excelente dona de casa –repare
que eu andei sempre nos trink’s, sempre muito limpo e asseado!-, fui
desvalorizando o seu mau-feitio e deixei correr. Até que fui enchendo,
enchendo, e não aguentei mais. E separamo-nos! O tempo passava e volta e meia
ela ligava a dizer que me amava e não podia passar sem mim. E, você sabe, um
homem da minha idade torna-se frágil, muito vulnerável, e lá a aceitava outra
vez. E isto repetiu-se várias vezes ao longo dos últimos três anos. E há dias
voltei a mandá-la embora! Ontem, deu-me um baque no peito, um pressentimento. Cheguei
a casa e todo o meu ouro e o da minha falecida tinha desaparecido. Estou
triste! Muito triste! Há mulheres que não valem uma merda! Desculpe vir
desabafar consigo! Não leva a mal, pois não?”
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