Anónimo deixou um novo comentário
na sua mensagem "O CONTINENTE PODE OU NÃO SUBMERGIR A BAIXA?":
Caro Luís Fernandes
Como o Senhor costuma trazer aqui casos bem concretos, também lhe descrevo duas situações que ocorreram comigo. Comprei duas caixas de vinho numa garrafeira da Baixa que, salvo erro, pertence à Sapataria Caravela. O vinho em causa é difícil de encontrar nas grandes superfícies e o funcionário da garrafeira até me fez um bom preço. Satisfação total, portanto.
Noutra situação, saí do meu emprego à hora mais ou menos habitual, quando o comércio da Baixa já está praticamente todo fechado, e vi umas sapatilhas numa sapataria que me interessaram e com o extra de apresentarem um preço atraente. No dia seguinte, fiz um intervalo no meu horário de trabalho e dirigi-me à sapataria. Apontei as sapatilhas e pedi o meu número. Não tinham. Mais: só tinham um par, o exposto na montra, número 39. Notei também que o chão da sapataria, em madeira, rangia. Mas isso até achei pitoresco. Ainda assim, como calcula, não saí nada satisfeito.
A conclusão parece-me portanto simples e, desculpar-me-á, por ser tão “la paliciana”: se os comerciantes da Baixa tiverem produtos que interessem às pessoas, haverá compradores. Se os produtos não interessarem, não haverá clientes. É talvez demasiado simplista, mas é assim. Com ou sem Continente na Auto-Industrial.
E já que falamos em Auto-Industrial, tratando-se de um edifício de tão grande envergadura, há muito tempo a pedir uma remodelação, até vejo com bons olhos o embelezamento que a vinda do Continente necessariamente acarretará. Também verifiquei numa das notícias sobre o assunto que a câmara quer colocar ali uma rotunda. Ora, tudo junto, parece-me uma oportunidade para, pelo menos, tornar mais moderna uma das “entradas” da cidade que apresenta um aspeto claramente antiquado.
Por outro lado, lembro que em volta do Coimbrashopping e do Dolce Vita surgiram lojas. E se elas se vão mantendo é quase como aqueles passaritos que comem da boca dos crocodilos.
Um abraço!
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RESPOSTA DO EDITOR
Em primeiro lugar o meu agradecimento pelo seu
comentário assertivo, objectivo e proactivo. Quando comecei a ler a sua opinião
com o nome de uma sapataria, o meu pensamento começou logo a apertar-se com
receio de que focasse o estabelecimento negativamente. Nunca publico um
comentário onde se expresse o nome de uma casa e que a sua imagem possa sair
prejudicada. Acima de tudo, é no estabelecimento próprio que se deve fazer e,
se não for atendido na reclamação, há instrumentos legais ao alcance de todos.
Felizmente não era o caso, e o amigo até fez o favor de não nomear a loja em
que esteve e não gostou. Fiquei aliviado. Em suma, gostei muito da sua opinião.
É pensada, cuidadosa para não prejudicar ninguém e tem substrato, no sentido de
alertar.
Em segundo lugar, vou escrever o que penso
sobre esta matéria. Ainda não o tinha feito. É assim: não veria nenhum mal
nesta vinda do Continente para a Auto-Industrial se os instrumentos de
força entre os pequenos comerciantes e o gigante do retalho fossem iguais. Não
são! O pequeno comerciante, desde há 15 anos para cá, está entregue à sua
sorte. Não tem dinheiro, não tem crédito para repor o estoque, vive com muita
dificuldade o seu dia-a-dia. Esta é a verdade nua e crua. Tudo estaria bem se
fossem disponibilizados meios para o pequeno comércio se manter. O que tem sido
feito na última década e meia é criar programas de apoio para o comércio que
visam a sua modernização, sobretudo com obras no estabelecimento. Ora isto tem
descambado em tragédias e continua-se na mesma linha. Porque o problema é que
foram distribuídas, primeiro 60% e depois 40%, verbas a fundo perdido mas o
profissional fica preso à entrada inicial e nunca mais descola da dívida. Por
outro lado, o que é que está acontecer? Em vez de se revitalizar a procura financia-se a oferta –que já há muitos anos é
excedente. Os comerciantes, acima de tudo, precisam de sobreviver, os que
tiverem condições, naturalmente –não sou apologista de que deve ser espalhada
uma chuva de dinheiro por todos. Nada disso! Haverá os que são solventes e
outros não. É preciso avaliar caso a caso.
Tenho para mim que, nesta altura, a vinda
desta grande área para a Baixa é destruidora do que resta. Se fosse no
princípio, há cerca de 20 anos, provavelmente teria sido bom. Respeitando todas
as opiniões, para mim, nesta altura em que os pequenos comerciantes se
arrastam, esta vinda vai funcionar como instalar um Jacinto –uma planta de água
doce exterminadora das espécies análogas- num lago onde prolifera a diversidade
natural. Posso estar enganado? Admito que sim e até escrevo: oxalá!
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