domingo, 10 de agosto de 2014

MARINHO E PINTO: O CRISTO E O EVANGELHO





Começo com uma ressalva, conheço Marinho e Pinto há cerca de três anos. Não é um relacionamento de “tu lá tu cá”, mas é uma ligação baseada em algum respeito mútuo. Não foi sempre assim. Até o conhecer pessoalmente, pelos imensos debates que assisti na SIC Notícias, achava-o um indivíduo truculento e radical. Enquanto Bastonário da Ordem dos Advogados, tomava-o como corporativista e, pelas suas posições extremadas que nunca percebi se eram de esquerda ou direita, defensor de cláusulas-barreiras que visavam cercear o livre acesso ao exercício da advocacia. Naturalmente que respeitava as suas posições defendendo legitimamente o que lhe parecia justo. Muitas vezes me identifiquei com algumas tomadas suas. Outras não. E outras, ainda, cheguei a chamar-lhe louco. Cheguei a embirrar com ele. Até que, repetindo, há cerca de três anos tive a possibilidade de estar mais perto e tentar perceber o ser, a alma, que estava dentro da pessoa “Marinho e Pinto”, dos jornais, da rádio e da televisão. E então a surpresa foi total. À minha frente, e a falar comigo, tinha um homem simples, quase inibido, contido na simpatia, algo tímido, muito educado e a fazer lembrar-me, em modelo, um homem da província que, como o relembro, com saudade desapareceu. Para os mais velhos, em paradigma, o provinciano era um migrante na cidade vindo do interior do País. Era a personagem que, mesmo na cidade há muitos anos, continuava a dar os bons dias na rua em que morava; era um homem simples, de voz grossa mas melodiosa e adocicada, e de palavra –a sua promessa não assentava em escritura pública mas no vocábulo proferido. Para tornar mais objectivo este quadro, talvez exceptuando a simpatia, relembremos Adolfo Rocha, mais conhecido como Miguel Torga –enquanto vivo, dezenas de vezes me cruzei com ele junto ao Arco de Almedina mas nunca trocámos uma única palavra.
E agora sim, depois da salvaguarda, vou directo para o que me levou a escrever esta crónica. Como todos sabemos, nas últimas eleições para o Parlamento Europeu (PE), em 25 de Maio, Marinho foi eleito, levando o MPT, Partido da Terra, a ocupar o quarto lugar conquistando mais de 7% da preferência dos eleitores, elegendo por isso dois representantes, e ficando à frente do Bloco de Esquerda (BE) que não foi aquém de 4,5% e, por conseguinte apenas elegeu Marisa Matias, minha conhecida, e nossa conterrânea de Coimbra.
Já depois do seu anúncio como candidato ao PE, em entrevista ao jornal “i”, em Janeiro deste ano e portanto antes de se saber o resultado, Marinho afirmava: é o início de um processo que pode conduzir a outras aventuras. (…) tomar as posições de acordo com as circunstâncias que, a cada altura, melhor defendam os  interesses dos eleitores portugueses (...). Se for eleito, admito sair do Parlamento Europeu se entender que sou mais útil na Assembleia da República ou noutros locais.”
Agora, sete dias depois de tomar posse no PE, Marinho vaticina que vai abandonar Bruxelas para o ano que vem e, tal como afirmara anteriormente, declara que vai candidatar-se às próximas legislativas. Cá no burgo, à esquerda e à direita, agitam-se as águas partidárias, fretam-se os navios de guerra e apontam-se os canhões do descrédito ao “evangelista” que, como um novo Cristo para o povo, significou uma nova esperança redentora para a política portuguesa, abandalhada e descredibilizada. Se assim não fosse como justificar a preferência de milhares de portugueses que o escolheram nas urnas? Não deixa de ser crucial e fundamental o facto de, goste-se ou não do estilo, Marinho e Pinto, nos últimos anos, ter combatido uma série de poderes instalados no País, e não só na magistratura.
À esquerda e à direita –como os Romanos viam em Cristo um perigo para o seu império- estas ideologias, empregando argumentos populistas –os mesmos considerandos que o acusaram aquando da candidatura- apregoam a condenação popular do, aos seus olhos, herege que ousa romper o “status quo”, o situacionismo vigente. A imprensa, que nesta guerra deveria ser isenta e apresentar o “antes e o depois” porque basta um clique para chegar à informação, desonera-se do seu papel de informar, de quarto poder, e cai na desinformação, alinhando ao lado dos interesseiros em manter os seus lugares de sempre, e, tentando confundir a opinião pública, atira para a frente o ordenado de eurodeputado, de cerca de 20 mil euros. Assumindo o papel de juiz e verdugo estes mesmos media impõem que este eurodeputado eleito resigne ao seu salário. Poucos são os jornais que tratam o apontamento com clareza e objectividade. As notícias transmitidas davam a ideia, errónea, de que Marinho iria regressar a Lisboa após 7 dias na Bélgica e que, sem abdicar, continuaria a usufruir do seu ordenado. Ora, a verdade, e só li isto mesmo no Jornal de Negócios –os outros permitiam outra interpretação- é que Pinto vai manter-se no PE a defender os interesses de Portugal e até ao próximo ano.
A questão final é saber se, tal como Cristo, Marinho e Pinto vai ser crucificado na cruz e ficará por aí. Quanto a mim, e mesmo com alguma parcialidade pela amizade que me une, inclino-me que tomemos atenção ao homem e ao seu Evangelho e menos à mensagem contraditória que muitos, não conseguindo afastar o seu interesse pessoal e partidário, nos querem impingir. Estou a ser inocente? Admito! Gosto de Marinho e Pinto… e ponto de exclamação!

1 comentário:

Super-febras disse...

Amigo:

Muito, muito obrigado.
Estar ao lado falando e escrevendo coisas bonitas, batendo-lhes nas costas áqueles que por malabarices se apoderam do senado, é fácil e rentável . Tal "botox" são as associações destes imbecis aos manipuladores que até os faz intumescer.
Só pela coragem demonstrada defendendo a sua Ordem e os injustiçados, concordando ou não, eu e todos, com todas as sua teses, merece o Sr. Doutor Marinho Pinto estatura não ao lado dos actualmente no poder mas sim da nobreza dos homens de duas mui diferentes terras que em Portugal conheci que agarrando a soga conduziam os bois que nos Palheiros de Mira alavam barcos à sirga lavrando o mar e na Ribeira de Frades sulcavam as lamas depositadas pelo Mondego cultivando arrozais, humildemente a um rapazote como eu cumprimentavam retirando a sua boina doridamente suada com o mesmo respeito com que o faziam ao medico da aldeia e ao prior.

Um abraço a descoberto
Álvaro José da Silva Pratas Leitão